In-conveniente

É sonho, se não de todos, pelo menos de uma ponderável parcela dos homens, ter uma parceira, doida, disponível, fantasiosa, pegajosa, ciumenta, gritona, exclusivista, ativa, abusada, ninfômana, daquelas que estão sempre “pensando naquilo” e que não abrem mão do sexo diário. Esta é a fantasia, a teoria, o desejo.

A realidade às vezes é um pouco diferente. Uma parceira sexualmente ativa e insistente, para quem gosta (sim, porque tem carinha por aí que não é chegado) é algo extremamente agradável, gratificante e, por que não dizer, conveniente.

Pois um chapinha, conhecido nosso, tanto pediu que um dia deu de cara com uma dona com esse perfil. Foi um “chuá”, algo de – como diziam os antigos – ficar “com a faca e o queijo na mão”. Ele chegava a se beliscar, duvidando que tal coisa estivesse acontecendo com ele. No princípio foi uma beleza. Na vida tudo enjoa, até quindim com guaraná. No caso do nosso conhecido, o que começou bom ficou constrangedor, passando a inconveniente e terminando assustador.

O que era fenômeno se transformou em pesadelo. A mulherzinha queria fazer sexo quatro-cinco vezes... Por dia! Qual uma Lilith mitológica ela investia contra o coitado, que perdia dois quilos por semana. Ele voltava esgotado do trabalho e a parceira queria, porque queria. Os encontros não eram assim, coisa racional, equilibrada, eram batalhas que varavam a noite toda, sem tréguas. Ele ia dormir literalmente “acabado”.

Começou a temer a parceira. Para fugir do assédio, ele chegava em casa se queixando de dor-aqui-dor-ali, para tentar dormir cedo, fugir de tanta atividade. Não resolveu. A mulher passou a adotar outras táticas. Ia ao escritório dele e exigia ser “matada” lá mesmo, em cima da mesa, no elevador, na escadaria do prédio. A coisa começou a fugir do controle quando ela passou a espera-lo no estacionamento do prédio, com os bancos do carro abaixados e ambiente propício para o “crime da mala”.

O fato é que a percanta, embora tivesse uma casa “para os devidos fins”, desenvolvia as fantasias mais loucas, inesperadas e arriscadas, como “transar” no estacionamento do Mcdonald’s, em qualquer matinho da estrada, nos lugares mais inusitados.

Um dia, andavam por uma rua, e ela pediu que entrassem num prédio em obras, pois ela estava necessitada. O coitado do cara concordou; quando estavam no meio da “coisa” foram surpreendidos pelos operários, que aplaudiam a cena.

Uma vez, eles foram ao cinema, e ela exigiu ser “depenada” ali mesmo, na última fila. Acontece que, na hora H, ela se descontrolou e gritou "agora, meu matador!". Foram expulsos da sala, com ameaças de polícia, etc.

De outra feita, foram ao futebol. Como o carro, no estacionamento, estava trancado por outros, a coisa foi ali mesmo. Quando se deram conta, tinha uma platéia de torcedores assistindo a “penetração”.

É para ver como um devaneio, o desejo de algo bem conveniente pode se transformar num pesadelo, em algo positivamente in-conveniente.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 25/09/2006
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