A superação do impasse ecológico
Acreditamos que hoje já há uma razoável quantidade de pessoas que tem consciência da dimensão da gravidade dos desequilíbrios ecológicos que a ação dos homens vêm provocando no planeta.
Tudo começou com um livro publicado em 1962, chamado “A primavera silenciosa” de Rachel Carson, que estudava, pela primeira vez o efeito do uso do DDT sobre a natureza, alcançando um impacto assustador sobre a sociedade.Somente uma mulher poderia ter sensibilidade suficiente ‘aquela época para intuir o desastre que se avizinhava, e ela sustentou um valente debate, tendo sido até acusada de insanidade pela indústria química.
Não é mais necessário descrever os problemas. Mas é necessário relembrar que a maioria deles é provocada pela atividade industrial, e que a legislação existente ainda não atentou para o fato de que a ação desenfreada da livre empresa, uma atividade social, que gera empregos e impostos, é que a principal vilã da história, e o que é pior, os lucros dessa atividade são embolsados por poucos enquanto os custos de uma futura operação limpeza da Terra serão, é claro socializados. Nós é que pagaremos a conta.
Há alguns anos, o presidente dos Estados Unidos se recusou a endossar o Protocolo de Kioto, alegando que tal compromisso, a primeira pálida tentativa internacional de ação positiva em favor do meio ambiente, seria prejudicial ‘a economia americana. É mais do que compreensível tal atitude, pois ele é, aparentemente, um defensor ferrenho dos interesses das indústrias do petróleo. Está, presentemente, empenhado numa verdadeira cruzada que tem como um dos objetivos garantir as suas reservas futuras de petróleo.
Mas a natureza deu o troco. A temporada de furacões, no ano passado fez estragos, e a sua violência crescente acabou por abrir os canais de sensibilidade daqueles sagazes empresários. O furacão Katarina arrasou a sul americano, acenando com a possibilidade de que isso também não é bom para a economia americana. Agora devem estar repensando. Houve discursos, onde se declararam “viciados em petróleo”. Grande novidade. São viciados em armamentos também!
Já há hoje um razoável consenso na comunidade científica independente de que as medidas saneadoras devem ser globais, e não consistem em um retorno romântico ao passado. As soluções dependem de maior conhecimento e do uso de tecnologias adequadas.
Mas o grande impasse continua sendo a estrutura produtiva da sociedade. Torna-se, cada vez mais necessário que a produção seja organizada para satisfazer ‘as reais necessidades sociais, no lugar de continuar sendo planejada individualmente pelas empresas de forma a maximizar os seus lucros. E a perpetuação do impasse ecológico vem sendo alimentado pela livre empresa, que deveria ser induzida ‘a adoção de políticas socialmente positivas mediante uma legislação internacional que ainda não existe.
Oxalá ainda haja tempo.