Ética de meios e fins!
Analisando as diversas questões com as quais os filósofos que trabalham com a ética se defrontam, não seria incorreto afirmar que a maior destas questões foi posta nos primeiros escritos morais de Aristóteles, para quem a virtude é uma mediania – justa medida, a saber: “Como conciliar duas condições imprescindíveis para que uma ação possa ser valorada em termos éticos: a liberdade do sujeito da ação e a necessidade de princípios, sem os quais nada poderia ser afirmado de correto?”.
Liberdade e Necessidade! Particularidade e Universalidade!
No que se refere à liberdade, só pode ser passível de julgamento, do ponto de vista ético, a ação livre, cujo agente poderia ter escolhido de forma diferente. Por exemplo: uma pessoa que vivesse sob um regime totalitário, no qual a liberdade de expressão estivesse suprimida, não poderia ser eticamente condenada por omitir um fato relevante, cuja omissão lhe poupasse a vida (nem mesmo o imperativo categórico kantiano se oporia a esta afirmação).
Quanto à necessidade, ninguém nega que os eticistas (teóricos da ética) devam lidar com princípios, sem os quais a ética poderia cair num relativismo e numa particularização tal que poderia tornar a sua existência desnecessária. A grande dificuldade é, portanto, defender princípios éticos sem que estes neguem o princípio maior da liberdade.
Na tentativa de resolver o impasse entre a liberdade da ação e a necessidade de princípios, os teóricos desenvolveram diversas abordagens, entre as quais se destaca a distinção, proposta por Max Weber, entre “ética da convicção” e “ética da responsabilidade”. A primeira diz respeito aos critérios que determinam a ação, em um âmbito restrito e privado, a segunda diz respeito ao conjunto de normas que regulamentam a ação na esfera pública. Essa distinção explica porque alguém pode, por exemplo, ser contra o aborto, no que diz respeito às suas convicções, mas ser a favor da legalização do mesmo, dentro de certos critérios, sem ser contraditório.
Atualmente, a “ética da responsabilidade” transformou-se em um dos pilares do campo empresarial, no qual é considerado competente o profissional capaz de avaliar cada ação exercida sob o ponto de vista de como ela influencia o desenvolvimento e a realização das metas pretendidas pela empresa. A responsabilidade remete ao comprometimento, ou seja, um compromisso com o agir profissional e com tudo o que ele pode representar para a organização empresarial e também para a sociedade. Os meios são tão importantes quanto os fins. O princípio fundamental pretendido pela ética na sociedade deve ser a justiça. Esta, por sua vez, é marcada, principalmente, pela garantia dos direitos humanos fundamentais em todos os seus âmbitos: familiar, educacional, político, religioso, empresarial e social. Os grandes empreendedores, nos dias atuais, não devem apenas divulgar os seus lucros, mas devem demonstrar que a sua preocupação com o lucro não está acima do bem comum. Este é, no contexto empresarial, o limite entre a liberdade e a necessidade!
Sugestões de leitura:
ARISTÓTELES, Ética à Nicômano.
KANT, I. Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
SINGER, P. Ética prática.
WEBER, M. Ciência e Política. Duas Vocações.