Educação Para o Desenvolvimento
Uma nova pedagogia requer a reeducação dos adultos que terão a seu cargo a instrução da humanidade do futuro. O que tem sido prática corrente na educação infantil deverá ser revisto, reestudado. Os sistemas de instrução e os conceitos básicos empregues não têm funcionado convenientemente. Instrui-se para tudo, menos para o que mais interessa: a convivência pacífica do indivíduo consigo e os outros seres humanos.
A humanidade está dividida em raças, religiões, camadas sociais, culturais, partidos políticos, etc. Os sistemas pedagógicos são divisionistas, separatistas. Cada agrupamento arvora-se como dono absoluto da verdade, não compreende que ela surge da união das pessoas pela compreensão de sua realidade fragmentada da Grande Realidade Universal da qual todos formam parte.
Às crianças ensina-se que devem ser as melhores em tudo o que fazem; melhores que as outras. Inocula-se, desde muito pequenas, o nocivo e maligno vírus do separatismo, de uma pseudo-superioridade; a ilusão da felicidade alcançada quando se chegar a ser melhor do que os outros. No futuro, as crianças serão instruídas no sentido de serem melhores que elas mesmas; que o aperfeiçoamento pessoal tenha um cunho essencialmente humanista: ser melhor sendo mais útil para si e os semelhantes.
O amor ao próximo deixará de ser uma figura de retórica para representar a compreensão cabal de um fragmento da Grande Verdade e será vivenciado, experimentado, e não apenas discursado .Sem o entendimento não há compreensão. Sem compreensão não há realização. Sem realização, os seres humanos seguirão inimigos de si mesmos, filhos deserdados de um Criador que não chegaram a compreender.
Um dos investimentos de maior retorno é o empregue na educação. Quantos esforços e sacrifícios para que os filhos possam estudar; quantas frustrações quando isso não é possível.A educação básica é necessária para o encaminhamento das soluções dos problemas materiais, mas insuficiente para a solução dos de convivência, morais e espirituais. Muitas pessoas, com esmerada educação convencional, são desprovidas da integral, humanitária, moral, familiar, que parece ser algo que não se aprende nos bancos escolares.Falta ao ser humano uma educação para a vida relacionada à conduta.As dificuldades na convivência, na adaptação à realidade do mundo, as tristezas e a insatisfação tão comuns hoje em dia têm sua raiz nessa falta de capacidade pessoal que escola alguma tem ensinado.
No âmbito da educação convencional é possível compensar a sua falta através da aquisição de uma cultura geral obtida através de leituras e viagens que se possa fazer preenchendo aquele vazio. Pode-se viajar através dos livros e sobre as asas do pensamento de um autor que nos leve a zonas de conhecimentos que nunca imagináramos pudessem existir.
Ao que tudo indica, parece ser o aprendizado, a busca e a conquista de conhecimentos, a finalidade maior da vida do ser humano no planeta.Saber e conhecer são a questão do momento, uma nova cultura que deverá orientar a humanidade do futuro .
A arte da educação mental consiste num constante e diário treinamento da inteligência, num preparo dessa zona mental que tem sido pouco utilizada no dia-a-dia e que corresponderia às atividades relacionadas ao autoconhecimento e aperfeiçoamento das condições pessoais. Assim, o adestramento da capacidade pessoal de observar ou faculdade da observação consistiria num treinamento para desenvolvê-la.
Muitas vezes as pessoas assumem atitudes das quais se arrependem como se houvesse no interior delas uma força maior que as impelisse a tomá-las contrárias à sua sensibilidade e vontade. Isto ocorre por existir na mente dos seres humanos pensamentos que atuam discricionariamente.A arte da educação mental consistiria na identificação e conhecimento dessas entidades psicológicas, os pensamentos, e num trabalho seletivo que a inteligência poderia exercer sobre eles.
Muitos educadores preferem a verdade à fantasia na orientação da infância e adolescência. Compreendem que de tanto ouvir e transmitir fantasias e coisas irreais, a vida pode se transformar numa grande mentira.Alguém diria a uma criança que a Terra não se move e que é o centro do Universo? Ou que os trovões existem porque os deuses estão empurrando móveis no Olimpo?Na infância da humanidade os homens acreditavam nessas e noutras fantasias por ignorância, falta de conhecimento. Galileu Galilei, o grande cientista italiano, quase foi queimado na fogueira por sustentar que a Terra não era o centro do Universo. Salvou-se porque abjurou, negou a verdade que havia vislumbrado para não ser condenado.Infelizmente, a grande maioria dos educadores acha louvável a fantasia, a ilusão e o irrealismo nas histórias que transmitem às crianças: animais que falam, super-heróis que voam, desenhos animados que não educam e transmitem a violência às crianças que depois, quando adultas, não entendem o porquê das crueldades e violência que imperam no mundo.A criança cria suas fantasias porque em sua inteligência incipiente só funcionam a memória e a imaginação e seu entendimento ainda não despertou para que compreenda o mundo com suas belezas e maldades criadas pelo homem. Não é necessário que os adultos lhe venham acrescentar ilusões e mentiras que nada têm a ver com a realidade, e sim que a protejam de certas realidades cruéis deste mundo que ela não suportaria defrontar por não estar preparada para entender.Proteger o entendimento e a sensibilidade de uma criança faz parte de uma docência positiva que afasta o pequeno do sofrimento pelo choque prematuro com a realidade. Da mesma forma, o seu entendimento deve ser preservado da mentira, do irrealismo e da ficção para que possa despertar, no futuro, livre de preconceitos, temores e da depressão.
Educar para a vida é muito mais do que dar escola gratuita e ensino fundamental, é preparar os entendimentos para que despertem do sono milenar que tem submergido a humanidade na inércia mental e prostrados os espíritos nos cárceres da ignorância.
A causa de toda a pobreza é a ignorância. E não há outra forma de combatê-la que não seja através da educação. Muitos países ditos em desenvolvimento vão de encontro à história pelo mau exemplo de seus governantes que privilegiam o assistencialismo inócuo, mergulhando o povo na inércia, ao invés de estimular o estudo e a iniciativa.Não há maior inimigo da liberdade que a ignorância. E não há maior ignorância que a ausência de si , a inconsciência dos que se encarceram por detrás dos barrotes de preconceitos e idéias medievais e retrógradas.
Ao mesmo tempo em que o homem traz dentro de si o anseio por liberdade, também traz a tendência à submissão, por acreditar em coisas inverossímeis, cultivar ídolos, idolatrar místicos fantasiosos, apesar de todos os homens terem o anelo de serem felizes.Essas tendências aparentemente paradoxais são frutos psicológicos de uma característica inerente ao homem: ligar-se aos outros, não ser uma pessoa isolada, comunicar-se.Talvez aí a explicação das seitas, religiões, ideologias, partidos políticos e fanatismos que não justificam aquela tendência.
A lição da pobreza ensina que o maior cego não é o que não quer ver, senão o que não quer entender. E que ajudar os outros é a melhor maneira de ajudar a si mesmo. E que mais que dar o peixe ou ensinar a pescar, o fundamental é ensinar a pensar. E nunca pretender ensinar antes de haver aprendido. E que pensar é, antes de tudo, criar.
O homem nasceu para ser feliz e aprender que a maior de todas as felicidades é saber, conhecer e ser livre. A maior das escravidões é a mental, onde o homem se vê encarcerado na ignorância, a pior das prisões: o desconhecimento da sua realidade, das causas dos erros e desacertos. Quem se desconhece é um presidiário na própria casa, embora perambule em aparente liberdade pelas ruas cercado por temores e incertezas.
A verdadeira torre de Babel está aí. Os que falam o mesmo idioma não se entendem.Tudo indica que a linguagem inscrita na Natureza ainda não foi decifrada pelo pequeno homem pretensioso, vaidoso e político.Homens divididos são domináveis, escravizados pelos que em tudo veem a possibilidade de satisfações materiais, cegos por inconfessáveis ânsias de domínio, poder e riqueza.
Pensar é respirar. O Universo respira por mais que queiramos abafar e aquecer o pequeno planeta com o gás sufocante do progresso. A Terra é um ínfimo na Criação imensa. A inteligência não, ela pode ser maior. A alma pode transcender este hiato decaído e se projetar num futuro ilimitado, onde os homens sentirão a alegria de viver e serem humanos.
Os déspotas, os impostores e os predicadores são os inimigos da liberdade que não querem que o homem pense e seja livre. O ser humano não nasceu para viver isolado e nem acorrentado.
O ideal de fraternidade permitirá que o homem se aproxime de seus semelhantes através do conhecimento e da cultura, únicas riquezas capazes de tirá-lo do sofrimento e do isolamento.
Os inimigos da educação e da cultura são os inimigos da liberdade e do povo.
Nagib Anderáos Neto
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