DEIXE-ME DESCANSAR EM PAZ!

Muitas pessoas morrem e levam junto consigo a sua própria história. História ignorada por todo mundo.

São histórias emocionantes ou não, histórias alegres ou tristes, histórias bonitas ou feias, mas histórias interessantes que poderiam ser narradas, conhecidas e apreciadas por várias pessoas. É lamentável, entretanto muito pior é quando, por não gostarem de nós ou por desconhecerem a nossa verdadeira história, inventam outras ao nosso respeito. E obviamente essa atitude é quase sempre mal-intencionada.

Temo que isso um dia venha ocorrer comigo. Sei que sou uma pessoa insignificante, sem nenhum episódio relevante na minha existência, no entanto depois de falecido não quero ter a minha história recriada, modificada... Se ninguém a conhece, ninguém invente nada, por favor! Deixe-me descansar em paz.

Passei a vida levando “rasteiras” e isso, tenho certeza, ninguém sabe. Levei “rasteiras” o tempo inteiro; parecia uma maldição! Era na vida familiar, na vida sentimental, na vida estudantil, na vida profissional e sem me desesperar, procurando sempre me defender como podia. Fui também muito incompreendido e injustiçado, vítima de grande falsidade. Só Deus sabe!

Cheguei a achar ser tudo aquilo uma infeliz coincidência em meu viver; em seguida passei a achar que poderia ser eu o próprio culpado. Incriminei-me por longo tempo até perceber, um dia, a minha inocência. Concluí, após meditar bastante, que eu era apenas uma vítima. Vítima do destino. Sim, é isso mesmo, coisa que jamais acreditava e sei que a maioria das pessoas não acredita. Justamente por isso eu não ousava comentar nada com ninguém (só agora estou fazendo) e, portanto, todos ignoram a minha sofrida história. Existe até quem crer que o destino somos nós que o fazemos. Ah, se fosse verdade! O que nunca me faltou foi disposição para tentar mudar, refazer... Deus é testemunha disso. Pena que somente Ele conhece a minha luta, a minha vida. Ninguém mais.

Tenho ainda uma vida solitária. Grande parte da minha existência (de 1990 para cá) tenho vivido sozinho e sei que isso contribui da mesma forma para o desconhecimento dos meus problemas por parte de outras pessoas.

Finalizo repetindo: passei a vida inteira levando “rasteiras”. Só espero que após a minha morte - que neste momento está mais ou menos próxima - não levar mais alguma. Chega! A mentira sobre a vida de quem já não está presente é uma “rasteira” terrível! A pior, talvez. Prefiro ser sepultado com a minha história simples e triste a ser relembrado de forma falsa. Prefiro mesmo continuar desconhecido. Aliás, ser desconhecido é mais honroso do quer ser difamado. Ou não é?

Everton Cerqueira

18/06/2010