ISSO TAMBÉM É NATAL
A Pastoral da Imigração da Igreja Católica promoveu a chegada de uma centena de haitianos ao Brasil. Está envidando esforços para colocá-los no mercado de trabalho. Antes que alguém questione se o Brasil tem ou não condições de absorver pessoas vindas de fora convêm lembrar que o Haiti é o mais pobre dos países das Américas. Assolado por vendavais, tornados e, recentemente por um terremoto que deixou mais de um milhão de desabrigados, sofre também com más administrações políticas, como a maioria dos nossos vizinhos.
Convém esclarecer que o Haiti é um pequeno país de uma imensa densidade demográfica. Por metros quadrado, mora quase o dobro de pessoas que no estado de São Paulo. Algo como quinhentas vezes a densidade do Amazonas. Considerando-se sua formação rochosa, não existe espaço no país para produzir alimentos com fartura para toda a população. A ausência de indústrias não estimula o emprego. O mar traz mais comida que a terra. É uma situação de penúria.
A Doutora Zilda Arns, médica catarinense dedicada às causas humanísticas também perdeu a vida no último terremoto do Haiti. Ela que era ligada à Igreja católica, já tivera uma participação no movimento de combate à ditadura militar no Brasil, junto com seu irmão o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, deixou a semente da solidariedade por onde passou.
Os imigrantes haitianos que aqui chegaram estão muito longe de representar o povo do Haiti. O povo de lá é pouco alfabetizado e a maioria mal domina o francês que é a língua oficial. Falam uma língua crioula só inteligível por eles e que não tem escrita. Os que aqui chegaram são alfabetizados, são de fácil sociabilização e se comunicam muito bem, apesar de falarem quase nada em português, ainda.
Por que estou falando tudo isso? Porque é Natal e porque comemoramos a vinda daquele que pregava a igualdade entre todos os povos. Se acreditamos que nada temos a oferecer a estes vizinhos necessitados, lembremos o exemplo de Zilda Arns que também nunca dispôs de recursos financeiros e espalhou o amor por onde passou. Deveríamos cuidar em primeiro lugar dos nossos patrícios, muitos dos quais estão em situação análoga aos haitianos? Talvez. Mas permitamos que o amor natalino tome conta de nós. O amor e solidariedade se multiplicam quando repartidos.
Luiz Lauschner
lauschneram@hotmail.com