Retória ou "e aí mermão?"
O ser humano é mesmo estranho. Levou milhares de anos para se fixar Erectus; outros milhares para virar Sapiens; cerca de cem mil anos para gravar em pedras, Sapiens Sapiens, que se tornara; e agora, desenvolvidas e partilhadas as línguas oral e verbal, mundo afora, decidiu desaprender a falar e não sabe mais escrever. Por que especialmente no Brasil esse retrocesso é tão forte?
Em terras tupiniquins, o silêncio consentido que se experimenta na comunicação contemporânea, na verdade, começou a enraizar-se já faz algum tempo. Numa análise crítica desprovida de paixão e preferências literárias, pode-se ver seu nascimento no Movimento Cultural de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, quando do advento da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo: contestadora, destruidora, transcendental. A Pintura, a Escultura, a Música, a Arquitetura, tudo mudara seguindo os padrões das Vanguardas européias. Mas à palavra escrita concedeu-se a permissividade oral – defendida por ortodoxos lingüistas que as vêem como iguais – para solidificar o descompromisso com o saber erudito.
A crítica é dirigida à palavra, jamais à idéia, afinal não se pode negar a originalidade dos gracejos parodísticos de um Oswald de Andrade; ou o lirismo modernoso de um Manuel Bandeira; ou ainda a prosa denunciadora dos costumes de um Mário de Andrade, o primeiro descontente com os rumos do próprio movimento por não concordar com antropofagia cultural dos excessos oswaldianos. Defendo a tese de que idéias não se consagram ensimesmadas, e sim através de debates e discussões em torno de suas premissas. Entendo, entretanto, que a ruptura dos padrões clássicos, acusados de pedantismo sintático ou temática prosaica, forjaram a deselegância de um linguajar, hoje, esdrúxulo e pocotoístico que abalam os alicerces de uma língua neolatina rica e abrangente, em detrimento a todo esforço de sábios e mestres que buscam ministrar um aprendizado sem firulas idiomáticas, mas condizente com sua herança lingüística, mesclada de indianismos, africanismos e latinismos de rara e grande beleza etimológica.
Alguns céticos dirão que a palavra escrita, instrumento do Registro Formal, pode e deve-se adaptar às necessidades da massa, haja vista que o povo aprende e/ou repete o que lhe é ensinado, por conseguinte culpam professores taxando-os de mal instruídos e despreparados por não se aperfeiçoarem, conformados que estão com esse status quo. A esses críticos, respeitando-lhes as convicções e os dogmas, devo informar: muitos não têm chance num mercado exclusivista; outros precisam trabalhar em quatro, cinco, até seis estabelecimentos de ensino para que, aditados os parcos vencimentos, consigam sustentar suas vidas simples com o mínimo de dignidade. De fato resta-lhes nenhum tempo ou condição financeira que lhes permitam evoluir.
Que não se fecham os olhos à omissão do Estado que não provê o cidadão carente dos recursos necessários a uma vida plena, quer seja quanto a trabalho, moradia, saúde ou educação, entretanto não deve originar-se daí um estado de autocomiseração ou um impedimento natural por conformação que impeça sua evolução como ser social inserido no contexto. É possível converter uma vida sem porquês, desde que a vontade, a determinação e a busca pela vitória passem a pautar seus horizontes, e, nesse ponto, encontramos a palavra como o início da revolução cultural.
Ela não necessita ser bonita, mas precisa, contextualizada. Não requer aprofundamento técnico, mas disposição para conhecê-la e utilizá-la em sua plenitude: começa-se a escrever bem, ao ler e falar bem, portanto, não precisamos de uma língua retórica, mas do uso que a torne dinâmica e perfeita. Ou então, mermão...
O ser humano é mesmo estranho. Levou milhares de anos para se fixar Erectus; outros milhares para virar Sapiens; cerca de cem mil anos para gravar em pedras, Sapiens Sapiens, que se tornara; e agora, desenvolvidas e partilhadas as línguas oral e verbal, mundo afora, decidiu desaprender a falar e não sabe mais escrever. Por que especialmente no Brasil esse retrocesso é tão forte?
Em terras tupiniquins, o silêncio consentido que se experimenta na comunicação contemporânea, na verdade, começou a enraizar-se já faz algum tempo. Numa análise crítica desprovida de paixão e preferências literárias, pode-se ver seu nascimento no Movimento Cultural de 13, 15 e 17 de fevereiro de 1922, quando do advento da Semana de Arte Moderna, no Teatro Municipal de São Paulo: contestadora, destruidora, transcendental. A Pintura, a Escultura, a Música, a Arquitetura, tudo mudara seguindo os padrões das Vanguardas européias. Mas à palavra escrita concedeu-se a permissividade oral – defendida por ortodoxos lingüistas que as vêem como iguais – para solidificar o descompromisso com o saber erudito.
A crítica é dirigida à palavra, jamais à idéia, afinal não se pode negar a originalidade dos gracejos parodísticos de um Oswald de Andrade; ou o lirismo modernoso de um Manuel Bandeira; ou ainda a prosa denunciadora dos costumes de um Mário de Andrade, o primeiro descontente com os rumos do próprio movimento por não concordar com antropofagia cultural dos excessos oswaldianos. Defendo a tese de que idéias não se consagram ensimesmadas, e sim através de debates e discussões em torno de suas premissas. Entendo, entretanto, que a ruptura dos padrões clássicos, acusados de pedantismo sintático ou temática prosaica, forjaram a deselegância de um linguajar, hoje, esdrúxulo e pocotoístico que abalam os alicerces de uma língua neolatina rica e abrangente, em detrimento a todo esforço de sábios e mestres que buscam ministrar um aprendizado sem firulas idiomáticas, mas condizente com sua herança lingüística, mesclada de indianismos, africanismos e latinismos de rara e grande beleza etimológica.
Alguns céticos dirão que a palavra escrita, instrumento do Registro Formal, pode e deve-se adaptar às necessidades da massa, haja vista que o povo aprende e/ou repete o que lhe é ensinado, por conseguinte culpam professores taxando-os de mal instruídos e despreparados por não se aperfeiçoarem, conformados que estão com esse status quo. A esses críticos, respeitando-lhes as convicções e os dogmas, devo informar: muitos não têm chance num mercado exclusivista; outros precisam trabalhar em quatro, cinco, até seis estabelecimentos de ensino para que, aditados os parcos vencimentos, consigam sustentar suas vidas simples com o mínimo de dignidade. De fato resta-lhes nenhum tempo ou condição financeira que lhes permitam evoluir.
Que não se fecham os olhos à omissão do Estado que não provê o cidadão carente dos recursos necessários a uma vida plena, quer seja quanto a trabalho, moradia, saúde ou educação, entretanto não deve originar-se daí um estado de autocomiseração ou um impedimento natural por conformação que impeça sua evolução como ser social inserido no contexto. É possível converter uma vida sem porquês, desde que a vontade, a determinação e a busca pela vitória passem a pautar seus horizontes, e, nesse ponto, encontramos a palavra como o início da revolução cultural.
Ela não necessita ser bonita, mas precisa, contextualizada. Não requer aprofundamento técnico, mas disposição para conhecê-la e utilizá-la em sua plenitude: começa-se a escrever bem, ao ler e falar bem, portanto, não precisamos de uma língua retórica, mas do uso que a torne dinâmica e perfeita. Ou então, mermão...