O ADOLESCENTE E O GRUPO

No processo de desenvolvimento do adolescente, o grupo desempenha várias funções importantes. Sendo uma sociedade em miniatura, o grupo abre caminho para um determinado estilo de inserção social. Digo «um determinado estilo» para salientar os modos diversos de integração, consoante as características do grupo e a equação pessoal de cada adolescente.

Na puberdade, o grupo tem uma dinâmica intra-sexual, juntando-se rapazes com rapazes e raparigas com raparigas, em actividades de interesse comum. Isso corresponde sobretudo à necessidade de cada um avaliar/aferir a sua identidade em face dos seus pares do mesmo sexo que, para o efeito, funcionam como espelho. É uma fase de partilha das «secretas» transformações e sensações físicas, quer pela visualização das mesmas (em balneários, por exemplo), quer através de confidências (segredinhos), quer ainda por meio de contactos e experiências sexuais mais ou menos insipientes e pontuais.

Mais tarde, a partir dos 15/16 anos, os adolescentes passam a formar grupos que podem ser mistos e diversificados (desportivos, culturais, religiosos e outros), podendo o adolescente pertencer a mais de um deles simultaneamente. Sublinho pertencer pois há aqui uma relevante necessidade de pertença. No grupo a que pertence, ele é aceite e reconhecido. Lá, ele encontra solidariedade (um por todos e todos por um), identificação e segurança. O grupo, esse pequeno mundo, é também uma espécie de fortaleza e refúgio.

Mas o grupo tem regras. Há um líder. É preciso acatar decisões e «alinhar» em tudo. De certa maneira, e em certa medida, o grupo acaba por «formatar» os seus elementos, visto que é indispensável que o grupo funcione em bloco, e que as palavras de ordem sejam acatadas por todos. Assim, os membros de um grupo sujeitam-se aos mesmos rituais, adoptam a mesma ideologia, a mesma linguagem, gestos, vestuário, autodecoração, hábitos e práticas em geral.

Do «culto do eu», típico da primeira fase da adolescência, passa-se ao «culto do nós». É claro que daí podem resultar rivalidades entre grupos, (porque «nós» é que somos os melhores), e também podem gerar-se atitudes hostis de crítica e/ou acção violenta contra a sociedade estabelecida, contestando-se os antigos modelos socioculturais, e contrapondo-lhes uma originalidade «nossa» que nada tem a ver com a «caretice» dos esquemas antiquados e obsoletos. Esta oposição pode ser dirigida a certos núcleos, como a família, a escola e a igreja tradicionalistas, mas pode também ir mais longe, através de movimentos de contestação societal e sociopolítica de dimensão mais vasta, com manifestações públicas e formas concretas de luta por um mundo melhor (leia-se diferente).

Agora um aspecto prático, que talvez mais directamente nos toque, como cristãos: quando na nossa comunidade há um adolescente que pertence ao grupo de jovens da mesma, mas também está ligado a outro grupo bem diferente. Há casos de adolescentes assim, que levam para o grupo secular algo do grupo religioso. Mas o inverso também pode suceder. E quando se sabe que um adolescente cristão anda metido com «aquela gente horrível» dum grupo dito «marginal», e começa a destilar ideias e práticas pouco ortodoxas? Será esse adolescente censurado ou segregado pelo grupo cristão? Será ele rejeitado de modo latente ou até mesmo formal? Às vezes isso acontece.

Um tal adolescente, duma das igrejas ditas cristãs, se se vier a

sentir a mais, se ouvir «bocas» indirectas, certos olhares ou risos de troça, um certo afastamento (como se de um «leproso» se tratasse!)... ele, que se sente mal visto, tratado como uma ovelha tresmalhada, ao sentir-se indesejado, o mais provável é que se passe para o outro grupo (secular) não sem um resíduo de mágoa e uma imagem negativa acerca do «cristianismo» dos seus parceiros(irmãos!?).

E se um grupo cristão de adolescentes exclui, mesmo só implicitamente, um dos seus membros, que dizer daquelas igrejas que ainda «excluem» («exclusão» - termo ainda não definitivamente banido!) os membros que pisam o risco, infringindo o regulamento interno eclesiástico ou outras normas por vezes bem controversas?

Sem pretender fazer generalizações incorrectas e injustas, ouso perguntar: Será que nós, os adultos, estamos a ser modelos cristãos positivos para os nossos adolescentes? E quando assim não é, onde vão eles encontrá-los?

É certo que os cristãos, por serem adultos não são por isso perfeitos ou infalíveis. Mas julgo importante que se sintam (nos sintamos!) mais responsáveis neste aspecto.

Denuncia-se tanto a exclusão social no mundo secular! Condena-se a rejeição, a discriminação, o desprezo preconceituoso pelos que têm comportamentos divergentes, a indiferença face aos que vivem na miséria, por falta de poder económico ou de força reivindicativa.

E a Igreja de Cristo? Que atitude tem, e que procedimento?

O grupo de adolescentes é parte integrante da mesma, e o seu comportamento não pode dissociar-se do da comunidade cristã como um todo.

Leiria (Portugal), Agosto, 2010

Orlando Caetano
Enviado por Orlando Caetano em 14/08/2010
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