A REVOADA DOS ANJOS / THE FLIGHT OF THE ANGELS

A REVOADA DOS ANJOS / THE FLIGHT OF THE ANGELS

JB Xavier

Acabo de preencher um cheque para uma doação a uma casa de assistência a crianças cancerosas. “E aí, o que eu tenho com isso?” pode me perguntar você que me lê. E eu responderia: Esse não é um cheque comum. Este encerra dois princípios que estão quase esquecidos pela humanidade, de maneira geral.

Antes de continuar, permito-me supor que o leitor compreenderá que sobre tudo o que for dito a seguir há exceções. Honrosas exceções, diga-se de passagem.

Pois bem, os princípios de que falei, não dizem respeito a mim. Nem pense que são sobre ajudar os desamparados da sorte ou sobre filantropia. Não. Eles encerram os princípios básicos da HONESTIDADE e da CONFIANÇA.

Deixem-me lhes explicar a sucessão de acontecimentos que terminaram pela emissão deste cheque. ‘Terminaram’ é força de expressão, porque com ele começo uma profunda reflexão sobre nossa atual maneira de conviver com nossos semelhantes.

Minha esperança ao escrever este artigo é que ele possa levar também você a refletir.

Certa tarde, vinha eu guiando o carro de minha empresa, quando, na saída do túnel Ayrton Senna, que atravessa o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, inadvertidamente, ao trocar de pista, “fechei” o carro que trafegava à minha esquerda.

Paramos logo adiante, e o homem, de origem oriental, visivelmente chateado, mas muito calmo e educado, olhou para o pára-lama de sua BMW azul e balançou a cabeça, desanimado. Olhou depois para meu Uno Mille parado logo à frente e sorriu.

Sorri de volta, e já fui lhe dando meu cartão, dizendo-lhe que mandasse consertar seu carro, que eu arcaria com a despesa. Se, porém, desejasse registrar um B.O. que estivesse à vontade para fazê-lo.

Ele percebeu que ali, parados, estávamos atrapalhando seriamente o fluxo do tráfego à saída do túnel. Então, ele aceitou meu cartão, e após trocamos mais algumas rápidas palavras, nos despedimos.

Enquanto eu voltava para o escritório, fiquei pensando no tamanho do prejuízo de minha distração. Se fosse feito um reparo no pára-lama, a coisa não ficaria por menos que R$400,00. Mas o carro era um BMW reluzente, de maneira que calculei que o pára-lama seria trocado, o que não me custaria menos que R$3.000,00

Uns dez dias mais tarde, o homem me ligou e disse algo mais ou menos assim: “Sobre o conserto de meu carro que o senhor amassou...” Respirei fundo e perguntei em quanto ficara o conserto. Ele respondeu: “Ficou em R$150,00.” Por um instante fiquei em silêncio duvidando do que ouvira. Mas o homem continuou: “Eu não vejo sentido em me pagar essa quantia. Ela não faz diferença para mim, e acho que também não faz para o senhor...” Eu sorri tentando entender que conversa estranha era aquela, mas o homem voltou a falar: “Se o senhor não se importa, gostaria de doar essa quantia a alguma instituição de caridade...”

Só então minha ficha caiu. Eu estava diante de um homem que poderia ter embolsado mais de dois mil reais, e no entanto não o fez. Poderia ter trocado a peça avariada, e preferiu repará-la! E agora estava doando o dinheiro do conserto.

Há muito tempo eu não via uma demonstração tão inequívoca e voluntária de honestidade. Digo voluntária, porque não são poucas as vezes em que somos honestos por obrigação, temendo a Lei, ou o que mais nos possa prejudicar.

Fiquei realmente comovido com aquele senhor. Prontamente pedi o número de sua conta bancária para fazer o depósito, pensando na sorte de ter batido no carro de uma pessoa que me mostrava que a humanidade não está perdida de vez! Mas ele me surpreendeu novamente: “Por favor, eu não quero nada disso. Se não lhe for muito incômodo, o senhor poderia fazer a doação para mim?” “claro!” respondi. “Minha empresa ajuda mensalmente duas casas que cuidam de crianças. Farei a doação em seu nome, pode ficar tranqüilo.” E enrubesci com sua resposta. “Por favor, não cite meu nome. Com esse dinheiro compre algumas cestas básicas e se desejar faça a doação em seu próprio nome. Apenas desejo que a doação seja feita.” “Fique tranquilo quanto a isso! – respondi exultante por estar conversando com alguém excepcional – Eu lhe mandarei o comprovante de compra das cestas básicas. Passe-me seu e-mail, por favor.” No outro lado da linha pude ouvir um sorriso. “Não precisa me enviar nenhum comprovante. Confio no senhor!”

Meu Deus do Céu! “Confio no senhor!” Há quanto tempo eu não ouvia isso, e há quanto tempo eu não SENTIA isso!

E assim, este cheque, que contém esses dois princípios elementares para a boa convivência humana, cumprirá sua missão de tornar menos dificultosa a vida dos que precisam mais que nós. Não fosse sua recomendação expressa de que seu nome não aparecesse, eu o divulgaria aqui. Mas respeito essa vontade que faz dele um ser muito maior que eu, que nem sempre sei ser tão discreto e tão pouco vaidoso.

Isto aconteceu no mês de maio de 2010. Dias depois, sofri um acidente vascular cardíaco que quase me tira a vida. E há alguns dias lembrei do compromisso assumido com aquele desconhecido que restaurou minha fé nas pessoas. Hoje, enfim, o cumpro.

Pois bem, contei essa história pelo fato de que ela é insólita, quando deveria ser comum! E o exemplo desse desconhecido me remete a outra realidade: Agora mesmo, vemos pelos céus do Brasil a revoada dos anjos-candidatos, buscando o voto dos anjos-eleitores.

Isso mesmo. Quando falamos de política, nós, eleitores, nos transformamos em anjos, execrando os políticos-demônios.

Somos todos perfeitos quando criticamos os políticos que nos governam. Por outro lado, os políticos que nos governam parecem se tornar ainda mais angelicais nesta época de eleições. Suas vozes ficam sedutoras, seus olhos brilham intensamente, seus sorrisos se tornam amigáveis e sua disponibilidade é total.

Entretanto, antes de se elegerem, eles eram nós. Por conseqüência, depois que se elegem, nós somos eles. Então, nós somos eles e eles são nós. Gostemos ou não, eles e nós estamos conectados, para o bem ou para o mal, até porque muitos de nós serão os políticos de amanhã.

“Espere!” poderão bradar aqueles que pensam que estou colocando – ou tirando – farinha do mesmo saco. “Você não pode me comparar a essa calhorda que emporcalha nossa política! Eu não sou corrupto, nem contraventor, nem faço nada errado perante a lei! Eu trabalho e pago meus impostos!”

Bom, lembro a compreensão para as exceções, que pedi no inicio do artigo. Os que assim bradarem, poderão ter razão, e se a tiverem, por antecipação lhes peço desculpas. Antes porém peço-lhes que façam um exame sério de seus atos, e principalmente do seu modo de proceder.

Se, após esse exame, eles concluírem que nunca baixaram um programa pirata em seus computadores, ou que nunca comeram uma fruta ou abriram uma embalagem num supermercado, se eles não concluírem que achado não é roubado e se esforçaram para encontrar o dono, que nunca venderam nem compraram nada sem a devida Nota Fiscal, que nunca tentaram furar uma fila, ou, no trânsito, nunca tentaram passar à frente daquele motorista idoso e de reflexos lentos, que nunca fingiram dormir no assento do coletivo para não ter que ceder seu lugar ao idoso, que nunca levaram para casa papel, clips, elásticos, grampos, lápis e canetas da empresa onde trabalham, que não corrigiram o feirante quanto ao peso dos legumes que ele por engano entregou em excesso, que nunca deixaram alguém na mão, que concluírem que nunca mentiram, ainda que seja uma “mentira santa” que nunca “entraram pela janela” num concurso, num emprego, num teatro, que nunca tentaram tirar vantagem de uma situação onde, pelas vias normais a ação não valeria a pena, que nunca jogaram lixo na rua, mesmo aquele inocente papel de bala, que nunca se omitiram numa situação em que a não-omissão os prejudicaria de alguma maneira, que devolveram ao caixa o troco a mais que ele lhes deu, que devolveram o livro emprestado, mesmo que o dono lhes tenha sinalizado não lembrar mais que o emprestou, se concluírem que não buscaram caixas de cerveja ou sacos de arroz do caminhão que tombou, por acharem que ele não tem dono, que não invadiram o terreno baldio ou o prédio vazio simplesmente porque ele não é seu, que, ao baterem o carro no estacionamento, esperaram a chegada do dono e se prontificaram a pagar o prejuízo, que devolveram o carrinho do supermercado ao lugar de onde o tiraram, que respeitaram os horários e os níveis de silêncio que manda a lei, seja por conta de festas, cachorros latindo, música alta, se concluírem que sim, não cometeram esses ou outros “deslizes” então sim, eu lhes peço desculpas.

Mas no geral, o que se pratica no Brasil é a Lei de Gérson.

É o caso por exemplo de um amigo que tenho há cerca de dez anos e cuja amizade entre eu e ele esfriou por conta de um comentário passageiro que ele fez ao me contar como um amigo dele lhe pediu para prestar falso testemunho em juízo, contra sua ex-esposa, a quem ele não queria pagar pensão. “E eu sou louco?” me disse ele “Falso testemunho dá cadeia!” E eu perguntei então: “E se não fosse a cadeia, você juraria em falso?” Ele silenciou e seu silêncio jogou um balde de água fria em nossa amizade.

O problema de nosso país, é o mesmo da maioria dos países que não tem história da qual se orgulhe: Educação, ou a falta dela. A palavra “deslize” exprime bem o que trata este artigo: A suposta diferença que existe entre o pequeno e o grande delito.

Na verdade a diferença está apenas na escala, porque na essência eles são os mesmos. Quem não devolve ao caixa a diferença a mais do troco, está se preparando para uma ocasião em que os valores forem maiores.

Outra diferença é a ousadia, ou coragem, ou a falta de ambas, se preferirem. A não-devolução do troco ao caixa, não acarreta maiores riscos do que um possível constrangimento e um pedido de desculpas. Já uma não-devolução de uma parcela da compra de um imóvel creditada por engano, pode se configurar em má fé e gerar sérios aborrecimentos legais e até mesmo criminais.

Neste ponto a coragem fala mais alto. Mas, para um povo que treina a ousadia nos pequenos e “inconseqüentes” delitos diários, não é muito estranho nem muito contraventor repetir o ato quando os valores envolvidos forem maiores.

A palavra “valores” do parágrafo anterior tem duplo sentido. Naquele o sentido é monetário, neste, é de princípios. Lembro que princípios são atitudes que mantemos, mesmo quando possam nos ser inconvenientes.

A diferença social abissal no Brasil gera níveis de educação também desiguais. Essa falta de padronização de princípios gera idiossincrasias que vão do ridículo ao trágico, e nossa cultura, moldada por séculos de prática de passar sobre as regras estabelecidas para obtermos vantagens, divide os delitos em pequenos e grandes, como se ambos não significassem o mesmo rompimento moral que praticamos contra os princípios gerais estabelecidos pela sociedade à qual pertencemos.

Como quem cria as leis, ou mesmo quem as administra, foram, em algum momento praticantes dos “pequenos delitos” é possível entender que, uma vez colocados diante de situações que lhes permitam delinqüir sem riscos, eles o farão. Diante disso, é possível prever também que as próximas gerações do Poder Legislativo e do Judiciário – sempre respeitadas as devidas e honrosas exceções – serão também, em alguma escala, delinqüentes.

Então, o advogado que “interpreta” a lei, torcendo-a de maneira a lhe oferecer vantagens, é considerado um bom advogado, como se isto fosse diferente de ficar com o achado que não lhe pertence. E a prática da jurisprudência sacraliza decisões tomadas, como se cada caso não fosse um caso, e se pudesse generalizar penalidades.

Um Juiz que vende liminares é o mesmo garoto que roubou com sucesso o gibi na banca da esquina. A diferença está apenas na escala e na impunidade.

Mas como evitar a impunidade se quem faz e quem aplica as leis são justamente os que não desejam ser por elas alcançados?

Da mesma forma, o político que gasta um milhão de reais para se eleger deputado, e que receberá de salários durante os quatro anos de seu mandato não mais que quinhentos mil reais, ou está debochando dos eleitores ou chamando-os a se candidatarem também, no próximo pleito. E num país dos “sem” – sem-teto, sem-terra, sem-emprego - é óbvio que exista também os sem-princípios. Estes farão fila para candidatos a candidato.

Uma vez dentro de um mandato, eles sabem que são praticamente inatingíveis. Não há praticamente nenhum Estado da União que não tenha pelo menos um (ou seria uma dúzia?) político marginal impune.

Infelizmente, neste filme, o bandido mata o mocinho, casa com a mocinha, e vive feliz para sempre.

Se aquele senhor do BMW quisesse, poderia lucrar o suficiente para passar um belo fim de semana com a família numa boa pousada do litoral paulista, e sem riscos de ser considerado desonesto. Mas ele preferiu ser seu próprio juiz. Aí está a diferença: Para sermos nossos próprios juízes, nós precisamos ter muito claro nossos próprios princípios. Precisamos ter a coragem de punir a nós próprios quando os transgredirmos e precisamos ter a honestidade para conosco mesmos de, ao errarmos – porque todos erramos – corrigirmos nosso erro dentro dos princípios que nos norteiam.

Creio ter sido honesto quando parei o carro e fui conversar com o homem, admitindo meu erro. E recebi em retribuição HONESTIDADE e CONFIANÇA. Como bom brasileiro, praticante da Lei de Gérson, creio que nesta eu saí na vantagem.

* * *

THE FLIGHT OF THE ANGELS

JB Xavier

I just write a check for a donation to a home care to children with cancer. "So, what do I care?" Can ask you, my reader. And I answer: This is not a standard check. It contains two principles that are almost forgotten by humanity in general.

Before continuing, I would assume that the reader will understand that on everything that is said then there are exceptions. Honorable exceptions, it must be said in passing.

Well, the principles I mentioned, doesn’t concern me. Do not even think they are about helping the helpless or some kind of philanthropy. No. It is about the principles of HONESTY and TRUST.

Let me explain the sequence of events that ended with the issuance of this check. 'Ended' is a figure of language, because it begins with a deep reflection on our current way of living with our neighbors.

My hope in writing this article is that it can also lead you to think.

One afternoon I was driving the car for my company, when in the exit of the tunnel Ayrton Senna, which crosses the Ibirapuera Park, Sao Paulo, inadvertently, I "closed" the car at my left side.

We stopped just ahead, and the driver, a man of oriental origin, visibly upset, but very quiet and polite, looked at the fender of his blue BMW and shook his head helplessly. Then, he looked to my little car, stopped just ahead, and smiled.

I smiled too, and in short order, I gave him my card, telling him to send her car fixed, I would bear the expense. If, however, he wishes to register the accident in the police, he was free to do so.

He realized that we were seriously disrupting the flow of traffic outside the tunnel. Then he took my card, and after we exchanged a few more short words, we said goodbye.

While I returned to the office, I was thinking about the size of the loss of my distraction. If a repair was done in the fender, the stuff would not be for less than US$200,00. But the car was a shiny BMW, so I figured that the fender would be changed, which would cost me US$3,000.00 at least.

Some ten days later, the man called me and said something like this: "About the repair of my car that you kneaded..." I breath deeply and asked how much cost the repairing. He replied: "It was for US$75,00." For a moment I Kept in silent doubting about I heard. But the man continued: "I see no sense you paying me this amount. It makes no difference to me, and I think it also does not for you too..." I smiled, trying to understand what was that strange conversation, but the man spoke again:" If you do not mind, I’d like to donate that amount to some charity... "

Only then I understood. I was talking to a man who could have pocketed more than two thousand dollars, and yet did not. I could have exchanged the damaged part, and chose to fix it! And now he was donating the money to repair.

Long ago I had not seen a demonstration so unequivocal and voluntary honesty. I say voluntarily, because there are few times when we're honest for obligation, fearing the law, or what else can harm us.

I was really touched by that gentleman. Promptly asked for the number of your bank account to make the deposit, thinking about the man that showed me that humanity is not lost at all. But he surprised me again: "Please, I do not want any of that. If you are not too uncomfortable, you could donate to me?" “Sure!" I said. "My company helps monthly two homes that care for children. I will make a donation in your name, do not worry." And I blushed with your answer. "Please do not mention my name. With that money buy some food and if you want, make a donation in your own name. I just wish that the donation is made." "Please, be quiet about it!” – I answered exultant to be talking to someone exceptional – “I'll send the voucher to purchase food baskets. Pass me your e-mail, please." On the other side of the line I could hear a smile. "No, my friend, it is no necessary to send me any voucher. I just trust you! "

Bless my heart! "I just trust you!" How long have I not heard it, and how long I do not feel it!

And so this check, which contains these two basic principles for good human relations, will fulfill its mission to make life less difficult to those who need us most. If he was not expressed in its recommendation that his name not appear, I will disclose it here. But I respect this desire that makes him one to be much bigger than me, which I know is not always so discreet and so little conceited.

This happened in May 2010. Days later, I suffered a heart attack that almost takes my life. And a few days ago reminded of its commitment to the stranger who restored my faith in people. Today, finally, I keep my word.

Well, I told you this story because it is unusual when it should be common! And the example of this unknown that brings me to another reality: Right now, we see the skies of Brazil the flight of angels-candidate, seeking the votes of the angels-voters.

That's right. When we talk about politics, we, the voters, become angels, decrying the policy-demons.

We are all perfect when we criticize the politicians who govern us. Moreover, politicians who govern us seem to become even more angelic in this time of elections. Their voices are alluring, their eyes shining bright, their smiles become friendly and their availability is total.

However, before we elect, they were us. Consequently, after they are elected, we are them. So, we are them and they are us. Like it or not, they and we are connected, for better or for worse, because many of us will be the politicians of tomorrow.

"Wait!" Will hail those who think I'm putting - or taking - birds of a feather. "You can not compare me to those bastards that pollutes our politics! I am not corrupt, neither offender nor do anything wrong before the law! I work and pay my taxes! "

Well, I’d like to remember the exceptions to the understanding, I asked at the beginning of the article. Those who thus cry out may be right, and if they really do, I apologize in advance. But before, I ask them to do a serious examination of his actions, especially their mode of proceeding.

If, after such examination, they concluding that have never downloaded a pirated program on their computers, or who never ate a fruit or opened a package in a supermarket, if they do not conclude that finding is not stolen and have struggled to find the owner, never sold or bought anything without proper invoice, which never tried to stick a row, or in transit, never tried to pass in front of that old slow reflexes driver, which never pretended to sleep in the seat of the collective not to have to give up her seat the elderly, who never took home paper clips, rubber bands, staples, pencils and pens of the company where they work, they did not fix the marketer as the weight of the vegetables that he accidentally delivered in excess, which never left someone without help, which conclude that never lied, even a "holy lie", that never used influences to win a competition, to get a job, to get a ticket of theater, never tried to take advantage of a situation where, in the normal way, the action would not be worth, that never threw garbage on the street, even one innocent candy wrappers, which are never omitted themselves, which returned to the box too much change that he gave them, they returned the borrowed book, even if the owner has signaled they do not remember more than the borrowed it, which they did not seek complete boxes or bags of rice beer truck that fell, because they think its have no owner, who did not invade the vacant land or empty building just because it is not yours, that when they hit the car in the parking lot, waited for the arrival of the owner and were willing to pay damages, which returned the cart of the supermarket where it took place, which comply with the timetables and levels of silence that the law demands, whether on behalf of parties, barking dogs, loud music, if they conclude that yes, they did not commit these or other "slips" then yes, I will apologize.

But in general, in Brazil we practice the Gerson’ law.*

This is the case for example of a friend of mine whose friendship between me and him has cooled because of a passing comment he made to tell me how a friend of his asked him to give false testimony in court against their ex-wife, whom he did not want to pay alimony. "I'm not crazy!" To say "False testimony can means arrest" And then I asked: "And if it not means jail, you'd swear false?" He kept quiet, and his silence has poured cold water on our friendship.

The problem of our country is the same as most countries that have no history from which prides itself: Education, or lack thereof. The word "slip" expresses well what this article wants to show: The supposed difference between small and big crime.

Actually the difference is only in scale, because in essence they are the same. Who does not return to the cashier the difference to more change, is preparing themselves for an occasion in which the values are greater.

Another difference is the boldness, or courage, or lack of both, if you prefer. The non-return to the cashier doesn’t mean risk of a serious embarrassment. A negative return of a portion the purchase of a property credited by mistake, in other hand, can configure it in bad faith and cause serious and even criminal hassles.

At this point the courage speaks louder. But for a people, who dare to train in the small and "inconsequential" crimes every day, it is not too weird or too offender repeats the act when the amounts involved are larger.

The word "values" of the previous paragraph has a double sense. In that, sense is money, in this is the principle. I remember that principles are attitudes we hold, even when it may be inconvenient.

The social differences in Brazil generate abysmal levels of education also uneven. This lack of standardization of principles generates idiosyncrasies that go from ridiculous to tragic, and our culture, shaped by centuries of practice to go over the rules to obtain advantages, divides crimes into large and small, as if they do not signify the same disruption moral practice against the principles established by the society to which we belong.

As anyone who creates the laws, or even those who administer it, were at some time practitioners of the "small crime" is thinkable to understand that, once placed in situations that allow them to transgress without risk, they will. Therefore, it is also possible to predict that the next generations of the Legislative and the Judiciary - always respected the proper and honorable exceptions – will be also, to some extent, delinquents.

Then, the lawyer who "interprets" the law, twisting it so as to offer advantages, is considered a good lawyer, as if this were different from staying with the finding that none of his.

Judge who sells injunctions is the same boy who successfully stole the comic at the newsstand on the corner. The difference lies only in the scale and impunity.

But how to avoid impunity if who does and who enforces the law are precisely those who do not wish to be achieved by the law?

Similarly, the politician who spends a million dollars to be elected deputy, and who receive wages during the four years of his term not more than five hundred thousand dollars, or he is making fun of the voters or calling them to come forward as well, at this election. And in a country of "less" - homeless, landless, jobless - it's obvious that there is also “principlesless”. These Candidates events will queue for the Candidates events.

When they become deputy, they know they are virtually unattainable. There is virtually no States of Brazil that does not have at least one (maybe they would be a dozen) marginal political impunity.

Unfortunately, in this movie, the villain kills the hero; get marries with his girlfriend and lives happily for ever.

If the man of the BMW wanted to, could make money enough to spend a nice weekend with family in a good inn on the coast, and without risks to be considered dishonest. But he preferred to be your own judge. Here lies the difference: To be our own judges, we need to make very clear our own principles. We must have the courage to punish ourselves when we transgress and must have the honesty to ourselves that, when we wrong - because we all make mistakes - we correct our mistake within the principles that guide us.

I believe I have been honest when I stopped the car and went to talk to the man, admitting my mistake. And I got in return honesty and trust. As a good Brazilian, also practitioner of Gerson Law, I think I went out on this in advantage.

* * *

* Gerson's Law:

Brazilian not written law in which the person who "likes to take advantage of everything" follows in the negative sense to take advantage of all situations for themselves, regardless of ethical or moral.

Gerson de Oliveira Nunes was one of the best football players from Brazil and world, and belonged to Legendary Football Team which won its third World Cup in 1970 in Mexico. The expression Gerson’s Law was born of an advertisement of cigarettes which he starred in the seventies.

* * *

JB Xavier
Enviado por JB Xavier em 24/08/2010
Reeditado em 24/08/2010
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