LAMARCA HERÓI OU TRAIDOR


Filho de pais pobres, Carlos Lamarca nasceu em 27 de outubro de 1937 e viveu até os 17 anos, no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, com seus irmãos e uma irmã de criação, Maria Pavan, que viria a ser sua esposa.
Depois de reprovado duas vezes nos exames, ingressou , em 1955, na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre. Três anos depois , estava matriculado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN) .

Declarado , em dezembro de 1960 , aspirante à Oficial De Infantaria, foi designado para servir no 4° RI em Quitaúna - S P, na cidade de Osasco. Aqui cabe uma observação:  ouve-se falar que ele teria sido o 1° de sua turma, no entanto em uma turma de 57 cadetes, ele só alcançou o 46° lugar e nos testes de tiro, só conseguiu 75 pontos no máximo,sendo péssimo  atirador (o total é de 100pontos) e os atiradores de elite fazem em média 98 pontos.

Integrou o Batalhão Suez, nas Forças de Paz da O.N.U. Na região de Gaza, Palestina, de onde retornou dezoito meses depois, sendo então transferido para à 6ª Companhia de Polícia do Exército , em Porto Alegre , quando ocorreu o golpe militar de 1964.
Em dezembro de 1964 quando respondia pelas funções de oficial de dia, facilitou a fuga do Capitão da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, que respondia  a I.P.M. . O Inquérito aberto para apurar seu primeiro desvio de conduta no Exército, não chegou a conclusões definitivas. Entretanto, o ambiente ficou tenso e ele foi transferido para o 4º R.I. onde se apresentou ainda em dezembro de 1965, no entanto já estava sendo monitorado pelas Equipes de Segurança.

Em junho de 1968, ingressou na base militar da VPR, levado pelo ex-sargento Onofre Pinto. Imediatamente fundou uma célula comunista no 4° R I, composta pelo Sargento Darcy Rodrigues, pelo cabo José Mariano Ferreira e pelo Soldado Carlos Alberto Zaniato (morto sob tortura na OBAN).
Lamarca era na época o instrutor de tiro da Unidade e com esta facilidade, cometeu seu segundo desvio de conduta às Leis Militares no Exército, pois conseguiu desviar 2000 tiros para municiar os nove FAL que haviam sido roubados pelo VPR em 22 de junho, no assalto ao Hospital Geral de São Paulo.

Havia um planejamento para assaltar o quartel, no entanto as Equipes de Segurança reforçaram as investigações e prenderam o caminhão que estava sendo pintado para facilitar o roubo. A guarda e a segurança muito reforçada impediu o assalto .
No final da tarde de sexta feira, 24 de janeiro de 1969, Lamarca entrou com sua Kombi no quartel, foi ao paiol e roubou 63 FAL(fuzis), três metralhadoras INA, uma pistola 45, e muita munição. Dirigiu-se à casa de Onofre Pinto para se despedir de sua esposa e seus dois filhos que embarcariam para Cuba.
Com 31 anos, Carlos Lamarca desertava (crime militar) do Exército e ingressava na clandestinidade, depois de um ato altamente audacioso.  Na tarde de 09 de maio, Lamarca comandou o assalto simultâneo aos Bancos: Federal, Itaú, Sul-Americano e Mercantil de São Paulo cujo gerente foi esfaqueado e o guarda civil Orlando Pinto Saraiva foi morto com dois tiros disparados por Lamarca.

O Exército sentindo-se traído colocara como ponto de honra o fim de seus atos terroristas. Em Julho de 1969 Lamarca é submetido a uma cirurgia plástica na Clínica São João de Deus, em Santa Tereza no Rio de Janeiro.
No início de dezembro, a VPR comprou uma área de 80 alqueires para servir de base de treinamento de guerrilheiro. A área chegou a contar com 18 guerrilheiros, inclusive sua amante Iara. Com a prisão de Chizuo Ozawa , o “Mário Japa”, que sabia da localização da área, e para evitar que sob tortura ele denunciasse a base, foi então sequestrado o Cônsul do Japão, Nobuo Okuchi, que foi trocado por cinco presos, inclusive “Mário Japa”. A localização da área continuava secreta.

Na noite de 18 de abril, Lamarca decidiu desmobilizar a base face e diversas prisões de militantes. Na noite do dia das mães, depois de duas semanas cercados, Lamarca e mais seis guerrilheiros emboscaram 20 homens da Polícia Militar de São Paulo chefiados pelo Tenente Alberto Mendes Júnior.O Tenente ficou  refém e os homens foram liberados.

Durante a fuga, dois guerrilheiros se desgarraram e Lamarca acusou o Ten. Mendes pela morte dos seus homens. O tenente foi submetido a um tribunal revolucionário e condenado à morte, tendo Diogenes Sobrosa de Souza, desferido diversos golpes na cabeça do Tenente, até que ela fosse totalmente esfacelada. Isto foi comprovado quando da exumação de seu cadáver.

Ainda no ano de 1970, Lamarca comandou o sequestro do embaixador suíço no Brasil, Giovanni Enrico Bucher, com a finalidade de trocá-lo por presos políticos no Rio de Janeiro. Nesta ação, Lamarca mata o agente da Polícia Federal Hélcio Carvalho de Araújo, que fazia segurança do Embaixador suíço.

Por desavenças saiu do VPR e ingressou no MR-8. Embora se afirme, que por essa razão fugiu para a Bahia, Lamarca seguia planos da organização que era chegada a hora da Revolução no campo. Em 17 de setembro foi localizado na região do Agreste baiano no povoado de Pintado. Localizado, foi morto por um destacamento Especial do Exército, comandado pelo então Major Newton Cerqueira,  junto com o metalúrgico José Campos Barreto ,ex- guerrilheiro da VPR.

Depois de vários anos, a família de Carlos Lamarca teve aprovado seu pedido de anistia, a viúva Maria Pavan Lamarca e seus dois filhos receberam 100 mil cada um pelo tempo que ficaram exilados em Cuba e passaram a receber pensão do posto de Coronel.

O  autor encerra o texto apresentando  uma  visão  dupla : 
 --Para os marxistas -leninistas  Lamarca é  um herói, que largou  tudo para lutar  em prol de uma causa em que ele e outros  acreditavam  ser a melhor  para o Brasil.
-- Para os militares  ele é um traidor que  praticou  no  mínimo  dois crimes graves:  a deserção e o  desvio de armamento.
--Para o autor Lamarca era um visionário ,(pessoas que vislumbram algo que as pessoas comuns não vêm) porque tinha projetos idealistas , grandiosos, de dificil realização quase impossível . 
     
                  

                                  







Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 09/09/2010
Reeditado em 16/10/2010
Código do texto: T2486932
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