Mais de duas semanas sob os efeitos acachapantes de uma crise de sinusite e tudo que quero agora é pensar nas melhores coisas da vida. Sim; naquelas que, no mais das vezes e lamentavelmente, só tomam a justa relevância quando nos achamos atirados compulsoriamente à cama e à rotina estressante de consultórios médicos e medicamentos. Paramos na marra, interrompendo o vai-vém quase neurótico do dia-a-dia hipnótico malsão cujo efeito é o entorpecimento emocional. Preocupamo-nos, imperceptível, obsessiva e diariamente com horários, contas a pagar, compromissos; com a infinidade enfadonha dos "tenho que", desviados dos tesouros valiosos que nos rodeiam gratuitamente, sem que para isto paguemos nem "tenhamos que" nada!
E este tesouro valioso finalmente sobressaí, encantador, único, dentre tantas outras situações idênticas durante uma crise de sinusite, acompanhada do cortejo quase enlouquecedor de sintomas que, unidos aos efeitos colaterais dos remédios fortes, funciona no contexto de nossas vidas como um pit stop fortuito e talvez que necessário, para revisão e reparo da maquinaria humana. Deus sabe o que faz!
Então, durante estes mais de quinze dias dominada por tonteiras, vertigens, dores de cabeça e fadigas, a par da ansiedade que só consegui domar a contento com o auxílio valioso de afetos encarnados e desencarnados, novamente a situação me fez reparar em volta: minha mãe para lá e para cá, aflita, ajudando em tudo o que podia, nas mil e quinhentas responsabilidades que me cabem cotidianamente e que sempre reputo "intransferíveis". E a compreensão veio, aos poucos, mas oportuna: "Instrasferíveis? Rá! Qual nada! Que piada!" Foi ela quem fez compras para mim. Que me valeu na cozinha, na sucessão infindável de refeições que não podem sofrer solução de continuidade por causa da minha sinusite. Que, junto à jovem mocinha que trabalha empregada em minha casa, limpou e arrumou.
Derrubada no sofá pelas tonteiras implacáveis, minha filhinha de dez anos, a melhor das enfermeirinhas, trazia-me água, frutas e o remédio - muita vez sem que eu lhe pedisse. Prodigalizava-me carinhos, enquanto meu rapazinho mais velho, do jeito dele, fazia por onde também me animar. Fazia palhaçadas e troças por dentro de casa. Eu me esquecia momentaneamente do estado depressivo no qual já ia me baqueando, com tudo parado à força no repertório de minha vida - trabalho profissional, literário, tudo! - e de repente me via rindo das piadas e graças que ele improvisava, vez por outra...
Mamãe e meu marido me acompanhando ao médico e clínicas quantas vezes se fizeram necessárias. A fragilidade emocional vez ou outra se impunha; necessitava de calor humano como um bebê - a meu ver, mais da metade do fator de cura! - e lá estava ela, a mãezinha querida me telefonando para falar de amenidades e levantar o meu moral: "Pare de pensar em doença, sô! Tanta coisa pior! Isto aí não é nada! Uma bobagem, vai passar, você tem que esperar o medicamento fazer efeito! Fica abrigando bobagem na cabeça!"
E a par de tudo ainda levava minha filha ao colégio. Cansadinha, idosa, tadinha! Só não fazia ainda mais porque não podia, não aguentava!
O célebre e indizível amor de mãe, único, presente em nossa vida inteira! Este tesouro incomparável, ainda agora, aos 46 anos, se confirmava e me saltava às vistas e à sensibilidade extenuada pela moléstia exaustiva!
E também o amor puro da filhinha e do filho mais velho! Cada qual no seu estilo de expressar amor para conosco! Numa das idas à clínica, a menininha tinha lágrimas nos olhos. Pôs seu desenho bonito e feito às pressas dentro da bolsa que eu levava: "Quero que fique boa logo, mamãe!" - rodeado de um monte de coraçõezinhos...
Com a licença médica, atenuou-se a preocupação aguda com a rotina profissional. O médico, consciencioso dos inconvenientes do ambiente climatizado, bem como do estado impressivo de fragilidade orgânica que me subjugava, obrigou-me a uma semana de licença em casa. E lá fiquei, reclusa, desviando aos poucos a atenção para os outros infindáveis tesouros que sempre me rodeiam - muita vez tão ignorados, coitados!
Minha varanda florida. O ír e vir das pessoas na rua aprazível e arborizada. Os pássaros delicados e belos voando, velozes; volta e meia entravam cantando na varanda! O céu azul. Um bom banho de sol - e como é abençoado o sol, quando nos achamos assim, convalescentes! A serena aragem fresca da noite; os perfumes eventuais do derredor, o cheiro quente, acolhedor, de algum jantar nas redondezas!
O conforto da nossa casa. As valiosas reflexões: como é bom ter vida e movimento, e a chance diária de mobilizar algo em favor desta vida, de nós mesmos, dos que amamos e do nosso semelhante - algo tão menosprezado na rotina reputada enfadonha, em instantes de grande estresse! A conversa gostosa ao telefone, com a nossa mãe, a tia, ou com o pai! A benção incomensurável da saúde! "Saúde para acabar de criar meus filhos, meu Deus"! - quantas vezes não atormentava a espiritualidade em busca de auxílio na manutenção deste bem precioso!...
Movimento! Liberdade de movimentos! Basta isto, para que possamos criar tanta coisa boa em prol da Vida! Viver! Prazer único! Oportunidade inigualável, que deve ser bem aproveitada, e não desperdiçada com resmungos por pouca coisa, com derrotismo ou negatividades!
A alegria verdadeira está nas coisas simples!
Sim. E nunca isto se realça tanto quanto durante um período forçado de molho na cama!
A sinusite - refleti durante estes dias - é o comprometimento do aparelho respiratório, com todo o cortejo implacável de sintomas. E faz todo o sentido do mundo! Todas aquelas tonteiras; quem sabe a correlação não é exata, um sinal de alerta? Que tal tentar, pelo menos, abandonar esta sensação sufocante de que sou insubstituível? De que não posso parar? Pior: de que se eu paro, tudo vai parar junto comigo?
É hora de parar para respirar, e de montar a minha árvore de Natal! E de meditar em cada uma daquelas luzes belas, cambiantes, multicores refletindo a importância única de cada componente e fator participante da nossa vida!
Dos cheiros, das cores, dos movimentos e mudanças. Daqueles que amamos, daqueles que nos auxiliam; daqueles que podemos auxiliar; daquilo que, diaria e infalivelmente, cada um daqueles que nos rodeiam nos ensinam - mesmo que disso, num primeiro momento, não nos demos conta!
E do valor do calor humano para a saúde de corpo e de alma - acima de tudo o mais!
E este tesouro valioso finalmente sobressaí, encantador, único, dentre tantas outras situações idênticas durante uma crise de sinusite, acompanhada do cortejo quase enlouquecedor de sintomas que, unidos aos efeitos colaterais dos remédios fortes, funciona no contexto de nossas vidas como um pit stop fortuito e talvez que necessário, para revisão e reparo da maquinaria humana. Deus sabe o que faz!
Então, durante estes mais de quinze dias dominada por tonteiras, vertigens, dores de cabeça e fadigas, a par da ansiedade que só consegui domar a contento com o auxílio valioso de afetos encarnados e desencarnados, novamente a situação me fez reparar em volta: minha mãe para lá e para cá, aflita, ajudando em tudo o que podia, nas mil e quinhentas responsabilidades que me cabem cotidianamente e que sempre reputo "intransferíveis". E a compreensão veio, aos poucos, mas oportuna: "Instrasferíveis? Rá! Qual nada! Que piada!" Foi ela quem fez compras para mim. Que me valeu na cozinha, na sucessão infindável de refeições que não podem sofrer solução de continuidade por causa da minha sinusite. Que, junto à jovem mocinha que trabalha empregada em minha casa, limpou e arrumou.
Derrubada no sofá pelas tonteiras implacáveis, minha filhinha de dez anos, a melhor das enfermeirinhas, trazia-me água, frutas e o remédio - muita vez sem que eu lhe pedisse. Prodigalizava-me carinhos, enquanto meu rapazinho mais velho, do jeito dele, fazia por onde também me animar. Fazia palhaçadas e troças por dentro de casa. Eu me esquecia momentaneamente do estado depressivo no qual já ia me baqueando, com tudo parado à força no repertório de minha vida - trabalho profissional, literário, tudo! - e de repente me via rindo das piadas e graças que ele improvisava, vez por outra...
Mamãe e meu marido me acompanhando ao médico e clínicas quantas vezes se fizeram necessárias. A fragilidade emocional vez ou outra se impunha; necessitava de calor humano como um bebê - a meu ver, mais da metade do fator de cura! - e lá estava ela, a mãezinha querida me telefonando para falar de amenidades e levantar o meu moral: "Pare de pensar em doença, sô! Tanta coisa pior! Isto aí não é nada! Uma bobagem, vai passar, você tem que esperar o medicamento fazer efeito! Fica abrigando bobagem na cabeça!"
E a par de tudo ainda levava minha filha ao colégio. Cansadinha, idosa, tadinha! Só não fazia ainda mais porque não podia, não aguentava!
O célebre e indizível amor de mãe, único, presente em nossa vida inteira! Este tesouro incomparável, ainda agora, aos 46 anos, se confirmava e me saltava às vistas e à sensibilidade extenuada pela moléstia exaustiva!
E também o amor puro da filhinha e do filho mais velho! Cada qual no seu estilo de expressar amor para conosco! Numa das idas à clínica, a menininha tinha lágrimas nos olhos. Pôs seu desenho bonito e feito às pressas dentro da bolsa que eu levava: "Quero que fique boa logo, mamãe!" - rodeado de um monte de coraçõezinhos...
Com a licença médica, atenuou-se a preocupação aguda com a rotina profissional. O médico, consciencioso dos inconvenientes do ambiente climatizado, bem como do estado impressivo de fragilidade orgânica que me subjugava, obrigou-me a uma semana de licença em casa. E lá fiquei, reclusa, desviando aos poucos a atenção para os outros infindáveis tesouros que sempre me rodeiam - muita vez tão ignorados, coitados!
Minha varanda florida. O ír e vir das pessoas na rua aprazível e arborizada. Os pássaros delicados e belos voando, velozes; volta e meia entravam cantando na varanda! O céu azul. Um bom banho de sol - e como é abençoado o sol, quando nos achamos assim, convalescentes! A serena aragem fresca da noite; os perfumes eventuais do derredor, o cheiro quente, acolhedor, de algum jantar nas redondezas!
O conforto da nossa casa. As valiosas reflexões: como é bom ter vida e movimento, e a chance diária de mobilizar algo em favor desta vida, de nós mesmos, dos que amamos e do nosso semelhante - algo tão menosprezado na rotina reputada enfadonha, em instantes de grande estresse! A conversa gostosa ao telefone, com a nossa mãe, a tia, ou com o pai! A benção incomensurável da saúde! "Saúde para acabar de criar meus filhos, meu Deus"! - quantas vezes não atormentava a espiritualidade em busca de auxílio na manutenção deste bem precioso!...
Movimento! Liberdade de movimentos! Basta isto, para que possamos criar tanta coisa boa em prol da Vida! Viver! Prazer único! Oportunidade inigualável, que deve ser bem aproveitada, e não desperdiçada com resmungos por pouca coisa, com derrotismo ou negatividades!
A alegria verdadeira está nas coisas simples!
Sim. E nunca isto se realça tanto quanto durante um período forçado de molho na cama!
A sinusite - refleti durante estes dias - é o comprometimento do aparelho respiratório, com todo o cortejo implacável de sintomas. E faz todo o sentido do mundo! Todas aquelas tonteiras; quem sabe a correlação não é exata, um sinal de alerta? Que tal tentar, pelo menos, abandonar esta sensação sufocante de que sou insubstituível? De que não posso parar? Pior: de que se eu paro, tudo vai parar junto comigo?
É hora de parar para respirar, e de montar a minha árvore de Natal! E de meditar em cada uma daquelas luzes belas, cambiantes, multicores refletindo a importância única de cada componente e fator participante da nossa vida!
Dos cheiros, das cores, dos movimentos e mudanças. Daqueles que amamos, daqueles que nos auxiliam; daqueles que podemos auxiliar; daquilo que, diaria e infalivelmente, cada um daqueles que nos rodeiam nos ensinam - mesmo que disso, num primeiro momento, não nos demos conta!
E do valor do calor humano para a saúde de corpo e de alma - acima de tudo o mais!