Gerentes na marca do pênalti

Eu fui gerente de banco por muitos anos. O banco era a Caixa. Se juntar gerência de agência e superintendência, passa dos trinta anos. Hoje eu vejo os gerentes numa luta de interesses: de um lado os colegas lutando por justas melhorias salariais, e de outro, a intransigência dos patrões, que querem ganhar sempre mais. Não importa a que preço.

Os bancos hoje são o segmento que obtém mais lucro. Conseguiram superar os cartéis da droga e do tráfico de armas. É um absurdo. Há dias, conversávamos, uns amigos e eu, sobre a escravatura no Brasil abolida, pelo menos no papel, em 1888, quando um dos presentes falou nos bancários, escravos da ganância dos banqueiros, privados ou oficiais. Sem dúvida, é um fato constrangedor. Eu fui gerente da Caixa em um tempo em que as diretorias privilegiavam os funcionários com bons salários, gratificações, planos especiais de crédito. Tudo isto gerava para nós um ponderável status social.

Depois que veio o neoliberalismo, via FHC, o pessoal perdeu até a nomenclatura: passou de “funcionário” para “empregado”, perdendo qualidade e benefícios. Com o pessoal do Banco do Brasil ocorreu o mesmo. Nunca houve tantas demandas (e vitórias) judiciais como hoje. O trabalho dos aposentados, que construíram toda a história, foi desprezado. O que se tem hoje é abaixo de ações judiciais.

Mas, quero conduzir o assunto para outro patamar: os gerentes de bancos privados. Esses, coitados – e tenho amigos nessas condições – sofrem sob a tortura dos banqueiros. A estabilidade que nós tínhamos, eles não tem. É só não atingir as metas por dois semestres, que estão “na rua”.

Ao banqueiro que só pensa no lucro, não importa se o gerente tem família, sua titulação, seu desempenho anterior. Ele é estupidamente avaliado por números atuais. O empresário brasileiro está sempre com “a corda no pescoço”. O banco, o que faz? Dá mais corda. Com isto o empresário quebra ou torna-se inadimplente. Por conta disto, cai o gerente. O dia-a-dia desses profissionais é uma tortura diuturna e ininterrupta de captar, aplicar, vender títulos, cartões, seguros, etc. Isto sem falar nessa nova arapuca, que é o “empréstimo para aposentados”.

A busca do lucro a qualquer preço converteu-se em um legítimo ”terrorismo tecnológico”. Um conhecido, filho de um amigo, gerente de um banco particular, um rapaz competente, foi demitido pelo banco, por conta das metas. Com dificuldade em arrumar colocação, teve que, com curso superior e pós-graduação, abraçar uma dessas “franquias” para viver dignamente e sustentar a família. Para o tubarão banqueiro, só vale o lucro.

Na zona sul do Estado, um jovem gerente, desesperado ante a ameaça de demissão, suicidou-se. Quem paga essa perda? Outros dados, como dificuldades de mercado crises econômicas, questões cíclicas de cada região, nada disto interessa. Só vale o tilintar das moedas no cofre do usurário patrão.

A queixa dos gerentes, especialmente os privados (embora os oficiais não estejam imunes a essas pressões), está no fato de que eles estão sempre na marca do pênalti e, atrás da bola, um truculento “batedor”, antegozando a execução de sua vítima.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 16/10/2006
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