SOBREVIVI AO BULLYING.
Desde que o jornalista e apresentador do programa Altas Horas, da Rede Globo, Serginho Groisman passou a promover discussões sobre o “Bullying”, o tema ganhou espaço na mídia e no dia a dia de todos nós.
Finalmente, a violência física e psicológica praticada por uma pessoa ou um grupo com a intenção de intimidar ou agredir um indivíduo ganhou um nome: Bullying. Situações que podem acontecer em qualquer contexto no qual seres humanos interajam, tais como: escolas, universidades, famílias, entre vizinhos e em locais de trabalho.
Antes deste nome, essa prática de humilhar, excluir, discriminar, dar apelidos ofensivos e espalhar mentiras - que acontecia muito em escolas e que, atualmente, também migrou para o campo virtual - era só inaceitável. Hoje é crime.
Na legislação, os atos de bullying configuram como atos ilícitos, não porque não estão autorizados pelo nosso ordenamento jurídico, mas por desrespeitarem princípios constitucionais (ex: dignidade da pessoa humana) e o Código Civil, que determina que todo ato ilícito que cause dano a outrem gera o dever de indenizar. A responsabilidade pela prática de atos de bullying pode se enquadrar também no Código de Defesa do Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que ocorram nesse contexto.
Mas o que mudou nesta história?
Tudo!
Isto me fez lembrar o versículo 32 do capítulo 5 do livro de João “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. Claro que não no contexto espiritual a que se refere, mas fazendo um paralelo de sua profundidade colocada na nossa vida.
A partir do momento que passamos a falar abertamente sobre o bullying muitas pessoas se libertaram da prisão que ele causa. Sou um exemplo disso.
Não sei você, mas, eu nem sabia que era crime, aliás, nem comentava sobre isso. Depois que o assunto veio à tona pude identificar que sofri meu primeiro bullying entre os 6 e 7 anos de idade.
Na época, minha mãe estava grávida do meu irmão caçula e teve várias complicações por causa da pressão. Isso há 42 anos atrás. Morávamos em Santo André, ao lado da casa de uma enfermeira, amiga da minha mãe. Só me lembro do quintal dela, com muitas árvores e um banheiro - ou privada como era conhecido -, feito de madeira, com brechas entre as tábuas e um buraco no chão por onde se via a fossa lá embaixo.
Durante os nove meses de gravidez da minha mãe eu passava eternidades dentro daquele banheiro sendo ameaçada pelas crianças da vizinha de ser jogada naquela fossa. Era um circulo vicioso porque eu tinha medo de contar, e se não contava tinha que acompanhar minha mãe. Dei graças a Deus quando o menino nasceu. E passei o resto da vida com medo de altura, de buracos, de lugares fechados, de aglomerações.
Apenas uma vez, antes desta, falei sobre o ocorrido. Foi para meu marido, quando eu já tinha mais de 30 anos, e em segredo. Aquela imagem estava escondida em algum lugar da minha memória.
Na escola sofri outro tipo de bullying que também marcou minha personalidade: o medo de se destacar/chamar a atenção.
Na minha sala havia um grupo de repetentes, mais velhos e maiores que os demais, que controlova toda a classe. Quem fizesse perguntas na sala de aula ou demonstrasse mais conhecimento que eles apanhava na saída. Todo dia tinha briga em frente ao portão de saída da escola, sem que nenhum adulto fizesse nada.
Nenhum aluno contava das ameaças ou agressões que sofria nos banheiros e no pátio, muito menos eu. Uma vez tive que fingir estar doente para ser levada pra casa para não apanhar por ter tirado um 10 na prova. Por um bom tempo tive que mudar meu trajeto a caminho de casa e acabei diminuindo meu desempenho escolar para sair da linha de ataque. Durante muitos anos me escondi para não aparecer.
Parece estranho, mas bastava ser notada/elogiada para desistir, seja lá do que fosse. Falar em público? Ser lida? Céus!
Com o tempo, desaprendi a falar e a escrever. Até que uma amiga - pscicóloga, é claro -, me incentivou a fazer um blog. Ela disse: "Escreva boba, ninguém vai te ver atrás da tela. Escreva pra você e por você."
E, vejam só, tem dado resultado, pois já estou publicando no Recanto. Inacreditável!
Se eu fosse dar um nome para o bullying seria Chantagem. Apesar de não envolver dinheiro, ele sequestra sua vida. Você se torna refém de si mesmo. Se culpa por sentir medo, por não ter coragem de enfrentar. Acha que silenciar e se anular é uma defesa, mas se vê como covarde. Vive uma tortura externa e interna.
Poder contar é uma libertação. Esse é o grande ganho dessa nova geração. Agora é só mudar a rota do destino.
TIPOS DE BULLYING:
• Insultar a vítima; acusar sistematicamente a vítima de não servir para nada.
• Ataques físicos repetidos contra uma pessoa, seja contra o corpo dela ou propriedade.
• Interferir com a propriedade pessoal de uma pessoa, livros ou material escolar, roupas, etc, danificando-os
• Espalhar rumores negativos sobre a vítima.
• Depreciar a vítima sem qualquer motivo.
• Fazer com que a vítima faça o que ela não quer, ameaçando a vítima para seguir as ordens.
• Colocar a vítima em situação problemática com alguém (geralmente, uma autoridade), ou conseguir uma ação disciplinar contra a vítima, por algo que ela não cometeu ou que foi exagerado pelo bully.
• Fazer comentários depreciativos sobre a família de uma pessoa (particularmente a mãe), sobre o local de moradia de alguém, aparência pessoal, orientação sexual, religião, etnia, nível de renda, nacionalidade ou qualquer outra inferioridade depreendida da qual o bully tenha tomado ciência.
• Isolamento social da vítima.
• Usar as tecnologias de informação para praticar o cyberbullying (criar páginas falsas sobre a vítima em sites de relacionamento, de publicação de fotos etc).
• Chantagem.
• Expressões ameaçadoras.
• Grafitagem depreciativa.
• Usar de sarcasmo evidente para se passar por amigo (para alguém de fora) enquanto assegura o controle e a posição em relação à vítima (isto ocorre com frequência logo após o bully avaliar que a pessoa é uma "vítima perfeita").
• Fazer que a vitima passe vergonha na frente de varias pessoas