A REVOLUÇÃO FRANCESA A MULHER E A BURCA

A Revolução Francesa tem seu início, com a queda da Bastilha no dia 14 Julho de 1789. A Revolução Francesa foi um importante marco na História Moderna de nossa civilização. Tinha como lema LIBERDADE, IGUALDADE, FRATERNIDADE.Significou o fim do sistema absolutista e dos privilégios da nobreza.

O povo ganhou mais autonomia e seus direitos sociais passaram a ser respeitados. A vida dos trabalhadores urbanos e rurais melhorou significativamente. Por outro lado, a Burguesia conduziu o processo de forma a garantir seu domínio social. As bases de uma sociedade burguesa e capitalista, foram estabelecidas durante a revolução.

Ontem, dia 13 de julho, véspera do Aniversário da Queda da Bastilha, a Assembléia Nacional Constituinte Francesa aprovou por 335 votos à favor e apenas um contra, a lei que proíbe o uso do niqap e da burca, véus e trages usados por mulheres mulçumanas. O texto, porém, ainda tem que passar pelo Senado e pela análise do Conselho de Estado.

Ao começar a estudar a respeito, cheguei a algumas conclusões:

a)    O Estado não deve se meter com a vestimenta ou expressão religiosa de ninguém.
b)    Proibir a burca e o niqab colocaria material nas mãos dos fundamentalistas islâmicos agravando ainda mais a situação que já é suficientemente tensa.
c)     A lei marginalizaria ainda mais a já sofrida população de imigrantes mulçumanos, em sua maior parte identificados com o fundamentalismo.
d)    A liberdade só é possível na convivência com as diferenças.

A França tem uma profunda história de Estado Laico e isto fez muito bem ao mundo. Em 1880, mais de um século atrás, o Estado retirou os crucifixos e símbolos religiosos dos tribunais, escolas e repartições públicas. O ensino religioso foi retirado do currículo escolar. Em 1905, a lei do Estado Laico rompeu unilateralmente a concordata entre a França e o Vaticano, confiscando os bens da Igreja e suprindo todas as subvenções. Desde então a França se manteve fiel à separação Estado-Igreja.

No ano passado, o presidente Nicolas Sarkozy fez um discurso contundente, com grande repercussão no mundo muçulmano, classificando a burca como “um sinal de servidão da mulher”. Sarkozy disse: “A burca não é um símbolo religioso, mas de subjugação das mulheres. E não será bem-vindo no território da República Francesa”. Jean-Marie Fardeau, diretor do escritório de Paris da Human Rights Watch, uma das mais respeitadas organizações internacionais de direitos humanos, rebateu dizendo que a eventual proibição era uma violação de direitos. Fardeau afirmou: “Proibir a burca não fará mais do que estigmatizar e marginalizar as mulheres que a utilizarem. A liberdade de expressar a religião e a liberdade de consciência são direitos fundamentais”. E acrescentou: “uma proibição que restrinja unicamente a expressão da religião muçulmana enviará um novo sinal a muitos muçulmanos franceses, o de que não são bem-vindos em seu próprio país”.

A França é o país europeu com o maior número de imigrantes muçulmanos, em torno de 5 milhões, consequência da colonização francesa em grande parte da África, da Índia e do Egito na era Napoleônica. Mas apenas 2 mil mulheres usam a burca ou o niqab. Ou seja, esta polêmica toda seria, num olhar simplista, por causa de uma minoria mesmo entre as mulheres islâmicas.

O que está em jogo, porém, é bem mais do que isso. Parece claro que o parlamento francês está dando um recado: se os imigrantes muçulmanos querem desfrutar das benesses do estado francês, precisam assumir os valores da república francesa, entre eles os princípios do Estado laico e da igualdade de direitos. Não basta estar na França, é preciso “ser” francês ou pelo menos desejar ser.

Mas o que é ser francês hoje em dia? Não acho que exista uma resposta simples para esta pergunta. Nem me parece que, no século 21, exista uma França que não seja multicultural. De qualquer modo estaria essa suposta “identidade francesa” tão ameaçada que seja preciso brandi-la numa guerra contra as burcas?
 
De certa forma, fica claro que no “Território da República Francesa”, existem os franceses mais franceses que os outros. E, pelo visto, os imigrantes e seus descendentes, mesmo nascidos na França, não se incluiriam nesta categoria dos bons franceses. Os fundamentalistas, especialmente seriam hóspedes não “bem-vindos”, que desrespeitariam a casa que os recebe.
 
Afinal que mulher emancipada aceitaria ver o mundo exterior por uma tela a vida toda? Mas, se fosse uma escolha, é o modo como determinada mulher escolheu viver sua fé, teria o Estado direito de proibi-la por considerar sua escolha indigna?
 
Parte-se sempre da certeza de que as mulheres islâmicas usam o véu integral porque não têm escolha, no entanto esta não é toda a verdade. Uma boa parte talvez não tenha mesmo. Em verdade existem aquelas que acham que esta é uma boa maneira de viver sua religião. Como o estado francês vai saber quais são obrigadas a usar o véu e quais escolheram usar o véu?
 
Caso seja aprovada a lei que proíbe o uso das burcas e niqabs, ela servira para marginalizar ainda mais as mulheres que usam véus integrais, seja por imposição dos pais ou maridos, seja por vontade própria. Na realidade esta proibição vai acirrar ainda mais o sentimento de rejeição vivido por parte dos imigrantes mulçumanos.
 
 
Acredito que o melhor caminho para manter vivos os ideais da Liberdade , Igualdade  e Fraternidade é sempre incluir e não excluir. Se fosse assegurada pelo parlamento francês a oportunidade para estas mulheres ampliarem seu acesso à democracia , elas se sentiriam parte e talvez um dia aquelas que não vestem as burcas e niqabs por vontade própria, conseguissem sentirem-se seguras e amparadas para tirar os véus por si mesmas.
A Síria proibiu  a burca no meio estudantil,com a desculpa de manter  um Estado Laico,autorizando  no entanto o niqabs ,Lembrando que a Síria vive uma ditadura sanguinaria.

                           
                            









Ruy Silva Barbosa
Enviado por Ruy Silva Barbosa em 22/07/2010
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