Opinião: «O GRANDE DESAFIO»

Um dos maiores desafios que se coloca à Humanidade do século XXI é o de proteger a atmosfera para que a Terra continue habitável.

Graças à utilização de combustíveis fósseis e principalmente a uma ambição desmedida, expelem-se para a atmosfera gases com um potencial de aquecimento - ou efeito de estufa - que absorvem grande quantidade de calor, provocando o aumento da temperatura. Perante um cenário que pela sua gravidade não podemos ignorar, promovem-se debates e convenções, implementam-se protocolos e legislações nacionais, na tentativa de precaver o futuro. No entanto, é essencialmente no comportamento individual e na vontade informada de cada um que poderá residir o sucesso desta batalha contra as alterações climáticas. Ajudar o futuro passa por gestos tão simples quanto importantes: reduzir a utilização de papel, apagar uma luz acesa desnecessariamente, utilizar os transportes públicos, evitar a compra de alimentos embalados, produzir menos lixo (reutilizando produtos ou colocando-os nos locais adequados à sua reciclagem). Ou seja, as más práticas têm de mudar e a actividade humana precisa urgentemente de ser disciplinada.

Contudo, para o jornalista, ensaista e docente universitário Alan Weisman, as pessoas chegam a evitar informar-se sobre os efeitos do aquecimento global porque isso as assusta e deprime. Sob o lema «a vida é curta e o tempo escasseia», procuram tirar o máximo partido da sociedade de consumo que, apesar de tudo, lhes dá acesso ao conforto e divertimento. Daí, ter optado por desafiar a humanidade, através da publicação do livro «O Mundo sem Nós», a fórmula provocante encontrada para veicular a sua mensagem ambiental.

Não havendo já humanos na Terra, importa, para o autor, perceber de que forma evoluiria o Planeta e como recuperaria a Natureza dos maus tratos por nós infligidos. Tomando como exemplo a zona desmilitarizada entre as duas Coreias, mantida longe de influência humana desde 1953, o jornalista norte-americano apresenta-nos um paraíso de vida saudável, onde múltiplas espécies convivem. Defende que, sem nós, a repovoação das espécies paulatinamente se concretizaria, tanto em terra como no mar. Os vestígios da presença do Homem, esses, ir-se-iam apagando. As culturas agrícolas desapareceriam em um ou dois anos, os cães sobreviveriam com dificuldade, as baratas e os ratos seriam duas das grandes vítimas da nossa ausência: as primeiras não se conseguiriam, sem electricidade e aquecimento, adaptar aos locais mais frios; os segundos, sem o lixo por nós produzido, acabariam por morrer à míngua. A água, que mantém a vida no Planeta, passaria a destruidora de casas e cidades. Depois o fogo: bastaria a oxidação dos pára-raios para que um qualquer relâmpago encontrasse toneladas de folhas secas. Sem automóveis e fábricas, deixariam de ser depositados metais pesados e a atmosfera libertar-se-ia progressivamente do dióxido de carbono. Sem nós, conclui o autor, a Terra sobreviveria; sem ela, nós não conseguiríamos sequer existir. No entanto, é graças à acção do Homem que, em 2050, se prevê um aumento da temperatura média global de 2,5 graus centígrados, acompanhada pela redução da precipitação, subida do nível médio dos oceanos a um ritmo de cinco centímetros por década, aceleração da erosão costeira e aumento das tempestades, cheias e fenómenos climáticos extremos. Sendo nós a espécie que domina o Planeta, não podemos continuar a insistir no fim de ambos. Só atitudes novas permitirão a mudança. Apenas o despertar de consciências poderá preservar o futuro!

António Castro

In Revista «Saber»

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(António Manuel Antunes de Castro)
Enviado por (António Manuel Antunes de Castro) em 16/06/2010
Código do texto: T2323683
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