Pizzamba

A garantia de prosperidade, atrai naturalmente para a terra que emana leite e mel, grandes empreendedores. A invigilância, todavia, não impedirá que inescrupulosos pizzaiolos, sobrevestidos de ovelhas, urdam torpezas, desapossando-os de seus tão honrados bens.

Deixei de boiar na cristalina água para flutuar em plena terra, ao sair de um prazeroso mergulho, dado em uma excelente praia. O complemento de carícias produzidas pelas mansas e calmas semi-ondas, agora era feito pela sua colega brisa, que suavemente me abraçava. Alheio a todos os índices econômicos e, esquecido do “imbroglio” (maracutaia) político, no qual o Brasil tem se deitado eternamente, olhei para o jamais esquecível céu. Entardecia na agradável Maceió. Havia pura paz!

-- Gilberto Landim, tem pizza pra mim? É sua amiga, Otchuko.

-- Alô! Como andam as coisas ai em Brasília? – perguntei para esta importante palestrante.

-- Landim, aqui nesta cidade, só se fala em Pizzamba...

Anta Guaxinim sem conseguir conter-se, comemorava a absolvição de seu colega partidário, Jeca Cágado, do processo de cassação, espraiando-se em um alegre baloiço corporal, que ficou conhecido como o samba da pizza, ou melhor, Pizzamba.

Siegmund Freud, em sua obra, Psicopatologia da Vida Cotidiana, dentre um universo de situações, também trata dos momentos em que nós “comemos mosca”, (bobeamos) ao adquirirmos excesso de confiança naquilo que realizamos. Ou seja, há um exagero no modo de viver zen, onde a lei de Murphi é desprezada, prevalecendo a filosofia do super-homem, de Friedrich Nietzsche, onde a invulnerabilidade converte-se no cetro dos seus íntimos.

O princípio é: eu sou mor, aliás, “morzaço”. Quem terá o açodamento de contestar o que sempre acertadamente faço? “To” cansado de nunca errar! Comerei tantas pizzas quanto desejar. Alguma objeção?

A pizzambista, além de usar a tiara da retidão, serve-se dos recursos da homologia (repetição de palavras) e nega peremptória e veementemente quaisquer provas condenatórias, apressando-se em colocar o ônus da culpa no colo de seus algozes. Ao imaginar ter vendido a imagem de alguém superno, conclui triunfante ter mascarado a verdade.

A minoria, voltada para a inteireza de caráter, não cessará em buscar evidências para produzir o desmoronamento dos autores da vileza, emitindo o atestado de óbito para suas enormes e irreparáveis maldades, não tardando em enquadrá-los na lei.

A Palestrante Otchuko, continuou a ligação e contou que durante o ensino fundamental, fez uma redação para o colégio sobre um galo que incomodava a vizinhança e apareceu um negociador oferecendo-lhe paçoquinha em troca de uma mudança no seu horário de cantar, para não incomodar os moradores da área. O estabelecimento de ensino não concordou com a narração onde era proposto um entendimento. A direção, modificou o texto, decretando a morte do lindo galo, jogando por terra, sua primeira contribuição, embora modesta, voltada para a pacificação. Assim, ainda criança, a Palestrante Otchuko, começou a ter contato com a falta de respeito neste país de cada vez mais rara ética.

No ensino médio, a bela jovem, escreveu uma história sobre preferências onde falava de Tarantela ou Samba. Abrangia "bipolarmente" comportamentos do ser humano, permitindo e incentivando as pessoas a respeitar a opinião do próximo, ainda que verticalmente contrária ao seu modo de pensar. Embora considere uma matéria bem interessante, a nota que obtivera fora tão decepcionante, que optara por exumar da memória.

Otchuko, fez uma monografia contendo mais de 100 páginas, tratou de Ética Empresarial. Ganhou o único dez da turma. A ética será sempre indissolúvel em seu viver. Venceu sua primeira batalha, graduando-se envolvida em um clima de verdade, que norteará seu pensamento como sempre quis. Agora, a corajosa palestrante, anseia que todo o país proceda de igual modo.

-- Otchuko. Voltando à pizzaria, o que você acha dessa música? – perguntei.

Pizzamba

Anta Guaxinim,

Comemora a pizza;

Com calabresa “linguizza”,

Foi feita pra mim!

O corpo baloiçando,

Gostosa “preguizza”!

É hora de pizza,

Alegra-se sambando!

É o fim da demanda,

Absolvido o companheiro;

Acabou o desespero,

Naquela Pizzamba.

E o resultado, caramba!

Comemora com pizza,

Disfarça comendo salsicha,

Deleita-se na Pizzamba!

Abalada na ética,

Encontra-se bamba;

Move-se patética,

Termina a Pizzamba.

-- Nosso Senhor! Você ta virando um pizzaiolo. Nada mal! – apiedou-se de mim, Otchuko.

A sedutora mentira, camufla-se de verdade, seduzindo os imprudentes para o esperado naufrágio e tratando-os na escama, tenta legitimar a fraude, numa infernal tergiversação.

Por mais peçonhento que aparente o casamento da cobra com o peixe boi, não deve estupidificar o povo brasileiro, tão acostumado com os mais variados tipos de pizza. Afinal, embora o submarino possa boiar, foi feito para afundar.

Conta-se que certa mulher, proprietária de uma modesta empresa de manutenção de computadores, recebeu a visita de alguém pedindo para consertar um micro, com uma condição: colocar um valor a maior na nota fiscal. Ela respondeu dizendo que estava precisando demais fazer aquele trabalho, mas não podia concordar com o método.

Perguntada pelo homem porque não estava de acordo em superfaturar o serviço, disse:

-- Não posso fazer, porque não é ético.

-- A senhora acaba de ganhar a manutenção de todos os computadores de minha firma. Sou dono de uma importante indústria e antes de chegar até sua companhia, visitei várias e todas toparam minha indecorosa proposta.

-- Otchuko. Agradeço por ter me acordado do sonho que tive com a praia de Maceió. Sua ligação me rendeu um artigo. Queria escrever mesmo um que terminasse em pizza. A dança de Anta Guaxinim, sonoriza a matéria, que por conseqüência, recebe o título de Pizzamba.

Gilberto Landim
Enviado por Gilberto Landim em 09/09/2006
Código do texto: T236335