Fotos da advogada morta!
Ainda no campo das fotografias de mau gosto, eu já falei em outros textos das imagens da garota Eliza Samudio, que rola na internet a torto e a direito, revelando uma imagem dela, que no meu ponto de vista não pertence a mais ninguém; agora é a vez de fotos supostamente atribuídas a morte da advogada Mércia Nakashima, que segundo a polícia foi assassinada a mando do namorado, um ex-policial e também advogado!
O corpo da advogada foi encontrado numa lagoa da periferia da grande São Paulo muitos dias após sua morte e como se era de esperar, além de peritos da polícia, estavam lá os repórteres fotográficos que fazem a festa com este tipo de imagem, além de também os famosos curiosos desempregados, que correm para cenas de crimes para tumultuar o trabalho de quem vive daquilo e tirar fotos em seus celulares inúteis para mostrar aos amigos e publicar na internet.
Pois bem! Tais fotos foram parar em sites imundos do mundo virtual expondo o corpo em decomposição da advogada e criando uma série de especulações quanto ao estado encontrado do cadáver antes de ser posto no féretro. Nas fotos mostradas, ridiculamente, diga-se de passagem, o corpo da advogada apresenta uma incisão no abdômen, outra na altura do queixo e outras marcas. Quem tratou de divulgar especula se aquele corpo é mesmo da advogada e porque tais marcas estão nele!
Vamos ao que interessa! Se for ou não o corpo da Doutora Mércia, isso não me diz respeito, muito menos ao restante do Brasil; se as marcas produzidas naquele corpo foram ou não feitas para matar, isso somente a polícia civil deve elucidar. A sociedade não precisa saber como, quanto ou por que; se o povo tomou conhecimento de um crime e este foi de natureza mais pública do que os demais que ocorrem todos os instantes, cabe a ele pedir providências para sua elucidação e que o ou os culpados paguem pelos seus atos e ponto final!
Esta história de divulgar fotos, especular causa ou escrever asneira, me cheia a coisa de sádico desempregado; afinal de contas, para que alguém em sã consciência guardaria fotos de um corpo em estado de gigantismo, com vísceras expostas e cortes horrendos, se não for por pura sevícia, sadismo ou inumanidade?
Todos nós temos alguém que já amamos um dia que morreu; estas pessoas desocupadas também têm pessoas queridas que já morreram, porque não são exceções; portanto, porque eles não vão até o cemitério, abrem a cova de alguém conhecida e tira fotos de seu corpo putrefato para mostrar a família? Ah! Todos devem estar dizendo que eu sou dramático, mas não; devem ser os mesmos sentimentos inequívocos que os familiares da advogada estão sentindo neste momento quando abrem a porcaria da internet e se deparam com fotos dela no estado que já citei.
Uma boa sugestão para este tipo de gente é, por exemplo, pegar uma trouxa de roupa suja para lavar. Já dizia um grande amigo que ficou famoso: “quando a fama começava a subir a minha cabeça, ligeiramente eu apanhava uma cueca suja para lavar...” É o que falta na vida de muitos brasileiros; acham que de posse de algumas fotos inúteis podem ganhar fama na internet, esquecendo-se é claro, que suas vidas estão uma imundice, que muitas vezes seus filhos estão passando necessidade ou que seus pais precisam ir para a fila do SUS na hora do aperto; ninguém se lembra de citar uma benfeitoria ao coletivo ou de ajudar alguém a sorrir, mas as fotos imundas de toda natureza, estas todos se lembram de postá-las e uma multidão de acéfalos ignorantes que se preocupam em vê-las.
No texto sobre a Eliza Samudio que escrevi ainda hoje, citei que ninguém está nem lembrando que este ano há eleições; o menino de 16 anos que já vota, sequer sabe quem é José Serra, Marina Silva ou Dilma Rousseff; a garota de 16 anos, que já vota e faz amor na esquina, não sabe qual o nome do Ministro da Educação, muito menos o que ele faz da vida; a dona de casa que assiste a novela das oito babando no sofá não sabe assinar o nome direito, porque o marido machão a tranca dentro de casa para ter a comidinha (em todos os sentidos) quente; mas todos estes sabem bem quem é o goleiro Bruno e a garota Eliza Samudio; se vacilar estas pessoas sabem até a cor da calcinha que Eliza vestia no dia de seu desaparecimento...
No dia em que deixarmos de ser tão abelhudos e deixarmos a vida alheia para os “alheios”, quem sabe não saberemos cuidar melhor de nossas vidas?
Carlos Henrique Mascarenhas Pires
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