A LEI SECA
Passados mais de dois anos da edição da lei seca, cabe fazer uma análise. A Lei, a mais rigorosa do mundo não muçulmano, foi alardeada como a solução para os acidentes de trânsito. Recebeu a adesão da imprensa que, sem muito questionar alguns dados óbvios, entrou no corredor comum e deu destaque que somente a lei do congelamento de preços do Sarney recebeu há mais de vinte anos
Num passe de mágica, o álcool que até então era responsável por 10% dos acidentes de trânsito passou a ser o único vilão. A imprensa aceitou isso e fez pior ao mostrar acidentes provocados por motoristas dominados pelo álcool (em português claro: bêbados de não conseguirem se manter em pé)como se a lei de tolerância zero fizesse alguma diferença num caso desses. Qualquer pessoa sob o domínio do álcool não deve dirigir nem carrinho de mão, muito menos veículo com passageiro.
Na garupa da propaganda antiálcool, os bafômetros eram comercializados a peso de ouro e policiais corruptos ficavam próximos aos bares para extorquir motoristas que haviam bebido alguns chopes antes mesmo de estes entrarem no carro.
O presidente executivo da Associação de Bares e Restaurantes (Abrasel), Paulo Solmucci jr. em seu recente artigo no site da entidade cita um número estarrecedor: Os acidentes nas rodovias federais vitimaram 7.383 pessoas no ano de 2009. Em 2010 continua crescendo. O Pior de tudo é que, para esconder o fracasso da lei, a estatística deve ser garimpada por nem o governo nem a imprensa a divulga. O número deve ser maior, porque aqueles que morrem em hospitais em conseqüência dos acidentes não estão computados.
Por uma série de artigos que escrevi condenando a forma como se atacava a situação, muitos me disseram: “Se você tivesse alguém da família atropelada por bêbado ao volante, mudaria de idéia.” Para esses eu respondo que minha mãe ficou permanente mutilada por um motorista bêbado enquanto ela, com as amigas, cantava alegremente dentro do ônibus jogado num precipício por um motorista incapaz de conduzir suas próprias pernas.
Por este histórico, poderia estar engrossando as filas dos que exigem cada vez mais rigor. Porém, assim como o presidente da Abrasel também peço bom-senso. As vítimas por intoxicação alimentar não são menos que as das rodovias federais. A Abrasel está fazendo um trabalho hercúleo no treinamento, conscientização na manipulação dos alimentos e, ótimo resultado, nesta área o número de vítimas vem caindo a cada ano. Um exemplo a ser seguido.
Luiz Lauschner - Escritor e Empresário
lauschneram@hotmail.com