INTRUSO
Tato Villanova

Prefácio

 
           Prefaciar o segundo romance publicado de Tato Villanova é uma honra, e não é simples, porque não estou lidando com o óbvio. Começou a escrever muito jovem e teve seu primeiro romance publicado aos dezesseis anos, por uma iniciativa da Escola Técnica Federal do Espírito Santo. Tato Villanova estreou de forma brilhante. AMNÉSIA conta a história de um mundo apocalíptico, pós guerra nuclear que devastou o planeta. Um grupo de cientistas e civis engendra a criação de um supersoldado num laboratório subterrâneo: um militar alterado geneticamente para ser o assassino perfeito. Mas a experiência dá errado e civis e cientistas ficam isolados nesse laboratório, sem mantimentos, sem água e sem luz, e sob a atenção predatória desse assassino brutal que está fora de controle. Antevisão e perspicácia; talento e visão de mundo; a ficção surpreende a realidade.
 
       Tato Villanova continuou a escrever, mas é um homem de muitas paixões, não somente autor, mas alguém que tende a ser completo. Outros tipos de arte o atraíram. Afinal é ainda muito jovem e está longe de possuir uma personalidade plana. Interessou-se pela música. Não de forma simples, já que é letrista, compositor e intérprete, com músicas gravadas por vários artistas. Cursava marketing no Espírito Santo quando decidiu largar a faculdade para dedicar-se à carreira musical. Mudou-se para São Paulo em 2007, levando consigo apenas uma mochila e um violão, mas com talento, sonhos e ideias, vontade de trabalhar e disciplina para ir em frente, nas múltiplas atividades que desenvolve. É escritor, cantor, compositor, designer gráfico e webdesigner; atua também nos setores de marketing e de publicidade.
 
            Contudo, para gáudio dos leitores de ficção, Tato Villanova decidiu publicar INTRUSO seu quarto romance.
           
            Realidade e ficção sempre aparecem mescladas em literatura. Particularmente, não acredito em ficção pura. Tudo aquilo que a mente humana é capaz de imaginar tem chance de um dia vir a ser real. Por mais impossível que uma ideia nos pareça, a mente humana lida com o imaginável e este traz em si a qualidade de provável. Eis que isso combina com a mensagem embutida na advertência: Essa é uma obra de ficção, exceto as partes que não são! Isso é saber jogar com o duplo sentido da linguagem... E por falar em linguagem, cabe ressaltar o domínio e o conhecimento, pouco comum mesmo entre escritores, do bom uso das palavras, do amplo vocabulário, da escolha acurada das possibilidades de expressão, como também do interesse em registrar de forma fiel a linguagem coloquial, evitando eufemismos e circunlóquios que tornariam a leitura enfadonha. Tato Villanova cria uma realidade artificial em que as coisas e os fatos são o que são e ao mesmo tempo são algo diferente. Cria o suspense não gratuito, erige histórias e constrói tramas que obrigam a pensar.
 
            Assim, embora seja possível ler INTRUSO de forma apenas lúdica, como passante desavisado, podem ser feitas outras abordagens assaz interessantes. Tato Villanova constrói suas personagens de ficção com a habilidade de um conhecedor da natureza humana. Desde o início esboça sutilezas de caráter e, sob a aparência de uma narrativa de ação, deixa subjacentes segredos a serem desvendados por um leitor atento. O que leva Alberto, o personagem principal desta narrativa, a envolver-se nos acontecimentos surpreendentes que começam a tomar conta de sua vida e parecem escapar ao seu controle? A mesma motivação que leva um grupo de cientistas a criar um supersoldado?
 
Alberto enfrenta um confronto. Entra em contato um mundo de sonhos, de visões, de avisos premonitórios que ele não entende bem, de experiências estranhas; leva a vida pacata e solitária como zelador de um prédio na rua Caravelas, perto de centro nevrálgico de São Paulo, onde tudo acontece ou onde acontece tudo. Há um paralelo entre o contraste externo e o interno... Poder-se ia afirmar assim é dentro como é fora.
 
            Mencionar o primeiro romance de Tato Villanova não foi gratuidade. Suas obras mantêm entre si elementos em conexão, embora não sejam absolutamente uma série. Quando o homem age deslumbrado por fatores externos, desconectado da verdade interior, pode tornar-se seu próprio algoz. Descobrir como isso acontece é a tarefa do leitor.
 
 
Nilza A. Hoehne Rigo
Academia Campineira de Letras e Artes