Contra os argumentos irrelevantes
Apelos irrelevantes são muito populares entre crentes religiosos, ocultistas e paranormais. O apelo irrelevante à autoridade pode ser a falácia do chefe cometida por crentes, mas esta raramente ocorre isolada de outras.
O apelo irrelevante à autoridade pode ser definido como a tentativa de dar suporte a uma crença controversa apelando ao fato de que partilhamos a crença com uma pessoa importante como Einstein ou Jesus. A pessoa importante é tida como dando autoridade à crença. Pelo menos, o apelo à autoridade estabelece que estamos em boa companhia. Este apelo é geralmente combinado com evidência suprimida nomeadamente o não mencionar pessoas importantes que defendem a opinião oposta, como Epicuro, Hobbes, Spinoza, Diderot ou Bertrand Russell. Pelo contrário, o apelo irrelevante à autoridade é muitas vezes acompanhado por ataques ad hominem. Tentamos dar suporte contra um contrário notando que pessoas más ou diabólicas compartilham o seu ponto de vista. Por exemplo, notamos que Nietzsche, que enlouqueceu, era um ateu.
O apelo irrelevante à autoridade é muitas vezes um tipo de falácia genética, tentando julgar uma crença pelas suas origens em vez dos argumentos a favor ou contra a crença. Se a crença se originou numa pessoa com autoridade como Jesus ou Einstein, então a crença é sustentada contra um contrário que não provem de uma fonte nobre ou prestigiada. Quer o apelo irrelevante à autoridade e os ataques ad hominem são baseados na noção errônea de que uma idéia é boa se uma pessoa boa acredita nela, e não deve ser acreditada se a pessoa que a defende não é de confiança. Esta noção falaciosa pode por vezes ser exprimida como: não podes confiar na mensagem se não podes confiar no mensageiro.
Um pensador crítico compreende que as pessoas boas por vezes têm crenças falsas e pessoas más têm boas. Pode ser verdade que Nietzsche tenha enlouquecido e que fosse gordo, mas mesmo loucos gordos podem ter bons argumentos. São os argumentos que devem ser avaliados, não a sanidade ou a gordura. Por outro lado, mesmo pessoas magras e sãs podem ter crenças irrazoáveis.
Aos apelos irrelevantes mencionados até agora se junta um outro: o apelo irrelevante à popularidade. Aqui citamos não uma, mas várias autoridades como partilhando um ponto de vista. Um crítico reconhece que uma crença não se torna mais razoável por mais pessoas acreditarem. Mesmo se há uma correlação significativa entre pessoas razoáveis e crenças razoáveis, não se segue que há necessariamente uma relação causal entre os dois. Afirmar que há uma ligação causal entre dois pontos só porque há uma correlação entre eles é cometer outra falácia, a falácia do raciocínio de falsa causa. Se existe uma correlação entre crenças razoáveis e pessoas desejáveis, é altamente provável, bem como desejável, que são as razões para uma crença que os levam a aceitar a crença. Não é muito provável, nem desejável, que o fato de pessoas razoáveis acreditarem em algo torne isso razoável.
A verdade ou falsidade de uma crença deve sustentar-se independentemente de quem aceita ou rejeita a crença. De igual modo, não depende do numero de pessoas que a partilham. Mas devemos examinar o caráter dos argumentos, não o caráter da pessoa que argumenta.
Para os que não vêem o óbvio destas afirmações considerem o fato de em cada período da história haver um grande numero de respeitados, decentes, inteligentes, autoridades que acreditaram em coisas que sabemos hoje serem erros.
Considerem, também, que um número infinito de infalíveis papas não faz 2 + 2 igual a 5 apenas pelo fato de tantas fontes seguras acreditarem nisso. Nem um número infinito de doutorados em psicologia, todos acreditando que o conservadorismo político é uma doença mental, torna isso verdade.
Oponentes teístas muita vezes atacam oponentes ateus completando os seus argumentos irrelevantes fazendo ataques a homens de palha, isto é, atacam pontos que não são realmente defendidos pelos ateus. Os pontos são escolhidos porque parecem próximos dos pontos de vista do oponente e fáceis de refutar.
Por exemplo, afirmei que a crença em Deus é uma ilusão. Nunca afirmei que estar iludido significa ser estúpido, ignorante, não ducado, não inteligente ou iletrado.
Contudo, uma critica afirmava:
Presumo que Mr. Tolkien é intelectualmente pobre. Presumo que podemos dizer que todos os filósofos teístas de Oxford estavam/estão "iludidos". Pobre C.S. Lewis, que se graduou em filosofia em Oxford, ou Father Copleston que se graduou com mérito em Oxford... Oh, e os mais "iludidos" de todos? Hmmm, vejamos, Newton, Leibniz, Pascal, Descartes, ...
Como notei antes, nunca afirmei que estar iludido e ser estúpido era o mesmo ou estavam ligados. Nunca afirmei que os teístas fossem estúpidos. Alguns são, claro, mas os nome referidos são brilhantes. Mas fazendo parecer que tinha defendido que estes brilhantes homens eram estúpidos, tenta fazer-me parecer ridículo. Mas o que ele ataca é um espantalho, não a minha posição.
Notem o apelo do oponente à autoridade. Finalmente, notem como ele subentende que visto não ensinar numa universidade prestigiada como Oxford, não devo ser de confiança. Aparentemente, como ele também não, o argumento dele também é de rejeitar? Isto é um ataque ad hominem, típico de teístas desesperados que não sabem soletrar piedade. (É desesperadamente doloroso resistir à tentação ad hominem e deliciosamente agradável cair nela).
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