A calcinha da namorada
Eu sou da geração do meio; nem dos jovens que curtem a Jovem Pan nem dos bem velhos que escutavam Chico Alves, pela Rádio Nacional. Assim mesmo, é inegável observar que em todos os tempos, nos mais diversos escaninhos do tempo e nos vários estamentos sociais há riqueza, valor e dados a compulsar. Eu detesto quando escuto ou leio algum “coroa” abrindo parágrafo com a expressão “... pois no meu tempo...”. Blarg!
Mesmo sem entrar nessa de retrô, é interessante lembrar que no passado as moças eram, na aparência, mais recatadas. Davam o mesmo que hoje, desde que a mãe, a avó e a “madre superiora” não soubessem. Além do mais, o ataque era mais dificultado pelas saias de armação (Ah, como atrapalhavam!), além e outros adereços, como a cinta-liga, a calcinha (nem tão calcinha assim, pois eram uma cueca de lingerie).
Depois veio a odiosa meia-calça. Pior ainda! Namorar no cinema, nem pensar! Sempre me perguntei se meia-calça era para quem tinha meia-bunda. Mas veio a pós-modernidade, e com ela Betty Friedam, que deu a idéia de as mulheres queimarem sutiãs em praça pública e diminuírem o tamanho das calçolas. Aí sim, ficou bom de namorar no cinema, no portão, no banco de trás do fusca, etc.! Com isso a indumentária íntima feminina deu um salto de qualidade. Quem usava sutiã comprava aqueles mais sexy, muita renda, bordados provocantes, transparências...
A calcinha passou pelo biquíni tigrado, foi à tanga branca ou enfeitada com plumas e lantejoulas e estacionou no fio dental preto, que é um pequeno e dispensável triângulo de renda na frente, e um fio atrás, enfiado no rabo, como diz o filho de um amigo meu. Gozado, que esse fio posterior da tanga, no nordeste é chamado de “cordãozinho cheiroso”.
A partir da década de noventa, a mulher passou a desenvolver, como nunca, as técnicas de sedução. E nessa guerra, uma das armas mais notáveis da logística sexual passou a ser, sem dúvidas, a calcinha. Gozado o uso da palavra calcinha. Pode ser número 48 ou tamanho “G” que elas sempre dizem “calcinha”. Os cultos sadomasoquistas têm na lingerie, especialmente as calcadas em renda negra, o ponto alto de suas orgias. Como não poderia deixar de ser, a calcinha passou a ser objeto de fetiche de muitos marmanjos, assim como também de algumas “moças do sapato grande”.
Agora, convenhamos, coisa bonita é uma calcinha de mulher! Mais bonita ainda quando, caída descuidadamente no chão, com a dona, ao vivo, a cores e à vontade, em nossa cama! Há homens quem afirmam excitar-se mais ao ver a parceira com uma provocante calcinha, do que ela se apresentando sem. Cada louco com sua mania!
No terreno das histórias verídicas, tem aquela do sujeito que há horas vinha tenteando uma percanta. Por diversos motivos, alheios à vontade de ambos, o nefasto coito vinha sendo adiado. Um dia deu! Ou melhor, ela resolveu dar. Na hora “H” a jovem tira a roupa e se apresenta ao mancebo com uma minúscula calcinha vermelha, a emoldurar um corpo de sereia. O cara engoliu em seco, perdeu a respiração e suou. Até hoje ele tenta ligar para ela e dizer que não é broxa. Um outro foi ao cinema, na expectativa de assistir a um filme, apontado como candidato ao Oscar. Lá pelas tantas, a namorada pegou a mão dele e guiou-a a um determinado lugar, e ele constou que a mesma estava “desprevenida”, ou seja, sem a entediante calcinha. Babaca como poucos, eles quis saber como a moça foi se esquecer daquela peça de vestuário ao sair de casa. Dançou, é claro! Merecidamente!
A calcinha faz parte de um contexto sensual, viajando às vezes pelo correio, para cumprir um mandato erótico. Empregada como top de linha no arsenal da sedução, a calcinha é a peça feminina na qual os designers de moda mais investem em pesquisa. Eles gastam dinheiro numa coisa que logo vai para o chão. Assim como a mulher não esquece o primeiro sutiã, o homem, pelo menos quem é chegado, não se olvida da calcinha da última namorada.