O sonho terminou

O SONHO TERMINOU

O engodo no Brasil é um fato sistêmico. As elites gostam de enganar e o povão aprecia uma pândega. Vá o país bem ou mal, sempre tem um circo para distrair e anestesiar o povo. Passamos 2010, das férias para o carnaval, dali para a Copa e agora para as eleições. Quando nos dermos conta já estamos no fim do ano, se trabalhou pouco, se frequentou pouco às aulas, os professores fingiram que ensinaram, a galera fingiu que aprendeu, a produção foi limitada e o país não deslanchou.

Essa lúdica, mais do que sistêmica, é endêmica. Faz parte do nosso ser-Brasil, vem das origens indígenas, africanas e lusitanas. O povo, induzido pela mídia que fatura alto, adora um festerê, feriadões, meio-expediente, meia-boca e bundalelê. Isto sem contar com as greves. Sim, ninguém é bobo de fazer greve em feriadão.

Enquanto a nação espera o deslanche da produção mercantil, muita gente está louca para botar a boca na vuvuzela ou pegar na jabulani. Eu endosso certas teorias maníaco-obscenas, se é que existem, que não tem nada a ver seleção com pátria. Aquela história da “pátria de chuteiras” é um dos tantos desvarios de Nelson Rodrigues. A Pátria é uma coisa, distraída e subtraída, a Seleção é outra, patrocinada por interesses duvidosos, composta por incompetentes e formada por jogadores mercenários, com gestuais estudados, como choro, beijo no escudo da camisa e mãos na cabeça, em sinal de indignação pelo gol, perdido ou tomado. O Elano, por exemplo, não estava machucado, como disseram> na verdade ele “pipocou”.

No fundo, no fundo mesmo eles estão é preocupados com os salários estratosféricos, com seus carros e camionetas (como boleiro gosta de camionete!) e com suas “maria chuteiras” que ficam soltas por aí: na verdade, e em geral, elas são nota dez em plástica, quatro em cultura e dois em moral.

Eu fico indignado ao ver o povo simples, que se preparou para a Copa, comprou televisão nova, chapéus e fantasias ridículas, faltou ao trabalho, bebeu todas, e chorou diante do fracasso dos incompetentes, que não estão nem aí para a dor da escumalha. As redes de tevê, recheadas de oportunistas e incompetentes, faz da Copa um balcão de negócios, sob a égide espúria da CBF.

Depois do rescaldo da Copa vem a baixaria passional da eleição, e aí terminou o ano. Novo circo será armado só daqui a quatro anos. Lamentavelmente!

Enquanto isto, Canoas, RS, cidade onde resido, ninguém explicou a despesa de R$ 1,7 milhão com a decoração de Natal, feita com garrafas pet.