BELEZA PLÁSTICA ? (para refletir um pouco)

É cada vez mais nítida a paranóia coletiva em torno de um fato social que chamarei de "fascismo estético". Como sabemos, fascismo é um termo que designa uma ditadura ou regime de cunho totalitário, que existiu no século XX, referente a uma ideologia política de intolerância e de imposição de vários conceitos questionáveis, cujo desenrolar esteve relacionado com o próprio estopim da 2ª Guerra Mundial (1939 - 1945).

Em pleno século XXI, esse regime totalitário chamado fascismo deslocou-se do âmbito político para o âmbito estético. Em palavras mais simples, vê-se atualmente uma certa "ditadura" de padrões amplamente divulgados pelos meios de comunicação em massa, incutindo em milhões de pessoas a ideia proposital de que sempre falta "algo" para se sentirem mais "belas", mais "atraentes" ou mais "interessantes".

Vamos pensar em termos bem práticos: quantos bilhões a indústria da "beleza" perderia se todas as pessoas já se sentissem suficientemente bem com a própria aparência ? Perceba que toda essa "beleza" plástica e artificial difundida pela mídia é, no fundo, um ótimo mecanismo comercial. A falta de autoestima cria a sensação de que é necessário consumir para tornar-se "mais belo(a)" e mais "adequado(a)" a padrões estéticos previamente estabelecidos. Se não fosse assim, muitos estereótipos jamais atingiriam psicologicamente o grande público. E tal fato acontece, algumas vezes, de modo subliminar, uma vez que passamos por essa "lavagem cerebral estética" desde a infância.

Outra estratégia comercial bastante utilizada é o mecanismo da comparação. Vejamos, por exemplo, o caso das propagandas de cosméticos, sempre com modelos "belíssimas" (muitas vezes com plásticas em várias partes do rosto e do corpo, com botox, silicionadas, super bem maquiadas etc), causando a impressão de que a venda de determinado produto irá tornar alguém mais bonito ou esteticamente "agradável". Em outras palavras, a publicidade induz no consumidor a tendência de se comparar com a(o) modelo do anúncio. E o mais interessante é que poucas pessoas se perguntam: "mas por que eu precisaria parecer com a modelo da propaganda?". Não existem várias formas de ser bonito(a) ou apenas aquela da propaganda ou da mídia ? Veja que essa estratégia de marketing vai diretamente no ponto fraco da maioria dos consumidores: a falta de autoestima, por um motivo ou por outro.

E, pensando friamente, chega a ser covardia o fato de se comparar uma pessoa comum, sem muitos recursos, com outra pessoa que já fez várias cirurgias plásticas, aplicações de botox, entre outros tratamentos estéticos caros, com ótima maquiagem e, ainda, com melhorias oferecidas por programas de computador, como o "photoshop".

Dessas observações vem a seguinte pergunta: por que teríamos que seguir esses padrões obsessivos de estética se sabemos que eles são artificiais e, na maioria das vezes, falsos ? Por que não tentamos resgatar a beleza natural de TODO ser humano, e não apenas exaltar, como macaquinhos adestrados, a beleza plastificada e efêmera de certas "celebridades" vazias ?

É apenas uma questão de observar os fatos cotidianos, amigos. Vemos nitidamente o fascismo estético estampado em propagandas televisivas, em meios de comunicação, em outdoors nas ruas, em centros comerciais, como verdadeira lavagem cerebral, que induz ao consumo desenfreado por uma "beleza" plástica e efêmera, vazia e propositadamente INATINGÍVEL (pois, se a atingíssemos, que estímulo teríamos para consumir mais e mais ?).

Cheguei uma vez a ler uma notícia sobre uma mulher que foi Miss Rio Grande do Sul, e lá dizia que tal pessoa havia realizado 10 cirurgias plásticas (pesquisem no google, se tiverem curiosidade). Aí pensei, rindo: convenhamos, com 10 (ou mais) cirurgias plásticas, quem não seria Miss Qualquer - Coisa ? Como bem asseverou a escritora norte-americana Naomi Wolf, em seu livro "O mito da Beleza", ficamos submetidos a uma espécie de lavagem cerebral direcionada a questões estritamente estéticas, o que desvia nossa atenção de temas mais importantes e enfraquece nossos posicionamentos políticos, sociais e, sobretudo, humanitários.

Vejamos, portanto, que toda essa loucura de "beleza plástica" é um desperdício de vida e um desrespeito ao ser humano, que obviamente não é objeto, para ser plastificado ou recauchutado, como se houvesse uma fábrica "montadora" de corpos perfeitos ou de pessoas perfeitas. Ninguém é perfeito, amigos, quanto mais vislumbrarmos com naturalidade esse fato, menor será a probabilidade de nos iludirmos com falsas ideologias.

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