Português ou brasileiro? Eis a questão!

Apesar de termos em nossa historia as marcas de uma colonização que impôs a sua língua e sua cultura provocando um conflito sociocultural, não nos transformamos em escravos lingüísticos, pois acabamos por empregar características próprias a essa língua, conforme descreve Gladstone Chaves de Melo (1981):

"Os indivíduos falaram muito mal a nova língua, trazendo para ela os seus antigos hábitos de pronuncia, a sua maneira de construir a frase, ao mesmo passo que lhe simplificavam extremamente as flexões. Formou-se assim um dialeto crioulo de tipo Tupi".

Dessa forma, pressupondo que toda língua possui autonomia, complexidade, é dotada de certo dinamismo e está sujeita a transformações inevitáveis, o português do Brasil começa a ganhar formas e desenvolver sua maneira própria de expressão.

As diferenças ocorrentes na fala de brasileiros e portugueses são bastante amplas, linguisticamente temos modificações no léxico, na sintaxe, na fonética e na pragmática. As especificidades do Português brasileiro são notáveis, principalmente ao que diz respeito à fala, pois devido à normatização, a escrita torna-se mais rígida, o que faz com que haja certa similaridade na grafia nos países regidos pela língua portuguesa, como ressalva Eduardo Guimarães (2005):

"O português do Brasil vai, com o tempo, apresentar um conjunto de características não encontráveis, em geral, no português de Portugal, da mesma maneira que o português, em diversas outras regiões do mundo, terá características também específicas, em virtude das condições novas em que a língua passou a funcionar".

Assim, as características encontradas no português do Brasil, são únicas, uma vez que são reflexo da cultura, ideologia e história de seu povo. Com isso, o português brasileiro tem respaldo e autonomia, apesar de compartilhar da morfologia portuguesa e de ter um vocabulário ás vezes parecido com o da língua usada na “metrópole”, ele não perde sua complexidade e dinamismo, além do que, são muito mais pontos discrepantes do que semelhantes.

Uma breve análise das duas línguas já nos aponta estas diferenças, Marcos Bagno (2002) nos coloca que realmente há uma ilusão em dizer que cá e lá se fala uma mesma língua, como dito no trecho seguinte:

"Os usos que os brasileiros e os portugueses fazem de seus recursos sintáticos e lexicais são muito diferentes, bem como são diferentes as intenções que comandam esses usos. Também existem enormes diferenças no campo da prosódia, no ritmo da fala, na entonação dos enunciados, todo um conjunto de regras de uso dos recursos fônicos" (BAGNO, 2002, p. 171).

Com isso, mencionar a língua portuguesa como uma instancia única que não se transforma de acordo com seus diferentes usos é uma afirmação equivocada, pois as diferenças existentes entre as duas línguas vai muito além da morfologia ou do léxico e perpassa questões de estrutura apenas.

Assim, entrar nesse campo de discussão é ainda muito perigoso, uma vez que não temos uma definição concreta do que se fala em nosso país apesar dos diversos fatores que exprimem a nacionalidade de nossa língua. Essa via de mão dupla nos faz refletir e buscar respostas objetivas, o que não é possível por enquanto. Mas ter em mente que a língua constitui um aspecto intrinsecamente ligado ao seu povo e que confere a ele autonomia e representa sua identidade, se faz extremante necessário. É preciso considerar o português como a língua oficial do Brasil, mas é preciso também levar em conta que essa língua possui marcas nossas, que se fortaleceram e se fortalecem mais a cada dia, a brasilidade do português se fundi com a nossa vontade, com nossos desejos, com a nossa ânsia por uma nação livre de qualquer julgo.

Referências

BAGNO, Marcos. Português ou Brasileiro: um convite a pesquisa. 3. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2002.

GUIMARÃES, Eduardo. A língua portuguesa no Brasil. Cienc. Cult. vol.57 no.2 São Paulo,2005. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S0009-67252005 000200015&script=sci_arttext Acessado em 03 de março de 2009.

MELO Gladstone, Chaves de. Iniciação à filologia e à lingüística portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico. 1981. P. 89.

ORLANDI, Eni P. A língua Brasileira. Cienc. Cult. vol.57 no.2 São Paulo, 2005. http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid=S000967252005000200016&script=sci_ arttext Acessado em 28 de fevereiro de 2009.

Jean Ramalho; Marvia de Oliveira Costa - Graduandos do curso de Letras Vernáculas da Universidade do Estado da Bahia.

Jean Ramalho
Enviado por Jean Ramalho em 08/07/2010
Reeditado em 11/07/2010
Código do texto: T2366755
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