Quem está mentindo?
Uma criança de onze anos foi cruelmente assassinada em Cabedelo!
De pronto, ao ler a notícia, vieram-me a mente, os românticos e famosos versos: Oh! que saudades que tenho/ Da aurora da minha vida/Da minha infância querida/ Que os anos não trazem mais!
Quem deles não se lembra?
Qual o boêmio que, alguma vez, não procurou decifrar a palavra saudade? Eu, de mim, plagiando o grande Alcides, defino-a como infelicidade presente, decorrente de uma felicidade passada. Sinto que ela carrega no seu ventre, um pouco de angústia, um pouco de depressão, embora, nesses casos, a “deprê” seja bem-vinda, pois provém de algo bom, ainda que fugidio.
O lamentável fato noticiado revela a banalização da violência, e o comportamento meio anestesiado que, hodiernamente, nos contamina. Revela, ainda, a forma intrigante, que o Estado, impotente ante a capacidade de proporcionar felicidade, ceifa, pela raiz, a saudade futura. Dir-se-ia, são os tentáculos do mero consumidor improdutivo, dando eco aos teóricos anárquicos.Em verdade, o famoso Leviatã transformou-se, além de suas imperfeições históricas, por omissão e comissão, em réles larápio de saudades... Em suma, ao infantil cabedelense negou educação, saúde, lazer; não lhe deixando, sequer, uma simples nesga daquele sentimento tão bem externado pelo poeta Casimiro..
Claro que a saudade precocemente exterminada, não seria dos bons colégios, dos torneios de tênis, do sorvete no shopping, dos filmes aos domingos,nem tampouco, das partidas de Playstation. Seria de um jogo descalço, no campo sem grama; da manga madura colhida no quintal do vizinho; do passeio à canoa, ao lado do velho pescador; do pirão preparado na beira do rio; do pão com manteiga( comido algum dia na casa de alguém). E até mesmo dos odores da maré...
Felicidade é assim, está nas coisas simples, já dizia Jean Guitton.Porém, que pena, não deixaram essa criança ter saudades...
Para completar o quadro dantesco, segundo testemunhas, ela morreu chupando o dedo. Quem sabe, não procurava em seus estertores o último “consolo”?
Como se não bastasse, também revoltante, foi a veiculação do extermínio, embutindo uma espécie de calúnia oficializada:esse menino estava envolvido com traficantes, diziam alguns; praticou “tantos’ assassinatos, vociferavam policiais erísticos e despreparados.
E isso justifica?
Francamente, não creio na veracidade dessas versões. Elas denotam um compáscuo de interesses bilaterais, bem ao agrado de traficantes covardes e de integrantes ineficientes de um sistema pútrido. Não tenho dúvidas: há mentiras pululando.
Ou então, que me perdoem todos, a criança não tinha apenas onze anos!