ALIENAÇÃO OU VIDA?! (Reflexão)

Olha, vou lhes dizer: odeio política! Odeio! Não me perguntem se por condicionamento macabro do histórico do país nas décadas através das quais pude me entender como gente, por intuição, ou por índole...Mas a própria proximidade da época eleitoral tem o dom de me provocar repulsa! Há toda uma sensação de falta de autenticidade e de objetivos de fato sérios, realizáveis, naquela série infindável de rostos que desfilam no horário político, cada qual com um nome pior que o do outro - nem preciso citar aqui! - mas que sugerem, antes, repugnante deboche da cara do eleitor.

Deve ser por isso que jamais escrevi sobre política, por princípio e convicção, e jamais escreverei; ademais, por não deter a pretensão de entender do assunto. Este artigo, portanto, não é sobre política. Antes, reflexão...

Porque nestas épocas, involuntariamente, sempre emergem questionamentos existenciais particulares, bastante íntimos, individuais...Fico me perguntando se este meu sintoma de insistir e insistir em redigir poemas e textos de amor ou de cunho espiritualista, ou existencial, ou esportivo, ou qualquer outro que me ocorra cotidianamente, quando todo mundo está com a mente voltada para índices de ibope, candidaturas, maracutaias, jogadas eleitorais, futuro do país - com ou sem hipocrisia - e vai por aí afora  - se isto é indício de alienação, de fuga da detestável realidade política e social que o país vive (e, por conseguinte, a sociedade, na qual me incluo), ou, antes, veemente resistência, ou protesto de autenticidade, e de vontade de viver, com transparência e verdade acima de qualquer outra coisa ou onda passageira pela qual passemos, política, social, educacional, artística,"fashion", vai por aí...

Sabem por que menciono o "fashion"? Porque esta coisa de época eleitoral me lembra os rompantes da moda, transitória, descartável, fugaz...em muitos casos, frívola! Soa como se fosse assim: "Votem em fulano de tal", ou "Votem em mim! Farei isso ou aquilo; investirei nisso ou aquilo!...", como quem dita a moda do próximo verão que, na prática, no cotidiano, não muda nada, não oferece a menor garantia de pegar ou não pegar, dado o caráter despojado das gerações de hoje...

"O lilás é a tendência da estação!" - assim como "investir na educação é a solução para os problemas das desigualdades sociais do país!",  - e assim, do mesmo modo como, no fim das contas, o grosso da população se vira, e usa é o que lhe dá na telha, ou que caiba no seu gosto ou no seu orçamento, do"investir na educação no país" não observamos mais do que os alardeados "Criança Esperança" da Globo: fatos isolados, perdidos, de resultados imersos num oceano  (isto sim, observável de dia para dia de forma maciça, devastadora, inegável) crescente de violência, de desemprego e miséria nas grandes capitais, irradiando-se para o restante do Brasil com lamentáveis seqüelas ilustradas pelos dramas e conflitos envolvendo os 'sem terra' e 'sem teto', apenas para citar dois exemplos!

Não sei...Nesta época todo mundo se engalfinha num bate-boca interminável, e, segundo percebo, árido em termos de resultados, que sempre se repete como um eco, acerca de votar, não votar, anular, há fraude, não há fraude, é informação, é contra-informação, não há esperança, não podemos perder a esperança... E assim entra década e sai década, mas com quais mudanças de fato? Quais, mais marcantes?! O fim da ditadura? O implemento do pretenso regime democrático?! Mas que raio de regime democrático é este, que fracassa clamorosamente, e enxovalha a sua própria Constituição no assegurar aos cidadãos os seus direitos mais comezinhos, quais os de segurança, emprego, saúde e moradia; que não pune, e no qual os próprios representantes do povo - um terço do congresso sob suspeita, meus leitores, segundo as últimas notícias! - perpetuam contra o patrimônio público o talvez mais hediondo dos crimes sem punição justa, em CPIs infindáveis que, a menos que nos falhe o faro, desaguarão em mais algumas das milhares de pizzas constatadas nas últimas bolas da vez?!

Sei não...E eu fico aqui escrevendo sobre o amor, os valores do espírito, o futebol...

Acho que é mesmo a sede da vida através da autenticidade e da verdade de vivências...Talvez porque quando amamos, de fato pulsa o nosso coração somente em razão da existência do outro, do objeto do nosso amor - sem apelos, sem releituras, sem interpretações dúbias, sem "será que..."; ou porque quando a imensa nação rubro-negra, ou atleticana entra em histeria nas arquibancadas do Maracanã ou do Mineirão, o grito seja sincero, saia da garganta, em função de uma alegria e de um estado de euforia imediatos, palpáveis - que não dependem do cumprimento de promessas de melhoria da qualidade de vida que nunca se realizam... (e viva, então, os craques, que, de certa forma, fazem melhor a alegria do povo, pelo menos nos dias de jogos!) Ou talvez porque, quando nos referimos aos valores do espírito, paradoxalmente, pisamos em terreno mais sólido, já que referências como caráter, solidariedade, afeto, integridade,dignidade, a eternidade da vida - e, a partir dela, a perspectiva de recomeço e de renovação real - produzem uma melhoria efetiva do estado de ânimo, e de uma motivação a mais pelo cotidiano, mais eficientes que promessas que nunca são cumpridas, por serem eternamente dependentes da integridade de representantes da população que, estranhamente, não a representam...

Apenas de nós, meus amigos, depende sermos ou não afetuosos, amigos, cúmplices, plugados na divindade inerente em tudo e em todos e, a partir disso, mais autoconfiantes; mais confiantes em que tudo dará mesmo certo, no fim!...

Sei não...perdoem-me se lhes parece, esta poetisa e escritora, uma alienada das realidades aqui, neste recanto do Rio de Janeiro. Mas, por ora, prefiro ser verdadeira, autêntica - ser! Somente ser! Simplesmente isso!...

Não vejo, pois, e por enquanto, verdade ou autenticidade em política - odeio política! Amo a Poesia! Amo as dimensões maiores da Vida, que estão aí visíveis, de graça, dentro e fora de nós, à nossa disposição...

Relevem se lhes pareço simplória ou ingênua...

O meu sincero carinho a todos vocês!


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Christina Nunes
Enviado por Christina Nunes em 13/09/2006
Reeditado em 26/09/2006
Código do texto: T239621
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