AS TRÊS FACES DO AMOR

As Três Faces do Amor

O ser humano experimenta, basicamente, três formas de amor, identificadas pelos antigos gregos como:

Eros, que está centrado na dependência dos parceiros;

Filos, que se baseia na segurança;

Ágape, o amor incondicional.

Primeiramente criamos couraças, máscaras que não refletem o nosso verdadeiro eu, na tentativa de nos defender e sobreviver, ficando imune à dor de um amor. Expressamos imagens que, acreditamos, vão garantir a aceitação por parte dos outros, vão atrair as pessoas para nós ou fazer com que elas nos admirem e queiram ser como nós. Desenvolvemos um conjunto de "jogos" que não são verdadeiros, mas que serve a nossos objetivos. Então, eros nos fisga. Eros, "o deus de olhos vendados", atinge-nos com sua flecha, e aquela flecha penetra através de todas as barreiras do ego e de mecanismos de defesa que criamos com tanto cuidado. Somos atingidos. Caímos "apaixonados". Fall in love...

RELACIONAMENTOS EROS

Os relacionamentos eros acontecem ao acaso, geralmente com uma pessoa do sexo oposto, freqüentemente sem relação com razão ou lógica, e são intensos, física e emocionalmente. O amor de eros percorre os hormônios, as glândulas e os órgãos, afetando as emoções em formas excêntricas. Esse tipo de amor manipula campos áuricos, elétricos e magnéticos, às vezes resultando em sentimentos, pensamentos e atitudes até então desconhecidos. Tipicamente não "nos apaixonamos" realmente pela pessoa, mas por quem queremos que ela seja. O amor de eros tende a ser fictício. Projetamos e fantasiamos nossas expectativas com relação a nosso parceiro. Chegamos ao ponto de dizer: "Eu preciso de você; conseqüentemente, eu o amo." Mais tarde, acontece o inevitável. Começamos a perceber que as qualidades imaginadas nunca existiram. Começamos a ver o parceiro como ele realmente é, não mais como queremos que seja. O amor diminui gradualmente, e a experiência se torna dolorosa. Dói "desapaixonar-se". Não conseguimos aceitar nosso parceiro como ele é e não nos vemos como seres que podem ser aceitos. Nessa fase, não nos vemos e nem somos completos ainda, por isso procuramos por alguém que nos complete, que preencha os espaços vazios. Nos relacionamentos eros, atraímos parceiros que têm o que falta em nós. E, quando encontramos a peça que faltava, achamos que ela forma uma dupla! As pessoas se apaixonam por causa da correspondência de vulnerabilidades e inseguranças, não por causa da correspondência de forças. Eros é extremamente poderoso. As barreiras do ego que mantínhamos de forma tão eficiente vêm abaixo e "nos apaixonamos", apesar de não querermos ou pretendermos isso! Somos absolutamente impotentes. Nesse tipo de paixão, a intensidade de eros é sempre temporária. Chega o momento em que acaba a lua-de-mel. Os problemas têm início quando, dolorosamente, começamos a reconhecer no nosso parceiro características que não são exatamente o que pensávamos. As defesas se erguem novamente à medida que os dois amantes começam, gradualmente, a reaprender que são pessoas diferentes, com identidades diferentes.

Às vezes, rapidamente saímos do relacionamento que fracassou e, como remédio, procuramos outra pessoa por quem nos apaixonar. Acalentamos a idéia de apaixonar-nos e viver felizes para sempre. Criamos as barreiras do ego umas após as outras, enquanto buscamos o relacionamento "perfeito", barreiras geradas por experiências do passado, resultado de muita "roupa suja", infelicidade, miséria, projeção, acusação, culpa e censura de relacionamentos anteriores, e isso invariavelmente é levado para o novo relacionamento.

RELACIONAMENTO FILOS

Depois do caos inicial da atração de eros, um relacionamento que muda de forma e se torna um relacionamento de compromisso, pode cair na monotonia e continuar no "piloto automático". Em vez de separação, divórcio ou relações clandestinas, os dois parceiros se decidem por um relacionamento certo, seguro - e previsível. Isso define nosso amor como filos. Filos que dizer: passamos pelo estágio da lua-de-mel e nos tornamos mais realistas no que diz respeito ao outro. Já nos "desapaixonamos" e começamos a nos reconhecer como indivíduos novamente. Começamos a reconhecer os valores do outro e nos comprometemos a partilhar a vida. O amante do tipo filos sabe que é um ser separado da coisa que ama. A ênfase num relacionamento do tipo filos é geralmente material. A atenção está no próximo carro, numa casa maior, num emprego melhor, nos clubes mais agradáveis. O estilo de vida é importante. E o estilo de vida que conta é o que é considerado adequado e aceito pela norma. Isso implica algumas pressões e aceitação da família, da igreja, da sociedade. O amor de filos é o tipo de amor que uma pessoa tem por um carro, por uma carreira ou por qualquer coisa pela qual ela tenha interesse, mas com a qual ela não se identifica, na medida em que quebra as barreiras do ego.

Num esforço para manter esse estilo de vida, freqüentemente as partes mais profundas do eu são suprimidas ou negadas. Os sentimentos e pensamentos mais profundos são sacrificados. Lida-se com as questões, mas num nível superficial. "Vamos manter tudo agradável, com flores, e fingir que tudo está bem." Geralmente, há respeito e verdadeira compreensão, embora não haja um conhecimento profundo do outro. Com freqüência, os parceiros vivem como estranhos, partilhando um espaço comum. Às vezes, há um sentimento de resignação, ressentimento e tédio nos relacionamentos filos. Os parceiros se falam, mas nunca conversam, olham um para o outro, mas não se vêem. Freqüentemente, você pode observar filos em ação em restaurantes, onde o casal fica de frente um para o outro, à mesa, e conversa muito pouco ou nada, simplesmente fazendo a refeição junto, passando o tempo. Mil pensamentos podem passar pela cabeça: "Poderia ter sido diferente..." "Se ele fosse diferente..." "Se eu não tivesse renunciado à minha carreira..."

"Se nós não tivéssemos tido filhos tão cedo..." Há o sonho do "que poderia ter sido" em sua mente, acompanhado de sentimentos de amargura ou culpa com relação ao parceiro dela, por não ser o homem que ela acreditava que fosse quando se casaram. Às vezes, as razões para se manter um relacionamento são baseadas na necessidade. Precisamos manter a aprovação da família, da comunidade, da igreja, etc. Mesmo que o relacionamento possa não ser totalmente satisfatório, satisfaz em muitos níveis e talvez seja melhor do que ficar sozinho.

RELACIONAMENTO ÁGAPE

Aquele que você sente amor pelo homem que seu parceiro é, não separando-o em qualidades e defeitos, ou alocando-o em uma forma estereotipada exigida pela sociedade, mas como um Ser Completo, íntegro, que compartilha contigo intimidades sexuais e morais, sociais e mentais. Um amante, um parceiro, um amigo, um companheiro. Não amamos por causa de, ou apesar de... apenas pelo sentimento. E o coração não nega - ele existe, pulsa, pode não ser uma chama flamejante como o amor de eros, mas inunda-o de prazer e calma, relaxa, tranquiliza. Traz segurança, crescimento, amadurecimento, e passo-a-passo trilha-se um caminho que os torna mais cúmplices, mais verdadeiros um com o outro. Não há raiva ou mágoa, muito menos ressentimento guardados, porque acima de tudo há Amor. Como no caso dos filhos, que não guardamos ódio pela quebra da televisão ou perda da carreira, há o mesmo sentido em relação ao homem-ágape. Você deixa-o livre, porque sabe que é um ser individual, e sente a mesma reciprocidade. O comprometimento que existe deriva do sentimento que os une, não da posição social ou financeira; há tranquilidade e paz. Aqui, como nos demais, é lógico que pode surgir desejo por outras pessoas, mas somente nessa fase o desejo será encarado como "atração por alguém belo", e nada mais do que isso. Saciados, satisfeitos, não estão carentes ou desprovidos de algo, apenas ainda são humanos e sabem o que é beleza e sedução. Não há jogos, estratégias ou máscaras - simplesmente porque naõ existe a tentativa de aprisionar alguém. Há plena segurança do sentimento que um sente pelo outro.

Dizem que esse Amor só encontramos em relação a filhos; pois quando unidos ao sexo oposto, misturamos desejo e paixão, e nos tornamos possessivos e críticos, desejando ser amados como amamos, às vezes mais do que amamos, jamais menos. Dar implica em receber, sempre. Bem, quem pensa assim é porque ainda não ultrapassou a terceira fase de um relacionamento - a paixão, o desapaixonar-se, a reconquista, o re-começo, e enfim, o relacionamento. Normalmente estamos sempre correndo, buscando, e esquecemos de fazer do encontro uma união, achando que em outro poderemos encontrar logo a fase ágape, pulando etapas de sofrimento e mágoa. Ledo engano: amar é um eterno aprendizado, e quanto mais amamos, mais sentimos que não sabemos nada dessa força mágica e poderosa.

Terminando, há quem diga que o Amor teria três faces - Eros, Afrodite e Pã; e um relacionamento para a vida inteira passaria inevitavelmente por todas. A conquista da junção seria individual, e dependeria da força do sentimento individual, e da capacidade de relacionar-se, bem como da perseverança em trilhar o caminho em direção a um Amor ágape.

Então, se amar é preciso e não se vive sem o amor e sem amar; logo o amor é um aprendizado contínuo, um eterno buscar.

No amor não há um basta, nem ele a si mesmo se basta.

Ama-se, ama-se, ama-se... e de amar e o próprio amor não se desgasta.

Paulo Roger e ou Paul Roger
Enviado por Paulo Roger e ou Paul Roger em 15/08/2010
Código do texto: T2439919
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.