A Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNSP), localizada no Rio de Janeiro, foi criada pelo Decreto 15799 de 1922 e inaugurada em 19 de fevereiro de 1923.

A graduação das Enfermeiras do DNSP em 1923 era então de dois anos e quatro meses, com regime de internato: para o ingresso na Escola as mulheres candidatas obrigatoriamente deveriam ter idade entre 20 e 35 anos, precisavam apresentar atestado médico de boa saúde e atestado de bom comportamento, carta de referência, experiência em serviços domésticos, serviços educacionais ou serviços no comércio, além de diploma de normalista ou curso secundário equivalente. As candidatas que não comprovassem a exigência do diploma, submetiam-se a provas de português, aritmética e redação. Inicialmente, aquele internato funcionou anexa ao Hospital Geral da Assistência do DNSP (hoje, Hospital São Francisco de Assis) e em 1926 mudou-se para a avenida Rui Barbosa.


No início, o curso de Enfermeiras do DNSP nos seus quatro primeiros meses de ingresso no curso dava-se o período de experiência; a aluna interna, nesse período, poderia ser desligada do curso se fosse constatada incapacidade para a profissão. Vencido o período experimental, dava-se a cerimônia de Recepção de Touca significando a efetivação da aluna ao curso. Essa efetivação incluía o aprendizado de maneiras específicas de se comportar, de se vestir, de falar, de sentar-se, de gesticulação e de olhares considerados decentes para a nova profissão.


Pelo Decreto 17268 de 31 de março de
1926 a Escola de Enfermeiras do DNSP passou a chamar-se Escola de Enfermeira dona Ana Néri; pelo Decreto 20109 de 1931 passou à categoria de escola oficial padrão, chamando-se Escola de Enfermeiras Ana Néri; o Decreto 21321 de 18 de junho de 1946 aprovou o estado da Universidade do Brasil e a Escola de Enfermeiras Ana Néri foi integrada àquela Universidade (depois, Universidade do Rio de Janeiro e, atualmente, Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ) com o nome de Escola de Enfermagem Ana Néri; nos anos da década de 1970, a Congregação da Escola resolveu mudar a grafia para Escola de Enfermagem Anna Nery.


A primeira turma de enfermeiras diplomadas e brasileiras, formadas em 19 de junho de 1925, foi composta por 15 mulheres, todas solteiras à época de ingresso na Escola: estas são as cognominadas AS PIONEIRAS.


Em 19 de junho de 1925 foi celebrada na Matriz da Candelária, pelo arcebispo Sebastião Leme, a missa solene às formandas, a recepção dos diplomas mediante o juramento profissional e o baile de gala realizado nos salões do Clube Fluminense: a diplomação, efetuada pelo então Ministro da Justiça e Negócios Interiores Afonso Pena, foi realizada no salão nobre do Instituto Nacional de Música do Rio de Janeiro, às 20:30 horas.


Na tarde de 20 de junho de 1925 inauguraram-se no internato da Escola os bustos de Carlos Justiniano Ribeiro Chagas (1879 – 1934) e de Claire Louise Kieninger e uma placa homenageando Ethel Parsons.


Carlos Chagas, diretor do Departamento Nacional de Saúde Pública, foi o paraninfo da 1ª. turma de enfermeiras diplomadas e brasileiras; Claire Louise Kieninger era então a diretora da Escola  (1923 – 1925).

No dia 21 de junho de 1925 foi oferecido em homenagem às diplomadas um chá  no palacete da senhora Jerônima Mesquita, situado na rua Senador Vergueiro, no bairro do Flamengo.


Catorze foram as formandas católicas:

-Dulce Duarte Macedo Soares

-Eglantina Caldeira

-Heloisa Maria Carvalho Velloso

-Ilka Nóbrega de Ayrosa

-Izaura Barbosa de Lima

-Izolina Saldanha de Lossio

-Josephina Rocha Lima (ou Brito?)

-Laís de Moura Netto dos Reys, oradora da turma

-Lucinda Coutinho de Araújo

-Maria de Castro Pamphiro

-Maria do Carmo Ribeiro

-Noeli de Almeida P. da Costa

-Olga Campos Salinas

-Zulema  Lima de Castro A 15ª.  formanda não católica era Luiza de Barros Thenn cuja ausência foi registrada obviamente durante a missa solene e na formatura: meses antes da festa de formatura, esta aluna foi agraciada com bolsa de estudos da Fundação Rockefeller para aperfeiçoamento no Hospital Geral de Filadélfia. O prêmio conquistado foi por ter sido considerada a melhor aluna da 1ª. turma.


As formandas bolsistas para estudos nos Estados Unidos da América do Norte foram Laís de Moura Neto dos Reys, Luiza de Barros Thenn (de Araújo), Maria do Carmo Ribeiro, Olga Salinas (Lacorte) e Zulema Lima de Castro (Amado).


 A turma dAs Pioneiras foi ovacionada como Enfermeiras de Saúde Pública do Brasil, conforme se registrou na Revista da Semana, em 27 de junho de 1925: na realidade, tais enfermeiras formaram-se para subsidiar o trabalho dos médicos sanitaristas na condição de enfermeiras visitadoras e mediadoras entre médicos e doentes. Esse ideal de enfermeira de saúde pública, subsidiária do trabalho dos médicos sanitaristas, foi quase natimorto: ao final do ano de 1929, das 94 enfermeiras diplomadas, havia apenas 28 enfermeiras visitadoras; 70% das diplomadas tornaram-se enfermeiras particulares, enfermeiras hospitalares ou deixaram a profissão.

Em contraposição ao ideal de enfermeiras visitadoras, chamadas de Missionárias da Saúde, para subsidiar o trabalho dos médicos sanitaristas confirmou-se a tese de que a enfermagem no Brasil atendeu ao avanço da medicina hospitalar, núcleo da ação médica, e não para atender às necessidades sociais e sanitárias do povo brasileiro no campo da Saúde Pública.

Da Polícia Sanitária de Oswaldo Gonçalves Cruz (1872 – 1917) à Educação Sanitária com Carlos Chagas e até os dias de hoje com a pedagogia médica de Educação em Saúde, a Saúde Pública e os profissionais de Enfermagem, juntamente com vários outros profissionais da saúde (leia-se profissionais da doença) continuam distantes das responsabilidades sociais e sanitárias diante das necessidades sócio-sanitárias do povo brasileiro.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA


BARREIRA, Ieda de Alencar. A Enfermeira ananéri no país do futuro. Rio de Janeiro: UFRJ. 1996; p.57

FERNANDES, Carlos Roberto. O Cuidado e a Enfermagem Forense. In: _____________ Violência Moral na Enfermagem. Goiânia: AB. 2007; p.25

GEOVANINI, Telma; MOREIRA, Almerinda; SCHOELLER, Soraia Dornelles; MACHADO, William C.A. História da Enfermagem: versões e interpretações. 3. ed. São Paulo: Revinter. 2009

PAIXÃO, Waleska. História da Enfermagem. 5. ed. Rio de Janeiro: Júlio C. Reis. 1979

PORTO, Fernando; AMORIM, Wellington, organizadores. História da Enfermagem Brasileira: lutas, ritos e emblemas. Rio de Janeiro: Águia Dourada. 2007

RIZZOTTO, Maria Lúcia Frizon. História da Enfermagem e sua relação com a saúde pública. Goiânia: AB. 1999

SANTOS, Tânia Cristina Franco; BARREIRA, Ieda de Alencar. O Poder simbólico da enfermagem norte-americana no ensino da Enfermagem na capital do Brasil (1928-1938). Rio de Janeiro: Anna Nery. 2002

Carlos Fernandes
Enviado por Carlos Fernandes em 19/10/2010
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