Porque não anulei meu voto
Eu queria mesmo era votar nulo, afinal essa era a melhor forma de mostrar o quanto me decepcionei com a política de nosso país. Mas como não pude ficar indiferente ao quadro que se formou na semana que antecedeu à eleição, me senti na obrigação de ajudar a “forçar” um segundo turno. E como eu teria que votar para presidente, embora considerasse, e ainda considero, que nenhum dos candidatos mereciam meu voto, votei também para os demais cargos: deputado estadual, deputado federal, senador e governador. Mas confesso que, por mais pesquisas que eu tenha feito a respeito dos candidatos que selecionei, ainda me sinto uma verdadeira idiota. Afinal, parece-me uma imbecilidade votar nos “menos ruins”. Além disso, os maiores partidos de nosso país, PSDB, PMDB e PT, já estiveram no poder e tiveram, portanto, a chance de mostrar o quanto são demagogos e hipócritas, pois todos, sem exceção, decepcionaram o povo.
E, por favor, não me venha você defendendo algum partido, a não ser que você se sinta capaz de ser completamente imparcial para fazê-lo, o que isso é muito raro no povo brasileiro. É incrível como apesar de tantas decepções ainda tenha tanta gente defendendo fanaticamente um candidato ou partido. Acho que essas pessoas já esqueceram que os que atualmente pousam de “cordeirinhos”, que condenam a “lama da corrupção”, são, na verdade, os mesmos que compraram deputados para aprovar uma emenda para viabilizar a reeleição no final de 1997, são também aqueles que privatizaram tudo e ninguém sabe onde foi parar o dinheiro. Mas isso não é novidade, não é mesmo? Sabemos que o brasileiro tem memória curta e alguns já devem ter esquecido em quem votaram para deputado no último dia 01/10. E uma prova de que isso é verdade é que os eleitores não perdoaram os envolvidos no último escândalo (sanguessugas) mas votaram em velhas raposas como Maluf (deputado mais votado do país, em números absolutos, com 739.827 votos) e Fernando Collor de Melo. Ah, não podemos esquecer também que o terceiro deputado federal mais votado no estado de São Paulo (com quase meio milhão de votos) foi o estilista Clodovil Hernandez (PTC), que afirmou nesta segunda-feira que não sabe que projeto vai apresentar em Brasília. Ele só sabe como vai assumir o cargo. “Evidentemente vou chegar chiquérrimo em Brasília. Mas não sei o que apresentar. Não sei nem se tem política neste país”. Clodovil que, como candidato, prometeu renovar, admite agora, como deputado eleito, que aceitaria dinheiro para votar a favor do governo; só depende da quantia. Questionado sobre o mensalão, reconhece: "R$ 30 mil é tão pouco... Se ainda fossem uns US$ 30 milhões... Por R$ 30 mil vender um país, você está louco. Cada um pesa o dinheiro na sua balança. E a minha precisa de muito". (Leia a entrevista do Portal G1.com.br)
Para finalizar. É por isso tudo que eu queria votar nulo, afinal essa era a melhor forma de mostrar o quanto me irrita participar deste grande picadeiro que se tornou as eleições em nosso país, onde o verdadeiro palhaço é o eleitor! Sim, o verdadeiro palhaço é o eleitor, pois é ele que sai debaixo de chuva ou de sol para votar em alguém que não lembrará depois.
[Texto originalmente publicado no blog http://palavreando.zip.net]