A APLICAÇÃO DA FILOSOFIA NA MAÇONARIA



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A Maçonaria tem como um de seus principais escopos a prática filosófica. Ela se credita como uma Instituição Filosófica. É o que dispõe o item I, da Constituição do Grande Oriente do Brasil, ao enquadrá-la no título I "Da Maçonaria e seus princípios" e Capítulo I "Dos princípios gerais da Instituição".
A palavra Filosofia é formada por duas raízes : "amor, tendência ou aspiração" e "saber". A primeira raiz outra coisa não é senão a tendência ou aspiração à Segunda, ou seja, à sabedoria. Essa formação já fora empregada por Heródoto e Tucídides.
Mas, no fundo, o que busca a Filosofia na sua busca através da Sabedoria? É a busca da verdade pela verdade. E a Maçonaria almeja que cheguemos à verdade, através dos ensinamentos transmitidos aos seus filiados, embora com o uso do simbolismo.
A prática da Filosofia não é como se costuma pensar uma simples prática de gabinete. Para o maçom ela não deve ficar jungida simplesmente às discussões que possam advir nos momentos de estudo ou no relacionamento com seus irmãos. Ela tem um caráter profundo que demanda o aperfeiçoamento do próprio eu, para que possamos relacionar com o outro. É a posse de si, considerada como tarefa de toda vida humana. É o que nos ensina Seneca: "Quem se possui não perdeu nada; mas quantos são os que têm a felicidade de se possuir?" Nesse relacionamento com o outro, na busca da verdade para nós mesmos e possibilitar que essa mesma verdade possa resultar cristalina no pensamento de nosso semelhante, é que a prática filosófica maçônica não deve ser encadeada no interior dos Templos.
A atitude de um dos maiores filósofos da humanidade nos demonstrou isso. Não se enclausurou no seu gabinete, não estava encimado pelo egoísmo de tudo saber e nada transmitir. Não se amedrontava de expor suas idéias, embora soubesse que elas constituiam, como sempre determinaram, um perigo para aquele que infunde ao raciocínio do igual. Sócrates nos demonstrou essa circunstância determinante, Iá à praça pública procurando despertar à consciência adormecida, não só dos seus pares, mas do próprio povo em geral. Não trazia explicitada a verdade. Ela não era colocada de imediato ao conhecimento do seu interlocutor. Através de sua dialética, fazia com que seus ouvintes chegassem a uma compreensão do que então lhes parecia velado, depositado no inconsciente. Podemos dizer que ele foi o primeiro psicanalista da história a fazer vir ao consciente o que havia sido sepultado no inconsciente ou se encontrava no pré-consciente. Sim, porque o psicanalista não tem uma forma de dar ao analisando um caminho já pronto, mas através da própria exposição, este último chega, através da racionalidade do ego, a trazer à tona o que já havia sido depositado, quer pela imposição ambiental, quer pela genética, ou, até mesmo pelo "inconsciente coletivo".
Um pretenso filósofo, - ou que o seja total, - ou quem se filia a uma instituição filosófica, não pode ficar sentado atrás de sua mesa de trabalho, com o simples saber que aquele pertence, contentando-se a ouvir e não perquirir ou se ater a simples livreto, bastando-lhe as conjecturas, não colocando em movimento os infindáveis neurônios que subsistem para cumprirem as sinápses determinadas pelo conhecimento advindo; não aceitando ou tendo velado seus ouvidos no recebimento de qualquer sopro de outros pensamentos, para direcionar seus pensamentos e fazer aqueles que não estão afeitos à ciência da sabedoria, à Ciência de todas as coisas por suas últimas razões, possam conhecê-la. Simplesmente está agregado a uma instituição, não é parte atuante dela.
A Sabedoria nos faz conhecer os princípios da moral, seguí-los, possibilitando ao homem o cumprimento do seu destino.
Ao filósofo cabe, através de sua ilustração procurar destruir a ignorância, instruir o semelhante , fazê-lo chegar à verdade. No Grau 14 encontramos explícita essa determinação: "A ignorância a ninguém suporta, é mister pois educar o povo".
Não é dentro da Loja Maçônica que exclusivamente assim devemos agir, pois se presume que ao ser iniciado o neófito não é ignorante e já andou procurando desvendar o véu da verdade. E os ensinamentos vão se intensificando através do simbolismo dos rituais. O maçom persegue a verdade e não fica estático nos seus conhecimentos filosóficos. Como se tem proclamado “a Maçonaria é a verdade em ação”. Não estacionando no simbolismo irá subindo na escada do conhecimento filosófico. Principalmente, no Grau 33, temos perguntas formuladas pela nossa inteligência e pela nossa ânsia de conhecer o desconhecido, que não podem ser olvidadas e virarmos às costas às suas elucidações. Isso porque, a Filosofia Maçônica, como a própria Filosofia em si, constitui um saber diferenciado. Enquanto as demais ciências estudam o real, em todas as suas divisões, e procuram as razões ou primeiras causas, a Filosofia se funda na realidade total e suas investigações se encontram no âmbito das últimas razões. Mas, apesar dessa particularidade não existe ciência que não esteja abarcada pela Filosofia. Portanto, nos que estudamos Filosofias, estamos, ao mesmo tempo, conhecendo as demais ciências.
O lugar do filósofo é na praça pública como o fazia Sócrates, entendendo-se a praça onde quer que esteja reunida mais de uma pessoa. Se não vai usar a "maiêutica", poderá se ocupar da dialética para a condução do caminho a ser percorrido para o bem pensar e transmitir.
É claro que não devemos nos ater sem tergiversação aos princípios emanados do conhecimento Socrático, pois seu método era composto de três fases: a ironia, a maiêutica e a indução. A primeira levava o interlocutor, com suas perguntas, a tomar consciências da própria ignorância e confessá-la.
Há os que fazem "tabula rasa" dos princípios filosóficos, como se fossem perfeitamente dispensáveis e que não se pode mais pensar neles num mundo globalizado, da cibernética e da informática. Todas as respostas podem nos vir às mãos, dispensando horas de estudo e priorização racional. Quem assim se dispor a pensar jamais buscará a verdade, que praticamente não estará no outro, mas em si mesmo. Qual das ciências não teve o colo maternal da filosofia?
A Filosofia pode dar a impressão primeva de que está ultrapassada, que é da própria senescência, porque não estará incluída na ciência experimental, através do seu pragmatismo e não pode ser anunciada através de tubos de ensaios. Mas é ela quem aceita debater métodos científicos como a razão do viver, o fator morte, a reencarnação, a distinção entre o bem e o mal, do estabelecimento da visualização do belo e do feio. Não sendo possível o conhecimento exato desses princípios, eles fogem do âmbito científico, mas estarão proclamados dentro da indagação filosófica.
Ela constitui uma hipótese do desconhecido ou do que não há exatidão do conhecer. Ela discute sobre o incerto e o inexplorado e abre campo para a cientificação. Como já se pregou "a filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto do ponto de vista da totalidade. A visão da filosofia é uma visão de conjunto" – "Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a filosofia, no sentido inverso, quer superar essa fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado".
Quando a Maçonaria preconiza a liberdade do homem, e o define como livre e de bons costumes está praticamente fazendo filosofia. Quando fala no Grande Arquiteto do Universo está falando na ciência filosófica suprema: a Metafísica.
Descartes nos dá sua concepção sobre filosofia: "A palavra "filosofia" significa o estudo da sabedoria, e "sabedoria" não significa somente a prudência nos assuntos diários, mas também um perfeito conhecimento de todas as coisas que a humanidade é capaz de conhecer, tanto para a condução da vida quanto para a preservação da saúde e para a descoberta de toda espécie de habilidade. Para que este tipo de conhecimento seja perfeito, é preciso que seja deduzido de suas causas; assim para começar a filosofar – e é esta atividade que o termo "filosofar" se refere a rigor – devemos iniciar pela busca das primeiras causas e princípios. Tais princípios têm que satisfazer duas condições. Em primeiro lugar, devem ser tão claros e evidentes que a mente humana não possa duvidar de sua verdade quando se toma em consideração atentamente; e, em segundo lugar, o conhecimento de outras coisas deve dele depender, no sentido de que os princípios devem poder ser conhecidos sem o conhecimento de outros assuntos, mas não o contrário. Em seguida, ao deduzir desses princípios o conhecimento das coisas que deles dependem, devemos tentar garantir que tudo o que retiramos da cadeia completa de deduções seja muito evidente".
Como disseram alhures "a filosofia é a procura amorosa da verdade"- Diria que a maçonaria, através da pedra filosofal de seus ensinamentos, é a procura amorosa e incansável da verdade. É a Maçonaria em ação, conforme dissemos.
Esse amor da Maçonaria com a verdade não pode vir a ser compreendido como um diáfano da fantasia.
Kierkegaard proclamou: "Frustar alguém no amor é a mais terrível decepção; é uma pedra eterna para a qual não há compensação, na vida ou na eternidade". Assim, não podemos deixar que o maçom se fruste na busca da verdade, porque estudando a filosofia maçônica outra coisa não estará senão a colocando em movimento para o saber.
A verdade é o conhecimento do real. A filosofia é a busca da realidade, logo é seu apanágio a verdade.
O problema da verdade é o problema do conhecimento. É o ponto de partida de uma verdade primeira que não pode ser posta em dúvida como se referiu Descartes. Sobre a busca da verdade mencionou que traz em si a concepção de que a "luz natural" inata ou "luz da razão", infundida em cada um de nós, leva-nos mais longe na estrada do conhecimento, do que toda sabedoria herdada no passado.
A única sobrevivência entre a vida e a morte é o amor. Quando o homem ama não está mais a mercê de forças maiores do ele próprio, pois torna-se poderoso. Se eu encontrar a verdade eu estarei a amando, por isso devo procurar na filosofia essa verdade transcendental, não a minha, não a de outrém, pois cada um tem a sua verdade, mas aquela que seja uma verdade em ação e não em potência. E a Maçonaria o é. E através dela se pode filosofar. É o que nos disse Kant: "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". E, filosofar é dar sentindo a experiência. A essa experiência que os Grandes Inspetores Gerais do Brasil têm não como resultado dos seus anos de trato com a filosofia maçônica, mas, também, pelo passear pelos Graus 4 a 33, abeberando neles ensinamentos seculares e que constituem o alicerce de um Templo Indestrutível que a filosofia maçônica tende a erigir.
A Filosofia Maçônica é a "Paidéia", e a constituinte da formação do maçom. Essa Filosofia Maçônica irá, sem sombra de dúvidas, transformar o aprendiz, burilando, aprimorando as suas qualidades, possibilitando que alcance um nível maior do conhecer. Ele irá descobrir a si próprio, aprimorar-se e, certamente, terá um vislumbre melhor da vida e, por conseqüência, uma experiência profícua.
Podemos dizer que o povo maçônico é o povo filosófico por excelência. Ele pauta sua vida e a ação por ela exigida, em princípios ideais impostergáveis e justos, princípios esses rigorosos, mas que vão constituir a sua evolução imprescindível.
"ORDO AB CHAO" (Ordem no Caos), é a imperatividade que nos depara ao adentrarmos a Câmara do Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito. Certamente que essa norma não se atém à Filosofia Cosmogônica, mas, principalmente, que continuemos através dos ensinamentos da Filosofia Maçônica, que substituamos o Caos do preconceito, pelo trabalho incessante e dedicação sem par, pelo nosso aperfeiçoamento, uma vida que não seja obstruída por dogmas, mas por princípios que prega nossa necessidade de chegarmos à perfeição ou, que ela seja constantemente procurada para que ordenemos o Caos de nossa alma e de nossos conhecimentos, fazendo exsurgir à luz da verdade.


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Mendes Neto
Enviado por Mendes Neto em 06/08/2010
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