CRIANÇA É CRIANÇA
CRIANÇA É CRIANÇA
Você pode estar vivendo num arsenal de cenas e sons mecanizados e com produções eletrônicas. As ondas que circulam em torno de nós estão congestionando o ar, essas ondas são as do rádio e da televisão. “As palavras são símbolos poderosos que podem mudar a sua vida. Saiba usar o diálogo interior para reprogramar-se positivamente”. Os valores morais são sempre discutidos e destacados politicamente, mas vamos fazer um levantamento sério e rigoroso, para ficarmos cientes, do que se passa com a educação. As emissoras de rádio e as estações de televisão, mostram ao vivo e em cores, o teatro de operações, onde o principal ator é a criança. Viver nas ruas mendigando não é atributo para um ser pequenino, que muitas vezes influenciado pela família, joga-os as feras, para no final subtrair o arrecadado. A mendicância infantil cresce a passos largos aqui em Fortaleza, as autoridades nada fazem, a não ser que um fato grave de grande repercussão venha à tona pela mídia. “Eduque uma criança antes que um marginal a adote”. Num fim de tarde, ensolarado pelo horário de verão, atravessava a Avenida José Bastos com destino a Avenida Treze de Maio, vislumbrei uma cena triste e dantesca.
Do outro lado, junto a um pequeno canteiro abrigado por uma arvorezinha amiga que servia de abrigo para uma paupérrima família, ali estacionava com intuito de arrecadar alguns trocados para saciar a fome. Uma senhora negra, de feições duras e expressão cansada, e, junto dela, um garotinho de não mais que cinco anos, talvez um filho ou um neto, não sei, e mais duas crianças raquíticas e sofridas pela fome e mau tratos, que a vida proporcionava para elas. Roupas rasgadas, sujas e em volta de um amontoado de lixo, que pessoas inescrupulosas, jogam nas ruas para se desfazerem daquilo que irá proporcionar mal para si, e a outrem. É a educação brasiliana falando mais alto.
Notei que uma das crianças abocanhava um pedaço de pão, como um animal feroz destrói a sua presa. Pensei: será que temos governo? O Estatuto da criança e do adolescente funciona? Os Direitos Humanos continuam inertes? E o mais hilariante é que inúmeras pessoas indo e vindo se mostravam indiferentes, aquelas cenas macabras. Naquele lugar predominava o desprezo, a falta de amor e a caridade humana. Acompanhando à cena com o canto dos olhos, sem diminuir o ritmo dos passos, segui adiante um pouco confuso, sentindo um aperto no peito, por não me julgar capaz de agir e amenizar o sofrimento daquela esquelética família. Será que as famílias que comemoram com tanto amor o dia das crianças presenteando seus filhos com presentes caríssimos, não seriam capazes de dar pelo menos um olhar amigo para aquela ou outras famílias nas mesmas condições. Olhei para trás, resolvi voltar.
Aconcheguei-me, conversei, tentando incutir na cabeça daquela senhora que aquele lugar era prejudicial para ela e suas crianças. Avistei uma mercearia e com alguns trocados comprei alguns alimentos que dariam para saciar a fome naquele dia. Indaguei a uma das crianças: você sabe que existe o dia das crianças? Com olhar melancólico uma delas respondeu: se existe não sei. O que você queria ganhar? Todas responderam ao mesmo tempo: brinquedos, roupas, casa e comida, pois a fome nos consome dia-a-dia. Comuniquei o caso a uma entidade filantrópica que carinhosamente retirou aquela família daquele fétido lugar. Nunca mais vi aquela família. Mas o trabalho voluntário jamais será esquecido. Crianças do meu Estado e do Brasil, induzam aos seus pais a doarem as crianças mais pobres, aqueles brinquedos velhos encostados que vocês não usam mais. Façam como Jesus Cristo que sempre afirmava: “Deixai vir a mim as crianças, pois elas herdarão o reino dos Céus”.
ANTONIO PAIVA RODRIGUES-ESTUDANTE DE JORNALISMO DA FGF/MEMBRO DA ACI/ E ACADÊMICO DA ALOMERCE