IMPUNIDADE
Impunidade
(*) Texto de Aparecido Raimundo de Souza.
Gostaria que alguém de peito e coragem me desse respostas claras e objetivas para algumas indagações que a seguir colocarei na berlinda.
No Rio de Janeiro, uma senhora que atende pelo nome de Márcia Valéria está em coma há seis anos, possivelmente vitimada por erro médico. Segundo reportagens levadas ao ar no programa jornalístico Brasil Urgente, da BAND, em cadeia nacional, no dia 22 de dezembro, pelo ancora Márcio Campos, ela teria sido vítima de uma dosagem excessiva de anestesia.
Tudo aconteceu quando esta senhora foi internada em 2004, para a cesárea do segundo filho, na verdade uma menina, que foi batizada com o nome de Gabriela. Assim que Gabriela nasceu, alguma coisa aconteceu de errado, enquanto o pequeno bebe era levado do centro cirúrgico para o berçário. Desde então, Márcia Valéria, que gozava de plena saúde e lucidez, entrou em coma e sobrevive por conta de tubos de oxigênio em completo estado vegetativo. Pelo que foi passado ao público, por Márcio Campos, a polícia, na época, não fez nada, nenhum delegado mostrou a fuça, ainda que para ostentar um sorriso forçado e a logomarca da polícia Civil.
As respostas que procuro são estas: o que o Conselho Regional de Medicina fez? Qual a atitude tomada pela policia? Em que pé está o inquérito policial? Os possíveis envolvidos no caso chegaram ao menos, ser inquiridos? Em caso afirmativo, aonde? Em que lugar? As perguntas mais importantes (não que as anteriores não tenham o mesmo peso), mas estas, a meu ver, comporiam ou seriam a chave de todo o enigma: cadê o Ministério Público? Por que se quedou inerte e inoperante por todos esses anos?
Visto por outra ótica: se fosse algum famoso, alguém de dinheiro, bem nascido que gozasse de fama, será que essa instituição que tem o dever e a obrigação de fiscalizar a lei teria permanecido tanto tempo de braços cruzados, ou posto de outra forma, teria permanecido calado, em estado de inércia?
É bom lembrar que Márcia Valéria não é famosa, não vem de família abastada, nem goza de privilégios. Ela simplesmente é a mãe de Tiago e de Gabriela e a esposa do pacato e humilde cidadão senhor José. Para o nosso caso, senhor José de tal.
Seu José, por sua vez, exatamente por ser de tal, não é Serra, nem Dirceu, não é Genoíno, tampouco Sarney. Nem ao menos se assemelha a Rainha, ou possui consangüinidade com José Nobre Guimarães ou José Adalberto Vieira da Silva (este último, o inventor da cueca-cofre e que foi preso com 100 mil dólares quando tentava embarcar para o Ceará). Ele simplesmente é seu José de tal. Nada a ver igualmente, com o nosso vice presidente desta república de merda que, neste momento, está internado lutando pela vida.
Abro aqui um parêntese.
Pelo amor de Deus, minha gente, nada contra o ilustre vice presidente, o senhor José de Alencar. Estou solidário a sua dor, a sua peleja ímpar, na luta contra o câncer. Afinal, todos nós, seres humanos, podemos, de uma hora para outra, nos vermos às voltas com esse mal terrível e incurável).
Fecho parêntese.
O que me causa indignação e revolta (e acredito deveria ser igual para todos que sentem aquele negócio como um bichinho microscópico que passeia pelo focinho, conhecida como VERGONHA), é a parafernália destinada a salvar a vida do senhor José de Alencar no hospital Sírio e Libanês, em São Paulo, sem falar no forte esquema de segurança, onde nem mosca ousa entrar, ao contrário da infeliz da Márcia Valeria, que vegeta, inconsciente, seus dias, desenganada e a mercê de um milagre que todos sabemos não se realizará.
O que me causa tristeza, asco, repugnância, agonia e VERGONHA, sobretudo VERGONHA, é ver, não só ver, mas saber, que não existe nenhum filho da puta, que honre os colhões no meio das pernas, que meta os cornos e faça alguma coisa para amenizar a dor, a desgraça, o sofrimento e o infortúnio que se abateram sobre o lar da família de seu José. Seu José de tal, BEM ENTENDIDO.
Diante disto, meus prezados, eu continuo a por em linha de frente, a perscrutar, incansável: até quando continuaremos a presenciar esses descasos? Até quando teremos que conviver com esse desrespeito a vida e ao ser humano? Até quando continuaremos de mãos atadas, feito um bando de palermas, esperando e esperando? Que me responda, por favor, - quem tirou o direito da dona Márcia Valéria de viver - de cuidar de seus filhos, de seu marido, de ter, enfim, a sua vida normal de volta? Porra, cadê o Ministério Público? Alguém, por gentileza, me dá conta da policia? Onde, diabos, se meteu o doutor delegado? Linha paralela, em que buraco se enfiou o Conselho Regional de Medicina, que até hoje, pasmem, seis anos depois, ainda não puniu o responsável ou os supostos envolvidos nessa hediondez? Por certo, meus amigos, se fossem a mamãezinha de um deles, ou a filha, com certeza, o profissional responsável (ou toda a equipe), a estas alturas, já teria sido cassada e presa e a clinica fechada, lacrada e cerrada definitivamente as portas.
Pois bem: vamos lá, bandos de homens sem lei, vocês que tem autoridade, que gozam de poder, que ostentam um endeusamento intocável, que se julgam o tal... Vocês, que podem fazer alguma coisa de útil, que se quiserem rebobinam o tempo; que tem a força para criar avatares com os quais as gerações futuras poderão contar para exercitar dias melhores, me respondam. Como fica o caso da dona Márcia Valeria? Meu e-mail está ai embaixo...
Deixem de ser incompetentes, sacos de batata podre. Deixem de ser ratos de esgoto, vermes peçonhentos. Se mostrem; se mexam se toquem. Procurem ter um pouco de pudor, de VERGONHA, de humanidade. Não deixem que a banalização continue a ter essa força poderosa e rotineiramente destruidora. Ao menos, senhores donos da verdade, para dar uma satisfação a sociedade, a essa galera de sofridos que os paga regiamente e só quer, no fundo, ver alguma coisa em troca. Nem que “essa coisa” seja uma tênue enxurrada de balela misturada a conversa fiada pra boi dormir.
(*) Aparecido Raimundo de Souza, 57 anos, é jornalista.
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