VISTO NEGADO

Imagine que você está no conforto de sua casa; uma mansão as margens do Lago Paranoá em Brasília, com sua família, alguns amigos e outros convidados; imagine que vocês estão fazendo uma reunião, e como sempre fazem, compraram comida e bebida para serem servidos a todos. Imagine também que seus filhos estão dormindo no quarto e que os empregados, que sempre estiveram com você, estão trabalhando para quer todos saiam pelo menos satisfeitos com aquela reunião.

Agora imagine que de repente entram pessoas estranhas porta adentro e sem pedir licença ou informação se instalam na casa do cachorro; isso mesmo, ois estranhos vão direto ao canil e lá permanecem naquela casinha de madeira velha que se encontra nos fundos de sua residência e que sequer faz parte do corpo físico de sua casa. Pessoas que ninguém sabe de onde vieram; ninguém suspeita quem de fato é; o que fizeram de suas vidas no passado e para concluir a situação desconfortável, elas sequer falam o mesmo idioma que você e seus amigos falam.

Agora para encerrar de vez com minha teoria, estas pessoas que invadiram sua casa, após estarem instaladas na casinha do cachorro e depois de terem chamado todos os seus parentes para dividirem a casinha do cachorro, lhe dirige o diálogo e diz que pode dispensar os empregados, porque eles farão o mesmo serviço e cobrará apenas algumas migalhas a título de pagamento. Neste momento você chama seu contador ou advogado para analisar a questão, os permite que fiquem e se instalem em sua casa ou chama a polícia?

Padre, pastor evangélico, delegado, juiz ou desempregado, quem disser que não ligaria para o número 190 está mentindo, pois instintivamente somos doutrinados para nos defender das ameaças reais e das possíveis ameaças; esta é a regra e dificilmente isso irá mudar antes do juízo final!

Mas e se aquelas pessoas forem sujeitos educados, de boa índole, trabalhadores, honestos e probos? Se fossem isso tudo dificilmente entrariam em sua casa as escondidas ou agindo daquela forma!

Se você ou eu, ou ambos, chamaríamos a polícia para prender quem quer que nos ameacem a paz, o sossego e a segurança de nosso lar, porque alguns povos não podem fazer o mesmo quando recebem estrangeiros ilegais? É justamente isso que faz a Austrália, os Estados Unidos da América, o Japão, o Canadá e grande parte dos Estados da Comunidade Européia. Quem pretende visitá-los e prova que é de fato uma visita cujo fim é o turismo ou negócios, não só entram como também são igualmente tratados como se fossem moradores destes lugares, às vezes são tratados até melhores do que os nativos!

Algumas nações conseguiram a duras penas organizar questões econômicas ao longo de séculos de pesados investimentos; muitas investiram muito tempo e dinheiro para que o avanço tecnológico e econômico refletisse diretamente na capacidade de bem estar de seu povo, e quando isso finalmente está em fase conclusiva, estas nações se vêem diante de um dilema, o de estarem ameaçadas por conta de pessoas desconhecidas e estas pessoas podem por um fim a todo este processo, caso pretendam não se adequarem aos padrões exigidos de permanência.

Ninguém em sã consciência irá querer mudar-se para o Gabão, Haiti, Sudão, Iraque, Afeganistão, Paraguai, dentre outras; pessoas estranhas também não invadiriam uma favela sem sistema de esgoto, água encanada, luz elétrica e empregos fáceis; mas todos os que não conseguiram sucesso na vida querem buscar uma oportunidade de melhoria pessoal nos países mais desenvolvidos, naqueles países onde o povo, em tese, vive melhor; e é aí que mora o perigo; o Governo protege o seu povo, aquele não deseja ser ameaçado, age de forma enérgica, dentro dos padrões Legais que eles programaram.

Eu e você, que tivemos o mínimo de acesso a cultura, educação e trabalho, podemos instalar câmeras de segurança ou mesmo podemos ligar para a polícia para que desempenhe seu papel de nos proteger; para que tenhamos garantido a inviolabilidade do lar!

Eu já visitei umas duas dúzias de países, desde o mais miserável até o mais pujante; em nenhum dos lugares onde visitei, fui tratado de modo rude ou desigual, isso porque sempre respeitei as regras do lugar visitado. Respeitar as Leis do lugar é o primeiro passo para uma convivência pacífica e de cordialidade bilateral. Enquanto muitos dizem que a Espanha é o carrasco da Europa, eu digo que por onde passei na Espanha, falei com policiais, comerciantes, trabalhadores e servidores públicos e nenhum deles sequer me olhou com desconfiança, mas isso porque eu estava lá como TURISTA de fato e não como imigrante disfarçado de turista.

Muitas pessoas são bem intencionadas e rumam até estes “paraísos” no intuito de conseguir uma condição mais agradável para suas vidas; outros são assassinos, assaltantes, estupradores, terroristas, falsários, dentre tantos, que se vêem acuados pela polícia e justiça de seus países e que enxergam em outras nações algo muito similar aos primeiros citados; o problema todo é saber quem é quem nesta sala mista!

O brasileiro pode entrar na maioria dos países do mundo sem a necessidade de visto e mesmo alguns que exigem previamente, caso específico do Marrocos, eu consegui obtê-lo na fronteira marítima entre a Europa e a África sem o menor problema; já países mais controlados como os Estados Unidos, exigem uma série de critérios antecipadamente a obtenção, ou não, do visto de permissão de entrada.

Se o indivíduo quer viajar para outro país, primeiro ele precisa responder para si próprio se pode pagar pelas suas despesas e resolver alguns problemas de viagem, caso eles ocorram; depois ele deve analisar quais são os critérios adotados pelo programa de imigração do país que pretende visitar, para observar se ele está encaixado; por último, organizar no mínimo um programa (roteiro) de viagem com reservas e informações que facilitarão sua vida no ato de permanência; depois ele deve pesquisar se não há impedimentos legais para sua saída de seu país; somente depois de tudo analisado e respondido criteriosamente é que ele deve efetivar a concretização de seu sonho.

Algumas pessoas dizem que os estadunidenses são grossos e frios quando o tema é “imigração”, mas vamos voltar um pouco à questão de análise fria das condições de viagem de um turista; você consegue o visto “americano” e ao chegar lá, sem sabem inglês, nem possuir um cartão de crédito com bom limite, aluga um veículo e colide contra a loja de alguém; desta colisão lhe chega a conta do prejuízo ao patrimônio público e do patrimônio privado, que é a loja, o carro e tudo mais que houver; digamos que esta conta seja de U$ 30.000,00, quem é que vai pagar a conta?

Se fosse no Brasil provavelmente ninguém pagaria absolutamente nada; o comerciante arcaria com o prejuízo, a locadora cobraria do seguro, se houvesse contratação e o Estado, pobre mãe gentil, não cobraria nada, devido a subserviência histórica. Como “gringo” não é bobo e sabe muito bem o que passaram para conseguirem vencer e por ordem na casa, em muitos lugares tudo é cobrado de quem é culpado e ponto!

Outro ponto curioso que consegue transformar água em vinho é que o sujeito sai do país de origem, humilde e sereno, mas quando encontra o “eldorado”, parece que a grandeza do lugar e o dinheiro lhe sobem a cabeça e tudo muda. O consumismo passa a ter lugar privilegiado e muitos destes imigrantes partem para uma vida ainda mais marginal, traficando drogas, pessoas e influências nos focos mais vis da criminalidade local; esta também é uma das grandes preocupações dos Governos que controlam entradas em seus países!

O povo mexicano é um dos mais afáveis que eu já tive oportunidade de conhecer; eu também estive na Cidade do México, Cancun, Monterrey e Chiuhahua e fui conhecer a fronteira com os Estados Unidos da América; o que vi nos bares e boates mexicanos, além de tequila, taco e chili, foram pessoas e mais pessoas tramando como romper a fronteira longe dos olhos atentos dos Guardas de Fronteira. Muitos, como já disse, são trabalhadores em busca de vida menos degradante, mas boa parte é traficante de armas, drogas e pessoas, que cobram caro e aliciam menores de idade, transformando-os de crianças em criminosos.

Agora, voltando aquele tema lá no primeiro parágrafo, se por acaso um sujeito de destaque reconhecido em outro país lhe mandasse uma carta registrada dizendo-lhe que pretende visitá-lo em breve. Este sujeito também informa em sua missiva que durante o período de visita que ele pagará por todas as despesas contraídas e que seu nome constará num grande livro de referências notórias de bom acolhimento ao estrangeiro. Neste caso, após uma análise sucinta, você receberia esta pessoa em sua casa? – Alguns dirão que não, mas boa parte dirá que sim e é quase desta maneira que também age as nações!

Somente quem não consegue visto para visitar outras nações civilizadas são aqueles que não conseguem provar que reúnem condições de se manterem pelo período indicado; somente não conseguem o visto os que falsificam documentos e os que mentem diante de um formulário ou de um funcionário da embaixada ou consulado; com certeza há falhas, mas estas são humanas e de ambos os lados e não seremos nós os que devem questioná-las, afinal de contas, em nossa casa, apenas devem entrar os convidados; estranhos e suspeitos devem aguardar o atendimento na rua!

Dizem os mais sábios que o hábito do cachimbo deixa a boca torta; de todos os pontos que já conheci nas fronteiras terrestres do Brasil, em nenhum deles fui uma só vez fiscalizado; carros, motos e bicicletas cruzam livremente nossas fronteiras trazendo histórias, trabalhadores, turistas, drogas, armas e produtos falsificados e é baseado nisso, nesta baderna generalizada e descabida que ficamos acostumados a viver; talvez seja por isso que muitos brasileiros ficam esperando o mesmo de outros países.

Por menos romântico que eu seja, ao invés de criticá-los pelas políticas de imigração, deveríamos tentar nos colocar no lugar deles; como se fosse a nossa própria casa a supostamente ser invadida. Agora, depois de analisado friamente, alguns dos poucos motivos pelos quais os países dificultam tanto a entrada de qualquer pessoa para visitar seu solo, você ainda pensa que eles são grosseiros, tiranos e desumanos?

Carlos Henrique Mascarenhas Pires

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Enviado por CHaMP Brasil em 16/06/2010
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