O MOSTEIRO DO CRUCIFICADO E O PENSAMENTO ORTODOXO
O MOSTEIRO DO CRUCIFICADO E O PENSAMENTO ORTODOXO.
Diz o dicionário que “Ortodoxia” é a doutrina considerada verdadeira (reta) e ainda a qualidade de ser “ortodoxo”.
Na sociedade em que vivemos todo mundo (quer dizer quase a maioria) defende “sua verdade” como sendo a mais verdadeira de todas e em se tratando de religião e especialmente de “igreja” – em geral, na maioria dos casos a igreja tal “é a verdadeira”. Fala-se de tudo, pensa-se de tudo e o verbete “ortodoxo” toma uma imagem de “radical”, “ultra-radical”, “extremista”, “ultra-direitista”, “reacionário” e por aí vai.
Dizer que somos ou pensamos em algo “ortodoxo” (infelizmente) é trazer para nós os rótulos acima citados.
Vamos, portanto, tomar por base de pensamento a idéia da “ortodoxia como doutrina reta”, isto é, mais pura, sem reformas.
Nosso mosteiro tem uma vida curta enquanto instituição formada, visto que aconteceu trazendo monges que já existiam em outras instituições congêneres. Mas, digamos, temos “bagagem”.
Há uma profunda crise de valores no campo da religião (refletindo a mesma crise na sociedade) que faz com que as coisas não sejam exatamente como deveriam ser – ou tenham realmente perdido o seu referencial.
Filho de peixe não é mais peixinho!
Nossa passagem pelo anglicanismo deixou absolutamente claro que a igreja que nos acolhia, embora anglicana de nome, pertencente à Comunhão Anglicana, de fato e direito, não era exatamente anglicana!
De tanto receber pessoas oriundas do pensamento e da teologia protestante (leia-se batista, presbiteriana, etc.) deixou de ser anglicana, perdeu sua origem. Assassinando o passado “anglo-católico” do anglicanismo, como se apenas houvesse uma ala – a ala protestante no mundo anglicano. Assim, não dava pra nós, mas dava pra eles... Mas, filho de peixe não é peixinho. E como eles mesmos disseram abertamente “somos crentes” (fim de papo!).
Nossa re-volta ao catolicismo romano encontrou uma igreja sem rosto. Tem de tudo no catolicismo romano, menos o “catolicismo integral”. Os próprios grupos católicos romanos (alas, correntes) chocam-se entre si – entre modernistas e tradicionalistas – cada qual dizendo que o seu grupo “detém a verdade” ou “está certo”.
Mesmo o atual Papa com uma manobra magistral de direito canônico, dividindo a igreja em dois ritos, ordinário e extraordinário, não conseguiu (ainda) colocar ordem na casa.
Para onde ir então?
Esse pensamento é o que todo mundo faz ou já fez na sua vida de cristão. “A quem iremos nós?” (João 6.68-69). A fé no mundo de hoje parece um supermercado! Tem “produto” pra todo gosto e todo bolso. Denominações surgem aos milhares a cada dia – cada qual oferecendo “o melhor” e há quem goste de tantas “novidades”.
Fica absolutamente difícil para qualquer cristão fazer uma escolha – não digo certa – ao menos sensata.
Entre “prós e contras” cada cristão procura “se encontrar” num determinado grupo (grupo de oração, grupo de espiritualidade, grupo de liturgia, grupo de estudos teológicos, etc.). Algumas “escolhas” são muito boas, até acertadas, mas outras são um verdadeiro desastre, até que a pessoa, cansada de peregrinar, abandona a fé cristã e vai para outros “pastos”. E Jesus completamente compadecido como nos diz o Evangelho continua tendo misericórdia desse povo que perambula “como ovelhas sem pastor”. (cf. MC. 6. 30-34).
Assim, como esse povo “como ovelhas sem pastor” colocamo-nos em oração, por um tempo longo, rezando (orando e vigiando) pedindo à Jesus que nos mostrasse o Caminho. Ele, nosso Pastor.
Felizmente, graças à Deus, apareceu para nós o caminho da “Ortodoxia católica e cristã” (sem qualquer trocadilho). Bastaria ser cristã, mas para que fique muito claro, coloquei o adjetivo católico.
Nosso mosteiro decidiu partir para a Ortodoxia por todo este cenário que explicamos até agora.
Evidente que alguém perguntará: “qual o ramo da ortodoxia, qual a jurisdição” (pois são tantas).
Nossa visão particular é optar por uma “Ortodoxia Apostólica”, isto é, por uma igreja canônica, séria, histórica etc. Erros? Todas podem cometer, umas mais outras menos. Mas, começaremos bem se ao menos tivermos a referência de uma igreja fundada e na tradição dos apóstolos. (Que não tenha se perdido nestes 2 mil anos).
Outros desdobramentos como “ecumenismo” e “relações ecumências” são matérias que não cabem aqui, agora.
E cá estamos! Monges católicos ortodoxos.
Embora o “proselitismo” seja algo que não me agrada, convém aos irmãos a reflexão de que “ortodoxo” (e ortodoxa) é a Igreja que se mantém “reta” em sua doutrina. Sem modismos, sem novidades, sem invenções. Apenas reta! (ortodoxa). Quanto à jurisdição (denominação) fica a cargo de cada um, deixando-se levar pelo Espírito Santo que intercede por nós com “gemidos inefáveis” (RM 8,26).
E assim como um verdadeiro “Peregrino Russo” (livro inspirador) vamos peregrinando nessa nossa vida terrena, rezando a oração do coração. Kyrie eléison (diversas vezes ao dia).
Abraços fraternos, Em Cristo.
Os monges do Mosteiro do Crucificado. (São Paulo)
Inverno/2010.
priorado@uol.com.br