O sofrimento

SOFRIMENTO

A sociedade dita moderna quer, a todo custo, e o custo é muito alto, negar a existência e, por conseqüência, a ineficácia de Deus. A interpretação errônea do “penso, logo existo” e do “conhece-te a ti mesmo”, que desaguou no mar da incontinência e da aberração dos costumes, saudadas e assistidas pelo cálice traiçoeiro do egoísmo e suculento do hedonismo, não pode admitir um fator, inevitavelmente, presente e constante na vida humana: o sofrimento.

Nega-se a existência de Deus, entre outras justificativas, por não ser admissível um Deus que permita o sofrimento. Outros acreditam, até, que Deus é bom, mas perdeu o controle da situação do mundo, o que seria uma irracionalidade por delimitar o poder divino, igualando-o ao humano.

Em cada recanto do nosso País, a cada dia, são estampadas pela mídia horrores protagonizados, não por animais, mas por seres humanos nos limites da degradação da liberdade da razão. Tem-se a impressão de que tal caso extrapola toda a capacidade bestial do homem e, em seguida, surge outra notícia a nos quedar, boquiabertos, mais consternados, desesperados e impotentes, dia após dia. E, aí, a luz vermelha deve ser acesa, prá nos fazer ver que é preciso sair da impassibilidade, mover do trono os traseiros irresponsáveis e agir sob a flâmula da responsabilidade que de há muito tremula, inutilmente, aos olhos da nossa gelada e congelada consciência:

“A dor é um sinal de alerta!”

Não é preciso ser um sociólogo, um psicólogo ou um cientista para interpretar esse grito que clama por resposta, para uma sociedade toda retalhada pelo sofrimento; não é possível fazer de conta que não estamos vendo a deterioração da moral e dos bons costumes, da substituição da liberdade – fazer o que é certo, o que é digno – pela libertinagem e pela vulgaridade; não é possível, enfim, se fazer de idiota e não ver que o único jeito é recolocar a família no lugar que lhe foi tomado pela irreverência do capitalismo selvagem, pela sandice e pela irresponsabilidade pública de um estado que faz alarde com 55 milhões de preservativos destinados à orgia desenfreada de carnavalescos que bem podem arcar com tal custo, enquanto faltam leitos e estruturas de atendimento à saúde, aí incluída a injusta e irônica remuneração dos profissionais que nela atuam e que sofrem na pele e no espírito, literalmente, o que os dirigentes do País deveriam assumir.

Quanta pobreza d’alma! E a sociedade embevecida com o odor fétido da podridão da luxúria, da promiscuidade, da desestruturação total da família, da quebra incontrolável da ética e de qualquer princípio moral, do descaso com a responsabilidade humana de cada cidadão e da vanglória daqueles que fingem se realizarem com o liberalismo dos vícios e da incontinência.

Enquanto isto, pais se perguntam onde vai parar esse País, esquecendo-se de que os valores básicos da família, com a presença atuante deles, por palavras e por atitudes são a fórmula mais simples e eficaz de contenção ou redução dos traumas. Que o sofrimento advindo da renúncia pessoal na vida a dois, pela felicidade do outro, é o único e benfazejo meio de se realizarem como homem e mulher e de, juntos, adquirirem a maturidade capaz de consolidar a família e darem segurança aos filhos para prosseguirem na maravilhosa, embora, difícil estrada da vida como cidadãos responsáveis e dignos.

O analfabetismo, como uma erva daninha, amplia seus tentáculos por todo lado, sob a forma da desistência escolar ou mesmo da não matrícula e, mais tristemente ainda, numa qualidade de ensino inabilitada e inócua, corrigida e suprida, constante e heroicamente, por profissionais administrativos e docentes que dos parcos e vergonhosos salários destinam, ainda, alguns trocados na aquisição de merenda, papel e outros materiais que o estado faz de conta que não pode e, cruelmente, não fornece.

E a moradia? Vi na imprensa que o Estado do Rio destinou 14 milhões para atendimento das pessoas das áreas atingidas pelas tragédias com as chuvas deste ano. Vi, também, que estariam destinados, outrossim, 16 ou 17 milhões para construção de uma torre, um monumento ao Arquiteto Niemayer.

Alguém gritou, questionou, esperneou?

Sem comentários!

E a segurança?

Armas, caveirões blindados, frotas e mais frotas de carros, armas mais modernas – armas e contraceptivos interessam à economia de qual país? – mais soldados nas ruas, mais presídios – de “segurança máxima”, com celulares, visitas íntimas, regime “semi-aberto”- e a violência crescendo, crescendo, crescendo...

Reflita, reflita, reflita e, depois, comente com outros sobre isto, porque já não é possível dizer que isso tudo não lhe diz respeito posto que, a qualquer momento, você ou alguém de sua família ou de suas relações pode ser atingido pelo furacão da violência!

A minha fé me convence de que o sofrimento é oportunidade de demonstrar nossa certeza no poder de Deus e glorificá-lo, já que Ele tem razões para permitir nosso sofrimento e “não nos falta com a sua graça”. Dá-me sustento nessa fé, a constatação do sofrimento dos pequeninos e indefesos irmãos nossos, aqueles sem vez e sem voz, objeto dessa irresponsabilidade do Estado e de cada um de nós, cidadãos hipócritas que alçamos e mantemos no poder gente suja e desumana para cuidar do interesse dos humanos pobres. Dá-me sustento, pois, ver a galhardia, a paciência e a resignação desses heróis anônimos que passam por verdadeiras torturas físicas e morais mantendo-se firmes na fé, bendizendo a Deus e aguardando o dia da justiça.

Da justiça divina, é claro!

E, você, duvida ainda de onde lhes vem esse conforto?

O Diretor do projeto Genoma, Dr. Francis Collins, ateu, passou a acreditar em Deus a partir da experiência e da observação séria do comportamento de gente simples, internada em hospitais, em estado crítico, com todo sofrimento e carências materiais e humanas, e, galhardamente, louvando a Deus.

Duvida? Leia o livro de sua autoria A LINGUAGEM DE DEUS. É um cientista, e, antes disso, um ser humano dotado, portanto, de sensibilidade, de emoção, de coração!

Para mim, um cientista sem emoção é uma pintura sem expressão, é uma mensagem sem alma, é uma flecha sem alvo, é um cometa em dissolução!

Que o sofrimento continua sendo uma crua realidade do ser humano, não há como negar, nem impedir, totalmente. Mas que pode ser reduzido, lá isso pode!

Deus não poupou o seu próprio Filho, não por crueldade ou prazer, mas, simplesmente para poupar a humanidade do maior sofrimento possível ao ser humano: “A sua separação definitiva de Deus”

Isto não significa que você não vai cumprir o seu papel, de interferir positivamente na mudança desse quadro, deixando tudo por conta de Deus.

O Cristo não ensinou isto, pelo contrário, mostrou a verdadeira justiça, desafiou os corruptos e imorais, ainda que a custa da entrega da própria vida por causa disso, por sua e minha causa.

Que fazer? Não entrarei no mérito de sua crença ou descrença em Deus, já que somos livres para isto. Só não somos livres e não temos o direito é de ignorar o DEVER moral de cuidar da defesa da vida. Comece a atuar como ser humano responsável na sua casa, com seus familiares, seus colegas de trabalho, seus amigos. Tenha coragem de contestar opiniões que firam a moral e os bons costumes vivendo, é claro, de acordo com a ética e a moral. Seja “presença em sua família e esclareça aos seus sobre o que está, realmente, acontecendo e não o que interesses escusos estão impondo como definitivo e certo em termos de costumes e práticas. Acostume-se a filtrar o que ouve ou vê, com a prudência das “peneiras de Hiram”, antes de emitir aplausos a comportamentos imorais ou de atirar pérolas no lamaçal do chiqueiro, nosso profundo e asqueroso chiqueiro social.

Coloque-se em defesa da vida onde, como e quando ela seja ameaçada. Não se omita em contrapor opiniões, só porque emitidas por algum(a) “doutor(a)” ou “coronel” ou algum poderoso. Se você é Cristão, ajude a enxugar as lágrimas de Cristo onde quer que Ele chore!

Se não é, acha que é justo o choro e o clamor dos inocentes?

Mas, acima de qualquer coisa, opinião ou paixão, religião ou filosofia, pare um pouco e reflita no que está acontecendo!

Se você é felizardo em não estar sofrendo, preocupe-se com quem está atormentado ou dilacerado pela impotência ante o descaso, a violência e a crueldade e ajude, sabedor de que, infelizmente e fatalmente, estamos na lista negra e fazemos parte dessa maldita e descontrolada roleta russa na qual se transformou nossa “moderna” sociedade.

E que Deus nos proteja a todos!

Autor: João Batista Gomes Maia - Junho/2010