ESCOLA, TAMBÉM, VIOLENTADA*

O bangue-bangue entre policiais e traficantes, sobretudo nos morros da linda Cidade Maravilhosa, mas também em todas as cidades brasileiras, vem impossibilitando a vida normal da Escola, enquanto instituição.

É a violência urbana que se instala e se generaliza. Historicamente acometida de câncer, em suas vísceras, a Educação é agora esbofeteada na cara e chicoteada no limbo do corpo. Mas o problema não é apenas no Rio, como frisei; aloja-se lá e cá, em Fortaleza, como em toda parte.

Pois crianças escolares, resguardadas pelo aconchego de suas salas de aula, agora, ao lado de indefesas e abnegadas professoras, segundo se noticia na imprensa, têm sido costumeiramente molestadas, baleadas ou – absurdo dos absurdos! – assassinadas, quando procuram colher o usufruto da tão necessária, suada e almejada instrução pública.

Num contexto sofrido e miserável do Terceiro Mundo, hoje dito pedantemente de país emergente, mas que, de fato, martela na bigorna da insistência as excelsas pretensões de “pais em desenvolvimento”, o Brasil queda-se impotente, a exemplo de inúmeras partes do mundo, em frear a onda avassaladora de sua problemática social e de marginalismo abundante e multidimensional. A situação torna-se tanto mais vexatória quanto não se aventam possibilidades reais de ação eficaz para inibir e banir de vez o crime organizado.

Enquanto a poderosa Rede Globo se esgoela e se esforça deliberadamente para, no Rio, pôr a culpa nas duas administrações estaduais do íntegro ex-governador Leonel Brizola, inventando e/ou apontando falhas ou desmandos que não são provados, o carioca comum, assim como o fortalezense comum, que trabalham e pagam impostos altíssimos, estupefatos, todos assistem ao mais avassalador momento de toda sorte de crimes.

São violações à privacidade, assaltos individuais e a condomínios, arrastões públicos à luz do dia, falsas barreiras no trânsito, estupros e assassinatos e, sobretudo, a indústria dos sequestros, bem sucedidos ou não para as vítimas, seguidos ou não de mortes. E as leis, com a mão de pelúcia, só ajudam os chicaneiros de primeira hora, que engordam pecúnias espúrias.

Ressalte-se que o Rio de Janeiro, com toda aquela maravilha da natureza, é tomado por bode expiatório, não obstante, também, hoje em dia, todos os outros grandes e médios centros urbanos sejam o apanágio da marginalidade em ascensão. Fazer o quê, diante do marasmo dos Três Poderes, que veem de camarote o desfilar marcial da marginalidade?

No Ceará, em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, em todos os territórios do País, possível que até na paradisíaca ilha de Fernando de Noronha, onde houver ajuntamentos humanos, vilarejos, rodovias, comércio e agências bancárias, aí viceja e campeia a violência, sob a mira de armas de fogo.

E a Escola, também, sem piedade, meio ao fogo cruzado, vai sendo violentada. Hoje, no seu bojo, infestado de predadores, aqui e ali, é onde começam as lições de devastação, haja vista a prática burra e injustificável das pichações. Ironicamente, no meio das más – péssimas – condições de trabalho, o professor é o ‘clown’ que vive no epicentro dos perigos.

Julho de 1994.

Fort., 25/10/2010.

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(*) Quis resgatar este artigo, publicado no jornal

“O Povo”, de Fortaleza, pela sua atualidade. Ex-

ceção à referência que faço aos governos de Le-

onel Brizola, no Rio, tudo aqui, ainda hoje, está

na ordem do dia, e com maior ênfase.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 26/10/2010
Reeditado em 26/10/2010
Código do texto: T2579393
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