GESTÃO DE PESSOAS - MÃO DE OBRA E FORÇA DE TRABALHO.

 

O Brasil, embora tendo avançado muito no setor de prestação de serviços, ainda padece, principalmente na construção civil e sua manutenção, da falta de profissionalismo. Contextualizar a lógica da “mão de obra” e da “força de trabalho” não precisa ir muito além do que todos já conhecemos. Quem não passou, em sua casa, seu escritório, etc. por sérios aborrecimentos com a péssima qualidade de serviço prestado por pedreiros, marceneiros, eletricistas, para ficar apenas nestes? Por isto, considerando que a formação e capacitação para o mercado de trabalho são fundamentais, talvez precisemos, grosso modo, diferenciar os conceitos de “mão de obra e força de trabalho”. MÃO DE OBRA supõe a ausência da crítica do que se faz. A “mão faz o que o outro pensa” – conceito ultrapassado, Fordista, mas que ainda nos atormenta diante das improvisações de boa parte de profissionais que entram em determinada profissão “na tora”. No modelo Fordista (ultrapassado), havia uma desvantagem a mais do que hoje: os trabalhadores eram obrigados pelo modelo ditatorial de trabalho; estabelecia-se a perversa compreensão de que “nós pensamos” (os técnicos e cientistas) e vocês executam (os trabalhadores) sem ter participado do processo de “pensar” todas ou algumas das etapas que fossem importantes para o produto final. FORÇA DE TRABALHO supõe um processo integrado em que nem a técnica, nem a visão crítica do processo ficam dissociadas da execução. Não significa que quem executa tenha, necessariamente, que conhecer, de per si, todos os caminhos anteriores de pesquisa e de orientação prática. A força de trabalho, se assim for entendida, tem que ser crítica com foco nos resultados e, principalmente, considerar a segurança dos trabalhadores e dos usuários a que se destinam os serviços executados.

Fica claro que, com as modernas inserções no mercado de novos produtos e serviços, não se pode prescindir de capacitar os trabalhadores. Algumas vezes um profissional vai aplicar, por exemplo, um piso de porcelanato. Ele está acostumado com cerâmica, mas executará aquele serviço, independente do resultado. Não raro, tropeça nos detalhes, na combinação das figuras que geralmente esses pisos trazem, sem contar na estética do nivelamento e de outras configurações do ambiente. Quando uma empresa é quem contrata uma equipe para determinada obra, mesmo assim, modifica pouco a lógica da MÃO DE OBRA que ainda persiste entre nós. Os trabalhadores são jogados em determinado empreendimento para executar aquilo que se supõe seja sua especialidade como o caso da cerâmica. Outros são especialistas em fachadas, outros em acabamento, etc. Contudo, poucas empresas têm o cuidado de capacitá-los para que seus profissionais deixem de apenas serem “mão de obra” que faz sem pensar no antes e no depois do trabalho feito. Há grandes empresas que já trabalham com um nível bom de profissionais, mas são aquelas que ganham licitações para grandes obras públicas ou mesmo privadas. No caso mais comum, como um edifício, uma casa ou assemelhados, não é difícil encontrar serviços labrogeiros que até põem em risco a vida das pessoas. Particularmente passamos por um caso antológico: ao recebermos um apartamento comprado a uma construtora de porte médio fomos surpreendidos com todo tipo de desleixo, vícios de construção, incompetência. O apartamento estava com todas as fases de corrente elétrica invertidas; o escoamento da água dos banheiros não existia; as janelas sem o devido corrimento e desniveladas umas das outras; os disjuntores do quadro de eletricidade não correspondiam à distribuição colocada no mapa, levando a risco de acidente; sobras de cimento presas entre as cerâmicas, etc.

Esta é um pouco da realidade de boa parte dos nossos trabalhadores no exercício das suas profissões. Focamos exemplos da construção civil porque ela está mais perto da maioria dos brasileiros, mas existem outras áreas de mais complexidade em que a qualidade do serviço não foge desse contexto como, por exemplo, a área de saúde. Portanto, lembramos que a época de improvisação já passou, mesmo ainda convivendo com ela em grau menor. A modernidade não pode mais dispor de MÃO DE OBRA, mas de uma FORÇA DE TRABALHO consciente, capacitada, crítica. Os profissionais têm que nos dar garantias de qualidade, seja particularmente (serviço contratado por conta própria), seja na forma de pessoa jurídica. Infelizmente o capitalismo selvagem ainda impera pela ânsia do lucro fácil. Por conta disto, em detrimento da qualidade, utilizam mão de obra (é barata) e materiais mais baratos, até mesmo por entenderem, equivocadamente, que o cliente não entende muito bem daquilo que está comprando, o que é um equívoco. Os clientes de hoje podem não saber as particularidades, mas já  têm noção geral do que pode acontecer de bom ou ruim por conta da boa ou má prestação e execuçãode de serviços.

Finalizando, convido à reflexão: a gente, quando vai morar numa casa ou apartamento novo, vai vendo os maus feitos e reclamando deles à construtora, com base da lei do consumidor. Contudo, se o material mais barato, de pior qualidade, for posto na estrutura do empreendimento, não teremos condições de saber. Então a gente corre o risco de, num país como o nosso, em que o judiciário é lento além da conta, ficar a mercê da sorte ou da morte, no caso de um desabamento.