Está faltando alguém antipático

Assisto aos debates eleitorais e fico tentado a registrar algumas reflexões. É incompreensível a razão das palavras simpáticas, adocicadas e eleitoreiras de todos os postulantes a cargos públicos. Eles só fazem sorrir e afirmar em bom som que resolverão todos os problemas. Vote em mim que mudarei a cara de São Paulo, dizia um candidato mais entusiasmado. Será que eles acham isso mesmo? Será que pensam em mudar a cara de uma cidade, estado ou país sem a ajuda da sociedade? Santa ingenuidade de quem acredita numa mensagem assim. Será que os políticos consideram que construirão a sociedade dos sonhos sozinhos? Será que julgam resolver sozinhos problemas profundos e arraigados no comportamento humano como, por exemplo, a questão da reciclagem – ou falta dela?

Porque nenhum deles se arvora a dizer que a culpa da fragilidade de nossa educação também é da falta de disciplina dos pais que não dão o devido valor aos estudos dos filhos e não os estimulam à leitura e ao conhecimento? Porque nenhum deles levanta a falta de capacitação do profissional como uma das causas do desemprego? Porque nenhum deles aconselha: Olha, meu caro, o governo vai se esforçar, no entanto, faça sua parte; leia, estude, busque construir seu próprio conhecimento para que você tenha empregabilidade.

Sabe por que, amigo leitor? Porque falar esse tipo de coisa soa antipático e não angaria votos. Falar que para resolver os problemas sociais é necessário também esforço de todos é impopular. É mais fácil ser demagogo, dizer sim e falar que tudo se modificará num passe de mágica, basta que ele esteja no comando. Por isso entra e sai governo e as modificações são lentas, demoradas e ínfimas.

Talvez falte alguém antipático sob a ótica eleitoral. Alguém que seja sincero – aqui falamos da sinceridade com educação, sem ofensas e com respeito ao ser humano – e diga ao eleitor que o progresso é uma construção social e como tal depende do empenho e dedicação das pessoas.

O candidato não precisa posar para fotos com a família nem abraçar e beijar crianças ou tampouco tomar caldo de cana com os menos abastados. Nada disso é preciso. Ele pode ser menos simpático desde que seja bom, honesto, competente, digno e interessado no bem coletivo.

Pois é, a verdade muitas vezes é antipática! E esse assunto me fez lembrar de um amigo que trabalha comigo. Ele é sincero sem ser mal educado. Simplesmente o Paulo fala a verdade, sempre. Aqueles que não o conhecem a fundo julgam-no antipático, porém quem o conhece bem sabe que Paulo é uma grande figura humana, homem de sólidos princípios. Paulo tem credibilidade. Certa vez a D. Maria perguntou o que ele havia achado do novo corte de seu cabelo. Paulo foi de uma sinceridade impressionante e tascou um NÃO GOSTEI! Ela também não porque o chamou de insensível. Paulo retrucou: Eu apenas dei minha opinião em face de sua pergunta. Ela retirou-se cabisbaixa, mas depois de alguns dias o perdoou por ter dito a verdade nua e crua. Se você pensa que Paulo é considerado o chato da empresa, caro leitor, está enganado. Todos sem exceção já se renderam aos seus exemplos de honestidade. Ademais a convivência com Paulo está ensinando muita gente a não se render ao melindre, essa chaga que destrói os relacionamentos.

Acredito que os políticos necessitam aprender um pouco com os exemplos de Paulo. Talvez aprendam a ser sinceros expondo de forma madura e objetiva os espinhos sociais sem a maquiagem da simpatia hipócrita.

Wellington Balbo
Enviado por Wellington Balbo em 05/10/2010
Código do texto: T2538524