Solidão: Dor que não poupa a ninguém
Desde que nascemos estamos destinados a vagar pelas fronteiras da solidão. Não me refiro a essa solidão de estar em local desabitado e ermo, mas à solidão interior, essa insatisfação sentimental e emocional que afeta o nosso coração.
Vendo um pouco a história da arte e as obras de alguns autores importantes das artes plásticas, literatura, música, pintura e teatro, percebi que os autores projetaram sua solidão naquilo que produziam, talvez “até sem se darem conta disso”.
Goethe, um dos mais importantes escritores alemães, parece ter manifestado sua solidão na pele dos personagens Werther e Carlota no romance “ Os Sofrimentos do Jovem Wether”. Goethe narra a história de uma paixão desenfreada do jovem por Carlota, uma senhora casada. Werther não conseguindo realizar seu sonho, deixa levar-se pela agonia e se suicida.
Outra história parecida com a de Goethe é a peça produzida por Shakespeare, o maior escritor Inglês. A peça narra a história de dois jovens apaixonados - Romeu e Julieta - que não podem matar a solidão de seus corações por pertencerem a famílias inimigas. Teriam tais autores tido o desejo de mostrar a inviabilidade de se satisfazer os desejos de nossos corações, embora haja conteúdos para isto? Não sei.
Lembra do Pierrô? Pois bem, esse personagem apresentava como características a ingenuidade e o sentimentalismo. Mesmo ingênuo, a solidão habitava a sala de seu coração. Ele suspirava de paixão por Colombina. Mas havia um problema: o coração da Colombina já pulsava por Arlequim um espertalhão preguiçoso e insolente. Pierrô amava a Colombina que amava Arlequim que não amava ninguém. Resultado: três corações solitários. Pode-se, ainda, observar dramaticidade e agonia projetadas nas pinturas de Velázquez, Caravaggio, Goya. A solidão de seus corações foi pintada, também, ali.
Poetas do Romantismo brasileiro como Casimiro de Abreu, Álvares de Azevedo e Junqueira Freire, apesar de terem mergulhado fundo na valorização dos sentimentos não encontraram lenitivo para a solidão de seus corações. Pelo contrário, tornaram-se mais melancólicos e pessimistas. Nem mesmo a utilização da poesia como forma de extravasar seus dramas existenciais amenizou a solidão de seus corações.
Os poetas barrocos investiram seu esforço e criatividade para tornarem “ amigas” forças inimigas – alegria x tristeza, pureza x pecado, Deus x diabo. Por acaso, a água se une ao óleo?Jesus lhes teria dito - “ As trevas não se unem à luz”.
Renato Russo, considerado o maior compositor do rock brasileiro, apesar de amado e aplaudido por milhões de admiradores, parece não ter encontrado conteúdo suficiente para amenizar a solidão de seu inquieto coração. As letras de suas músicas mostram isto, claramente. Definhou precocemente, aos 36 anos, de forma trágica. Sem se falar em Elvis Presley e tantos outros que tiveram destinos semelhantes.
É! Nosso coração (alma) – parece dispor de um detector de falsos conteúdos – não se deixa enganar por aplausos, racionalismos, fama, riquezas e, sufocado, REAGE. O que ele quer realmente? Bem, não tenho a receita. Fui produzido com a mesma “fôrma” dos outros ”HOMO SAPIENS”, por isso enfrento os mesmos problemas.
Agora mesmo, no momento em que estou escrevendo este texto, uma solidão doída veio a galope e bateu à aporta do meu coração. Com que armas me defenderei? Seguirei o conselho de um humilde pastor de ovelhas, que depois se tornou poeta, rei, estrategista de guerra e, principalmente, servo do “Ego Sum” (EU SOU) . Davi afirmou em um dos seus momentos de tensa inquietação.” Deus é o nosso refúgio e fortaleza socorro bem presente na angústia”.
Marcos Antonio Vasconcelos Rodrigues
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