PERDOAR.
Termo tão usado, mas tão pouco praticado, apesar de tão pregado por muitos segmentos religiosos.
Porém, como palavras ao vento, o perdão não acontece tão facilmente no nosso comportamento diário.
Dizem que perdoar é esquecer e ai já começa a grande dificuldade, pois somos seres históricos, com memória e, portanto, é muito dificil ter o esquecimento como condição para o perdão. Tenho constatado
que perdoar, muito mais do que esquecer, é um constante exercício de desprendimento. Desprender-se significa desvencilhar-se do que está ligado. Deixar para trás, sem alimentar as emoções que as referidas lembranças causam. E ai sim é possível, num determinado momento, não mais se ter o registro do acontecimento na memória, que podem transformar-se em vagas lembranças, que com o tempo,
cada vez mais irão se apagando.Ao contrário do que as pessoas dizem quando sofrem a ação que as marcam: "Nunca mais esquecerei isto", sem querer ser contraditório, quero apenas afirmar que o caminho
para o perdão não se inicia no esquecer e sim no desprender-se,
há vários níveis de relacionamentos em que ocorre a prática do perdão: desde com nossos filhos, até com nossos cônjuges, amigos, chefes e mesmo com pessoas a quem, possivelmente, nunca mais veremos.
Mas como ocorre o desprendimento? Através da firme vontade de desligar-se do acontecimento e/ou da pessoa que provocou a "grande dor" ou a "grande decepção". Se o que nos propomos é nos desvencilharmos de um fato, então devemos começar por olhar quem o praticou como alguém que falhou, mas que merece respeito e consideração, já que errar é humano. Muitos erros são involuntários e ninguém acerta sempre.
O fato de arrepender-se é uma demosntração de reconhecimento do próprio erro e da vontade de querer evitar novos registros. Já presenciei e tenho certeza, muitos de vocês também, pessoas que, após terem cometido um erro, arrependeram-se e mudaram para melhor a sua conduta. Fato ocorrido entre casais, propriciou o
amadurecimento da relação e uma convivência muito mais saudável e feliz, mas também já vimos muitos casos em que as pessoas que sofrem uma afronta não mais conseguiram se desprender dela e assim traçaram o caminho da própria infelicidade.
O desprendimento é apenas um dos tantos componentes do perdão. É muito importante a aceitação de que incidentes acontecem. Não aceitar os fatos é aumentar as dificuldades para que possamos praticar um outro elemento do perdão: a compreensão.
Devemos partir do princípio que tanto sofremos decepções quanto decepcionamos, sofremos e provocamos dores e tristezas.
É importante que estejamos convictos de que somos "absolutamente capazes" do bom e do ruim.
A compreensão nos ensina a enxergar que aceitar não significa, de forma alguma, concordar.
Pessoas rompem relacionamentos e, magoadas, em vez de apenas sentir a dor do rompimento, levantar a cabeça e iniciar um novo ciclo em suas vidas, ficam remoendo o que aconteceu, sofrendo.
Não vislumbram qualquer possibilidade de reconciliação, mas vivem buscando informações a respeito do ex parceiro, incomodam-se se o vêem acompanhado, quando não recebem recados, telefonemas ou mensagens, dão um jeito de fazê-lo, só para marcar presença. Grandes tristezas, fortes estados de depressão, perda de interesse pelas atividades que desempenham ou até por pessoas que estão ao seu redor, são alguns dos preços que se pagam por não se
desprender do que já passou.
O perdão tem ainda uma outra característica sabida, mas de pouca importância atribuída: quando perdoamos alguém, somos nós os beneficiados, pois deixamos de carregar um peso enorme dentro de nós mesmos e nos abrimos para novas etapas. Perdoar o outro é, antes de mais nada, perdoar a si mesmo de suas imperfeições, fragilidades e até de ter, de certa forma, contribuído para o impasse ocorrido.
Perdoar o outro é a oportunidade de agradecer a Deus por poder superar mais um obstáculo que nos impedia de crescer e amadurecer.
Créditos a Paulo Antolini
Psicólogo/Psicoterapeuta.