SERVINDO COM CHICO XAVIER

Eis o meu lindo "sonho" de hoje. Aconteceu naquele estado intermediário de quase retorno ao corpo físico, e, embora sem nutrir quaisquer pretensões de privilégios pessoais, estou convicta de que, em se tratando da alma simplíssima e amorosa do nosso Chico, nada do que vou narrar seria anormal, podendo acontecer com quaisquer pessoas que por esta ou aquela razão se sintonizem na faixa adequada na qual o querido mestre de Uberaba vibra.

Via-me num lugar com muitas pessoas em ir e vir contínuo. Lembrava um parque, onde aconteciam vários eventos de natureza desconhecida. Andava por ali, só que, em atentando ao que se dizia em volta, comecei a abrigar as emoções da revolta e da irritação. Pois passava rente a uma mulher que, acompanhando um homem de idade mediana - escritor, pelo que pude depreender do que ela dizia a ele, - comentava, com declarada ironia:

- Imagine... as pessoas acreditam naquele "anjinho" (em tom pejorativo), e que ele recebe livros seus, mesmo depois de cem anos da sua morte!...

Ouvi aquilo sem entender muito bem, mas qualquer coisa no ambiente me fez sentir que aquela mulher se referia aos livros espíritas, sendo o homem que a acompanhava um escritor desencarnado.

Tive vontade de revidar com um protesto qualquer. Afinal, mesmo em estado de "sonho", recordava meu próprio trabalho mediúnico, convicta de que nada do que a mulher dizia fazia sentido. Mas os dois se afastaram rápido; não pude ouvir a resposta dele ao comentário, e continuei minha caminhada naquele lugar peculiar metida no estado de espírito ingrato que a atitude da mulher zombeteira me evocara. O local amplo lembrava uma longa e larga alameda repleta de povo em movimento, e, mais à frente, em meio ao ir e vir intenso das pessoas, um homenzinho franzino, de estatura mediana, de repente me arrancou imperativamente daquelas emoções deprimentes para me atraír a atenção.

Só depois compreenderia, em reconhecendo-o plenamente, que aquilo fora intencional.

- Ei, venha cá! Precisaria que me ajudasse aqui!...

Estranhamente não o reconheci para além de leve sensação de familiaridade - até porque ele já me indicava a que me chamava: mostrava-me, sobre uma mesinha, um livro de aspecto antigo aberto, com uma dedicatória na primeira página, que, por alguma contingência, se via incompleta. Apontando, ele me dizia:

- Pode me ajudar a concluir?...

Embora estranhando, deduzi que o homem me rogava aquilo por talvez sofrer da vista, ou algo assim. Notava que o espaço onde espremia a dedicatória era insuficiente para o que pretendia dizer, e ele me apontava, ditando o que eu deveria escrever. Como parecia haver urgência, tomei da caneta, influenciada pela forte simpatia que de início experimentava para com o inusitado personagem. Dispus-me logo a tentar fazer como me orientava, embora comentando do pouco espaço disponível para o que me ditava, até que, de repente, e grandemente surpreendida, me dei conta de quem se tratava:

- Chico Xavier?!!...

Nem dispus de tempo para expressar o grande encanto que se assenhoreou do meu estado de espírito, transmutando-o completamente da ingrata indisposição anterior! Entendi de pronto que o "anjinho" a que a mulher se referira mais atrás com tanto descaso outro não era que não o querido mestre de Uberaba, mas este já se aproximava com mais uns dois ou três livros, aproveitando minha disposição para auxiliar, e rogando que o ajudasse a arrematar outras dedicatórias - todas, estranhamente, incompletas!

Ele sentava ao meu lado e ia me orientando como, o que e onde escrever.

A partir daquilo, totalmente esquecida da atmosfera de hostilidade que dominava em alguns no percurso da alameda para com o que acontecia, - agora reparava ser um evento confraterno qualquer, onde a literatura espírita se achava em relevância - atentava para o trabalho intenso em volta. Pessoas iam e vinham com cestas de alimentos e salgadinhos a serem servidos aos participantes. Uma moça de repente me passava uma daquelas cestas pedindo que levasse a uma mesa grande. E eu, agora entre encantada e entusiasmada do que via, pensava que deveria ajudar no que pudesse, não apenas completando as dedicatórias. Emocionadíssima - estado de espírito que me dominava ainda ao acordar - lembro que comentava para uma senhora por perto que nunca imaginaria a distinção de ser convidada pelo Chico Xavier para auxiliá-lo no que quer que fosse.

Queria fazer o melhor. Mas notava: quem trabalhava não parava para ler nenhum dos muitos livros disponíveis, o que, ao que percebia,  só quem fazia eram os visitantes. Lembro que sentia fome; mas logo vinha o Chico com mais dedicatórias a serem completadas - parecia haver uma ênfase a que eu fizesse isso, embora me empenhasse também a ajudar com as cestas de alimentos.

Se me interrompia, com  a atenção desviada para algum livro ou curiosidade do evento, logo me sentia compelida a continuar o serviço - afinal, grande era o entusiasmo em todos. E havia uma maquininha - notei a certa altura - na qual quem trabalhava consultava para verificar como se dava o seu desempenho, se de modo satisfatório ou não. O meu não estava bom. E procurava ignorar a fome para me dedicar mais - desprezando a certa altura um salgadinho grande, de aspecto desagradável, que um homem de modos pouco cativantes me oferecia, com um exótico recheio de serpente frita.

E novamente sentava-se o Chico ao meu lado com mais livros, me orientando sobre como eu deveria completar as dedicatórias. Simples toda vida! Amoroso! Confraterno! Sinto até agora os efeitos daquela reconfortante aura de Luz!

Chico me arrancara das emoções ingratas do revide contra a incompreensão para me convocar a servir. Fácil o entendimento: isto diz respeito também ao meu próprio serviço na literatura espírita! Ignorar eventuais incompreensões e o alimento da vaidade, para apenas persistir no serviço de benefício ao próximo!

Grata, Chico!



Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 03/10/2010
Reeditado em 03/10/2010
Código do texto: T2535835
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