NO ALTO DA MONTANHA
Guida Linhares

Não passei a vida em brancas nuvens. Se eu morrer hoje, morro muito feliz. Nos verdes anos da juventude acalentei alguns amores até a chegada do príncipe, que se desencantou ao longo dos anos. Mas o que é eterno nesta vida? Nada é eterno, nada é para sempre! Pessoas passam por nossa vida, deixam o seu perfume e levam um bocadinho do nosso, para que um dia quando as saudades baterem forte, possam fechar os olhos e sentirem o nosso perfume, as palavras trocadas, o amor compartilhado.
Aquele que ama sempre é bendito, sempre se enriquece, ainda que o amor não seja correspondido, ou seja apenas uma farsa, uma fantasia.
Amores virtuais chegam e nos envolvem em sua aura de magia. Alguns se tornam reais, outros não..são tão voláteis quanto os versos não salvos que evaporam
quando as luzes repentinamente se apagam! E há que se ter um estoque de palavras, de sentimentos, de emoções, para que se recoloquem novos versos, se busquem novos amores, se reconheça que o virtual se alimenta de emoções muitas vezes tão efêmeras, que duram breves instantes. Mas que nesse encantamento, as carências existenciais encontram um porto seguro,  um preenchimento,uma companhia de algumas horas.
Há quem diga que as paixões virtuais não tem corpo, nem tem alma.  Eu diria que elas alimentam tanto o corpo com suas necessidades fisiológicas, quanto à alma em busca de sua outra cara metade, sua outra porção, seu outro similar.
E tantas vezes, quando encontramos alguém que nos parece perfeito, há empecilhos por demais, que fica muito melhor que se afastem ambos, que vivam cada um a sua vida, guardando como recordação, os poucos momentos de um encantamento duplo, quando os universos se desvelaram, se despiram de seus trajes de gala, se despojando das gentis máscaras que muitas vezes são utilizadas, até para poder disfarçar uma tristeza passageira, um sentimento de abandono,  uma rejeição fora de época, uma angústia que aperta o peito.
Mas o que é a vida senão um sinuoso rio que nos transporta entre flores e seixos, a serpentear entre as águas do tempo, cheias de emoção e ilusão acalentada. Assim caminhamos vagarosamente, contemplando a paisagem, e nela deitando nossos desejos, sentindo o calor de um abraço, nem que seja da árvore mais próxima, e o frescor do beijo molhado, quando vemos o alegre beija-flor e beijocar todas as flores. E vamos movimentando corpo e pensamento, refletindo sobre a vida e os encantadores momentos vivenciados.
Saímos da beira do rio, às vezes com um cesto repleto de flores amorosas e alegres; outras vezes com pedrinhas no coração, algumas de tristezas, outras apanhadas nas esquinas da vida, onde os desencontros acontecem. E vamos indo, sopesando o cotidiano em sua extensão...
O rio termina no pé da montanha. Olhamos para o alto! A subida íngreme nos faz sentar um pouco, retomar o fôlego, proteger os pés, tomar uns goles de água, fazer o sinal da cruz..e com ela subir pelas escarpas, sem olhar para trás! Apenas os olhos fitos no cume, subir e subir sozinha? Não! Deus nos segura pela mão, afagando o coração, cicatrizando as feridas da alma.
E quando
lá no alto chegarmos, depois da árdua subida, sentiremos que valeu a pena viver tanto, valeu a pena ter amado tanto, ter sido um grão de areia na imensidão do universo e ainda assim, ter plantado aqui e ali algumas sementinhas de amor. Então, abrimos os braços  como se o céu fosse nos acolher. Fechamos os olhos, e apenas sentimos a brisa a embalar o nosso corpo e o chilreado dos pássaros em nossos ouvidos.
E aterrisamos em nuvens de algodão recheada de todos os sonhos reais e fantasiosos, que tivemos ao longo da jornada terrena, pois através deles, sentimos o encantamento e a plenitude da vida, que aparamos as nossas arestas e, sobretudo deixamos como legado à nossa prole, aos nossos tantos amigos e amigas do coração, o reforçado  ensinamento de Cristo, nosso Mestre:

Ama ao próximo como a ti mesmo!

Santos/SP/Brasil
21/04/08


Jardim de Versos e Prosas
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