ASSIM, NÃO DÁ 2

A ordem oculta, digamos assim, presente nos possíveis debates no decorrer deste segundo turno da disputa presidencial, parece, infelizmente, conter um só objetivo: o poder. Portanto, nada melhor do que o leviano ardil leninista: “acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é”.

Lula e Geraldo Alckmin estão sob tratamento “marqueteirótico” intensivo. O petista, parece ainda não ter aprendido a lição, é o mais assanhado: “vou resolver essa eleição no domingo” – referindo-se, claro, ao primeiro debate televisivo.

De um lado (PT), está João Santana – marqueteiro de sua campanha – que insiste na estratégia de focar os dois governos de Fernando Henrique Cardoso e disparar análises comparativas entre o trabalho tucano e a gestão lulo-petista (até parece que a grande maioria do povo brasileiro vota em programas partidários, ideologias e em virtude de administrações personalizadas). O fato é que são “macaqueadas” respostas para todas as áreas, para quaisquer situações. O importante é impressionar o eleitor. No terreno ético, a dica é sair pela tangente e bater na tecla maliciosa de que, no PT, ninguém esconde os deslizes, doa a quem doer.

Do outro, Luiz Gonzáles – marqueteiro tucano – talha Alckmin para os movimentos cênicos. Numa postura de advogado do diabo, treina o candidato o fuzilando com possíveis perguntas embaraçosas. O principal trunfo de Geraldo Alckmin, como sabemos, é a imagem de “sujeito imaculado”, nunca se enlameou e não permitiu, como o PT, se cercar de auxiliares tão canalhas no trato com a coisa pública. Quatro perguntinhas estarão sempre presentes em qualquer debate: de onde veio toda aquela dinheirama do “dossiegate”, quem são os titulares das contas bancárias, como os dólares entraram no país, por que os envolvidos eram ligados tanto ao comitê eleitoral de Lula, como ao próprio presidente?

Além das qualidades morais (isso mesmo), além da competência intelectual, além da sabedoria, além da própria história, um candidato à altura de nosso povo, antenado com os grandes desafios destes tempos, irrefragavelmente, há de mostrar uma nova concepção de Estado. Acima de tudo, terá de nos provar um novo entendimento do Estado como instrumento de políticas sociais. Não podemos mais aceitar essa nefasta ausência de perspectivas maquiada, é óbvio, por truques retóricos, por lampejos marqueteiros ou por “programecos” de quinta categoria. Enfim, esperamos planos de metas definidos, deveras consistentes, exeqüíveis, que os compromissos sejam, de fato, sérios, factíveis, éticos e inteligentes. Tudo, sem dúvida, respeitando nossas peculiaridades e os variados segmentos de nossa sociedade.