Síntese não percebida
Podemos resumir o sentido da religião? Patrimônio de fé, cultural, de toda a humanidade e com variadas manifestações, a religião parece não atender aos incontáveis pedidos de auxílio dirigidos aos céus. Por que? Afinal, permanecem as misérias, as lutas, a violência, fome, terremotos e demais tragédias dispensadas de serem enumeradas...
É que a religião ainda não foi percebida em sua essência maior.
Na verdade, a palavra religiosa veio para todo que crê, ensinando que a salvação (estado interior de paz) é pessoal e que a verdadeira religião – sentimento – vive na consciência da criatura e reina no coração de cada um. Deus espera por isso: consciências limpas e corações voltados para o Amor – não o amor carícia material, mas o Amor-Harmonia, porque tudo no Universo é Amor-Harmonia. Ter religião verdadeira é vivê-la intensamente nos sentimentos, sentir-lhe a influência inspiradora em todos os pensamentos, pô-la em prática nos atos mínimos e maiores da vida. E quem possui e compreende a religião assim, é um legítimo sacerdote da Verdade, apto a celebrar a fé no seio do próprio lar, onde se deve aprender a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo tanto quanto a si mesmo, e onde se deve ter por lema a síntese toda dessa religião: Não faças, nem digas aos outros aquilo que não desejas que te digam ou façam a ti.
Ser religioso não é apenas seguir um credo qualquer; é ser bom, tolerante, justo, abnegado, amigo dos seus semelhantes. Quem abriga ódio, inveja, ciúme, cobiça, vaidade, orgulho e pratica atos inspirados por esses sentimentos não tem religião, porque toda religião, digna desse nome, se apóia num ideal de perfeição (Deus), e dentro da Perfeição não cabe o lodo do mal, não se admite, nem se ensina que as criaturas que praticam perversidades possam estar no caminho da felicidade e da bem-aventurança.
A verdadeira religião consiste em ser bom, em cumprir cada um o seu dever, sem cogitar se os outros o estão cumprindo também. E ela se exerce no lar, onde cada um deve procurar – acima de tudo – fazer a felicidade dos que o rodeiam, porque desse esforço mútuo resultará que todos terão a sua parcela de ventura. Ser alegre, corajoso no trabalho, paciente e forte diante dos perigos e sofrimentos, sempre certo de que tudo tem recompensas, e que de Deus jamais virão males e castigos para retribuir os feitos dos que só praticam o Bem. É preciso espalhar carinhos e doçuras de palavras e sentimentos, para que o ambiente dos lares seja de paz e alegria.
O sentimento da verdadeira religião solicita que utilizemos a ligação com Deus implorando sejamos limpos do lodo dos maus sentimentos que nos tornam feras na Terra, quando devêramos ser cordeiros do rebanho do Cristo.
Texto baseado no livro Antônio de Pádua, com adaptações para este artigo. O livro é de autoria de Almerindo Martins de Castro e editado pela FEB (Rio-RJ).