EXPRESSÕES CURIOSAS - CARRO
Fala-se carro com conotação de meio de transporte com rodas que rolam sobre a superfície da terra. Faze-se distinção entre carro e carro discriminando caminhão, ônibus, caminhoneta, vã, viatura, carroça (forma pejorativa de carro) e carreta, que talvez venha do diminutivo francês de carro, charret, ou carret (que dissemos charrete).
Todos esses são carros, pois nos parece que carro é meio de transporte com rodas. Entretanto, na linguagem mecânica existem alguns carros que são peças, as quais deslisam sobre outras, mas muitas delas não possuem rodas. Existe ainda a expressão popular referente à junção entre o maxilar inferior e o crânio, do qual se diz carrinho.
À máquina do trem chama-se locomotiva e ao vagão (o carro puchado), carro ou vagão. Todavia, a locomotiva também é carro.
Na língua alemã parece não existir carro, mas sim uma palavra que traduz-se por vagão. Trata-se de wagem (vaguem), a segunda palavra da expressão volkswagem, que significa "carro do povo". Do fabricante (construtor) de carro em alemão diz-se Wagner. Note o prefixo wag (de vagão).
No inglês há a palavra car, parecendo da mesma vertente do nosso carro, mas também a palavra wegon (weg - wag), vinda do anglo-saxão, se referindo a vã, baú, ou vagão do trem. Algo como caixa, que em inglês seria box. E eles gostam de chamar a vaga (garagem) do carro de box. Percebe-se que a palavra vagão é o mesmo que carro.
Entrementes, existe a VAGA para o carro, a vaga para emprego de mão-de-obra, etc., ambos com conotação de vazio, ou baldio, talvez caixa e box. Além desses há a vaga ou vagalhão, referentes a onda gigantesca que cruza o oceano. Nenhuma dessas vagas têm rodas, todavia a vaga do mar anda, mas não está vazia.
Na língua espanhola (nossa matriz linguística mais ressente) existe a palavra VACACIONES (VAGAZIONES é na língua italiana, mais próxima ao original latino) que traduzimos como férias. Perceba nela o prefixo VAGA, VAG (de wagem) e wegon. Logo, parece que os esponhóis dizem que estão de férias quando estão vazios de atividade, sem ter o que fazer, desocupados, ou se estão andando sem compromisso de chegar?
Como poderíamos definir então vagar, vaga, vagão, vagalhão e qual a relação disso tudo com carro?
Parece que vagar, como quando se diz que se está de vagar (lento), ou anda-se vagarosamente, é andar desocupado, andando como quem não tem compromisso com o chegar, enquanto vagabundear é andar (ou estar) não só sem compromisso com o chegar, mas sem onde chegar, nem porque chegar. Quanto a vaga, pura e simplesmente, seria um espaço desocupado, vadio, vazio, baldio (uma caixa), como a vaga do carro (o box - a garagem) e, no sentido figurado, a vaga de emprego de mão-de-obra (um posto de trabalho vazio de quem o ocupe) e outras do gênero. Quanto a vaga do mar, o vagalhão, a tsunami, não seria algo vazio, mas algo que anda como quem não tem compromisso de chegar e nem destino, alguem desocupado de compromisso.
Sendo assim, vagão seria algo vazio, baldio, desocupado simplesmente (caixa, box, container, etc.), uma vaga, parado ou andado, sendo esta a definição etnológica de carro, ao contrário do que se pensa, que a denominação de carro se deve ao possuir rodas e poder de locomover-se. Logo, os carros figurados na linguagem das máquinas na indústrianão são comparados a carro não por seu sentido verdadeiro (caixa, box), mais por seu sentido agregado, que é o andar. Logo, o andar não é o atributo que determina o ser vagão ou carro, mas o estar vazio, vago, desocupado, ter um interior (alma) onde se pode entrar, como a nave, isto é o que determina ser carro.
Wilson Amaral