Pilha de Ilusões
Sempre soube do descaso das editoras com os originais (livros) que lhes são encaminhados via correio, mas, sinceramente, fiquei surpresa com a reportagem no caderno Prosa & Verso do Jornal O Globo. A maioria das grandes editoras recebe aproximadamente cem originais por mês, por volta de mil por ano, e sequer tem um funcionário para ler esses originais, a leitura é um trabalho secundário, feito nos intervalos (?!) entre outras tarefas. Nos últimos anos, as editoras consultadas para a reportagem publicaram zero ou quase zero a partir do que chegou pelo correio. A exceção é a Rocco, que publica cinco livros por ano com base nesse material (de até 1500 recebidos). Nesses últimos quinze anos temos tido resultados muito bons com os livros que vêm pelo correio, sejam de ficção ou não-ficção, conta Vivian Wyler. Às vezes eles não estão na forma ideal, mas, se a idéia é boa, pode passar por vários processos de edição. É o que é feito por várias editoras americanas, mas no Brasil esse tipo de prática não é comum.
Ainda segundo a reportagem, mesmo bons livros de gente nova deixam de ser publicados, por critérios comerciais, ou porque o livro é considerado bom mas não o bastante para substituir outros que já estavam no cronograma de impressão. Das revelações surgidas nos últimos anos na literatura brasileira, poucas começaram por grandes editoras. E para não deixar que seus originais “mofem na gaveta”, a maioria dos novos escritores acaba bancando a publicação de seus livros, e fazendo a venda via internet.
Esse não é um problema exclusivo das editoras brasileiras, grandes escritores como Marcel Proust (de “Em busca do Tempo Perdido”), sofreram para publicar suas obras. Mas o problema aqui, conforme já comentei em outro artigo, é que as editoras não têm “de fato” qualquer preocupação em extrair, no meio dos originais enviados, talentos promissores, nem muito menos disposição em investir (nesses talentos).
Outro grande problema é que no Brasil não existem boas editoras médias, voltadas para ficção nacional. Ou são as grandes, que lançam seus 5, 10, 15, 30 livros por mês ou as pequenas em que alguns autores até pagam para publicar, escreveu um autor para o Jornal O Globo.
Até o cara escrever seu terceiro livro e a Record, Rocco etc publicar, ele fica relegado ao anonimato das pequenas, em que o livro é até comentado, mas não é encontrado nas livrarias nem do Rio, imagina do resto do Brasil.
É no mínimo revoltante o pouco interesse dos editores pelos originais não solicitados.
Editoras - Livros recebidos - Prazo - Livros publicados
Ediouro - 60 a 75 por mês - 6 meses* - Nenhum em 2 anos**
Companhia-120 por mês - 4 meses* - 2 em 6 anos**
Record - 80 a 100 por mês - 9 meses* - 2 em 11 anos**
Rocco - 100 a 120 por mês - 2 meses* - 5 por ano**
Objetiva- 80 a 100 por mês - 3 a 4 meses* - 2 em 13 anos**
* Esse é o prazo que as editoras dizem que mandam uma resposta para o autor, mas eu posso garantir que isso não acontece. Atualmente é muito raro que autor receba qualquer reposta da editora.
** Média em vigor há tempo não especificado, conforme as próprias editoras para o Jornal O Globo.