Sou um professor
Eu sou um professor. Nasci no primeiro momento em que uma pergunta saltou da boca de uma criança. Tenho sido muitas pessoas em muitos lugares. Sou Sócrates, estimulando a juventude de Atenas para descobrir novas idéias usando perguntas. Sou Anne Sullivan, tamborilando os segredos do universo sobre a mão estendida de Helen Kaller. Sou Esopo e Hans Christian Andersen, revelando a verdade por meio de muitas, muitas estórias. Os nomes daqueles que exerceram minha profissão constituem uma galeria da fama da humanidade: Buda, Confúcio, Montessori, Jesus... Eu sou também aqueles nomes e rostos que já foram esquecidos, mas cujas lições e cujo caráter serão para sempre lembrados nas realizações dos que educaram.
Já chorei de alegria em casamentos de ex-alunos, ri de felicidade pelo nascimento de seus filhos e me quedei de cabeça baixa, em dor e confusão, junto a sepulturas cavadas cedo demais para corpos jovens demais. No decorrer de um dia já fui chamado para ser artista, amigo, enfermeiro, médico, treinador; tive de encontrar objetos perdidos, emprestar dinheiro; fui motorista de taxi, psicólogo, substituto de pai e mãe, vendedor, político e guardião da fé.
Apesar de mapas, gráficos, fórmulas, verbos, histórias e livros, na verdade não tive nada a ensinar aos meus alunos porque o que eles de fato de aprender é quem eles são. E eu sei que é preciso um mundo para ensinar a uma pessoa quem ela é. Eu sou um paradoxo. Quanto mais escuto, mais alta se faz ouvir minha voz. Quanto mais estou disposto a receber com simpatia o que vem de meus alunos, mais tenho para oferecer-lhes. Riqueza material não faz parte dos meus objetivos, mas eu sou caçador de tesouros, dedicando tempo integral à procura de novas oportunidades para meus alunos usarem seus talentos e buscando sempre descobrir seu potencial, às vezes enterrado sob o sentimento do fracasso. Sou o mais afortunado dos trabalhadores. Um médico pode trazer uma vida ao mundo num só momento mágico. A mim é dado cuidar que a vida renasça a cada dia com novas perguntas, melhores idéias e amizades mais sólidas. Um arquiteto sabe que, se construir com cuidado, sua estrutura pode durar séculos. Um professor sabe que, se construir com amor de verdade, sua obra com certeza durará para sempre. Sou um guerreiro que luta todos os dias contra a pressão de colegas, a negatividade, o medo, o conformismo, o preconceito, a ignorância e a apatia. Mas tenho grandes aliados: a inteligência, a curiosidade, o apoio dos pais, a individualidade, a criatividade, a fé, o amor e o risco. Todos vêm reforçar minha trincheira. E a quem devo agradecer pela vida maravilhosa que tenho senão a vocês, pais, que me honraram ao me confiar seus filhos, que são sua maior contribuição para a eternidade. E assim tenho um passado rico em recordações. Tenho um presente desafiador, cheio de aventuras e alegrias, porque me é dado passar todos os meus dias com o futuro. Sou um professor... e agradeço a Deus por isso, todos os dias.
No texto de John W. Schlatter, nossa homenagem aos mestres. Foi o que encontrei no Jornal Construir, dedicado à Educação (fone 0 xx 21 3087-3526, 3869-7836 ou educacaomoral@aol.com ou ainda na home-page www.educacaomoral.hpg.com.br