CENTRO DE DECISÕES
Numa entrevista concedida pelo senhor Ulisses Tapajós, ele declarou que começou sua vida empresarial trabalhando para um empresário local. Na década de 70, no auge do Milagre Brasileiro, o emprego era pleno e profissionais eram disputados por muitas empresas. Mesmo podendo escolher, o engenheiro Ulisses preferiu trabalhar com uma empresa local, porque assim estaria diretamente ligado ao controlador e as decisões seriam mais rápidas.
Muitas vezes vemos executivos exasperados porque precisam decidir rapidamente situações que, por seu volume, fugiriam de sua alçada. A esperada autorização não vem porque o centro nervoso da empresa tem outras prioridades e também porque não está vivendo a pressão exercida sobre seu executivo.
No início da década de 90, quando o governo Collor quis transformar o país da noite para o dia, muitas empresas se quebraram. Ulisses, que recebera incumbência de fechar da maneira menos dolorosa a Multibrás, optou por convocar os trabalhadores, convidá-los a trabalharem mais e ganharem menos. Afora a argumentação e o exemplo pessoal, contou também com outro fator: ele era amazonense isto fez com que seus colaboradores se sentissem no mesmo barco que o conterrâneo.
O choque cultural que o distrito industrial patrocinou no Amazonas pode ser sentido pelo comportamento de muitos que, mesmo dependendo das empresas, não se sentem parte dela porque não a viram crescer, não participaram de sua história. O fato de dependerem de decisões externas, por dirigentes que não conhecem, não ajuda em nada a integrar a relação trabalho/empresa.
Este é um dos motivos pelos quais a chamada Justiça do Trabalho bateu recordes de causas trabalhistas no Amazonas: O chefe sempre era um quase estranho, com sotaque diferente, olhos claros ou puxados. Hoje, graças a muitas medidas inteligentes e a uma outra visão com que o mundo todo encara a relação entre colaboradores e controladores de empresa, este quadro está praticamente revertido.
Hoje, o Amazonas está construindo sua tradição industrial. Os cidadãos da nova geração já entram no mercado com uma mentalidade diferente dos pioneiros. A maioria das decisões numa empresa é tomada com vistas no mercado. Seria muito bem que todas as decisões externas parassem por ai.
Luiz Lauschner – escritor e empresário
lauschneram@hotmail.com