Opinião: « MARIA »

Maria é a heroína do meu artigo de opinião de hoje. Com cerca de três quartos de século já vividos, muitos raios de sol, tempestades, decepções e alegrias lhe povoaram a existência. É aposentada e vive só mas não de forma isolada. De bom trato, sorriso pronto e gosto pelo convívio a sua alma não tange as guitarras tristes do fado e prefere o som dos tambores que irradiam optimismo e alegria. Lembrar-me dela, remete-me de imediato para um Poema que, há algum tempo, dediquei alegoricamente a Maria, o nome mais transversal ao género feminino português:

«Vinda de um Tempo / Sem voz e sem vida... / Submissa ao alimento / E a quem lhe dava guarida / Só, no pano bordado / E no beijo guardado... / Tudo pelos filhos / E pela fé no Senhor / A Maria de outrora / Vive o agora / Num presente melhor! / É mulher desafio / E não margem de rio / É água corrente! / É Ser decidido / Igual ao marido / Tem voz! É gente! / No quotidiano esperado / Onde o futuro acontece / Tem vida e não fado... / E bem o merece!».

Atenta ao que a rodeia, Maria soube da existência de uma Universidade Sénior, que entretanto surgira, pela primeira vez, na Região Autónoma da Madeira. Entusiasmada, foi ao encontro de informações precisas. Soube que a Universidade Sénior do Funchal, por iniciativa da Câmara Municipal e em parceria com a Universidade da Madeira, proporciona aos Menos Jovens a frequência de Cursos, desde 16 de Maio de 2007. Verificou ainda que tudo se iniciara com o I.º Curso livre de Iniciação em Estudos Sócio-Culturais «Portugal no Mundo», implementado entre 16 de Maio e 13 de Julho desse ano. Conheceu o respectivo Plano de Estudos, que proporcionava a aprendizagem das Línguas Inglesa e Italiana, e permitia, no âmbito da Formação ao Longo da Vida, a frequência de Seminários Temáticos, Conferências,Oficinas de Formação e Visitas de Estudo. Chegou à conversa com alguns desses primeiros alunos, que se mantêm firmes na frequência das aulas e de outras actividades, que vão da Hidroginástica aos Percursos Pedestres pela Ilha. Ficou a saber que também as Línguas Portuguesa e Francesa, o Estudo da História e Cultura Lusas, o aprofundamento de conhecimentos sobre a União Europeia, o Desenvolvimento Pessoal, Social e Regional, o Ordenamento do Território, a Comunicação e Markting e tantos outros Módulos têm sido ministrados, para gáudio da larga maioria dos alunos.

Maria granjeou facilmente simpatias, que só a estimularam a levar por diante e com determinação os seus desígnios: a Universidade Sénior do Funchal - garantiram-lhe - é inclusiva, a avaliação não é formal e destina-se a todos os Seniores que desejem aprofundar, actualizar e alargar os seus conhecimentos, independentemente das habilitações literárias. Pretende - reforçaram - ser um ponto de encontro para a cultura, aprendizagem e convívio, através da criação de actividades educacionais e de carácter pedagógico.

Dirigiu-se, portanto, à Divisão de Acção Social do Município funchalense e inscreveu-se. Quando o seu Curso começou lá estava, sorridente e pronta para nova aventura, negando a solidão e os lamentos, resusando-se a estagnar e a dar-se por vencida.

Continua a frequentar a Universidade Sénior do Funchal e é, hoje, uma acérrima defensora dos seus objectivos e um estímulo para os seus professores, que ministram as aulas em regime de voluntariado. Sente que a U.S.F. promove a criatividade e o empenho nas actividades culturais e sociais, estimulando a troca de conhecimentos inter-geracional, a partilha de ideias e a construção de projectos. Deste modo, Maria sente que se enriquece tanto pessoal como socialmente, já que contacta com a dinâmica local e mantém a teia de relações sociais na comunidade.

Graças à Aprendizagem ao Longo da Vida, Maria consciencializa-se, cada vez mais, das responsabilidades que tem face ao meio em que vive e colabora, de forma activa e de bom grado, nomeadamente nas actividades dos Pólos de Leitura, quando estes promovem Encontros de Gerações destinados a Escolas e Instituições de Solidariedade Social.

Maria constitui prova de que a qualidade de vida também se constrói e de que os valores cívicos, conducentes a uma Cidadania plena e responsável, podem trazer a cada um de nós uma parcela da Felicidade tão almejada!

ANTÓNIO CASTRO

Revista «Saber»

(Direitos Reservados)

(António Manuel Antunes de Castro)
Enviado por (António Manuel Antunes de Castro) em 16/06/2010
Código do texto: T2323722
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