O Adeus do Trema
"O texto que vocês verão mais abaixo eu achei numa revista feita por universitários e para universitários. (Serve pra quem não é também.) Essa revista é a Offline.
Segundo eles mesmos, a revista foi "lançada em março de 2008", e "é a maior publicação voltada para o público jovem universitário no Brasil, com 700 mil exemplares e distribuição nacional e concentração na região Sudeste, especialmente em São Paulo". O legal é que essa revista é colaborativa, ou seja, a maior parte das matérias são feitas por leitores. (Lógico que tem uns editores fixos pra organizar tudo) Ela é impressa e é distribuída em entradas de universidades, mas possui o conceito do Creative Commons, ou seja, inteiramente liberado para o uso de quem quiser sem ter que se preocupar com os direitos autorais - só não vale dizer que foi você que fez sendo que não fez.
Eu, que gostei demais de um dos textos, resolvi postá-lo aqui no meu blog. Primeiro, leiam o texto e, se houver interesse, o Twitter e o Hotmail do autor original eu vou deixar disponível no final do texto. Leiam e se deleitem com a inteligência clara de Lucas Nascimento da Silva."
Despedida do Trema
Estou indo embora. Não há mais lugar pra mim.
Eu sou o trema
Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos. Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos!
Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois-pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé. Até o Cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?
A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W. "Kkk" pra cá, "www" pra lá. Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que, aliás, deveria se chamar TÜITER.
Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo.
Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas.
E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar.
Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
Trema.
Fonte: http://observoeescrevo.blogspot.com/2010/05/despedida-do-trema-texto-de-lucasns.html
"O texto que vocês verão mais abaixo eu achei numa revista feita por universitários e para universitários. (Serve pra quem não é também.) Essa revista é a Offline.
Segundo eles mesmos, a revista foi "lançada em março de 2008", e "é a maior publicação voltada para o público jovem universitário no Brasil, com 700 mil exemplares e distribuição nacional e concentração na região Sudeste, especialmente em São Paulo". O legal é que essa revista é colaborativa, ou seja, a maior parte das matérias são feitas por leitores. (Lógico que tem uns editores fixos pra organizar tudo) Ela é impressa e é distribuída em entradas de universidades, mas possui o conceito do Creative Commons, ou seja, inteiramente liberado para o uso de quem quiser sem ter que se preocupar com os direitos autorais - só não vale dizer que foi você que fez sendo que não fez.
Eu, que gostei demais de um dos textos, resolvi postá-lo aqui no meu blog. Primeiro, leiam o texto e, se houver interesse, o Twitter e o Hotmail do autor original eu vou deixar disponível no final do texto. Leiam e se deleitem com a inteligência clara de Lucas Nascimento da Silva."
Despedida do Trema
Estou indo embora. Não há mais lugar pra mim.
Eu sou o trema
Você pode nunca ter reparado em mim, mas eu estava sempre ali, na Anhangüera, nos aqüíferos, nas lingüiças e seus trocadilhos por mais de quatrocentos e cinqüenta anos. Mas os tempos mudaram. Inventaram uma tal de reforma ortográfica e eu simplesmente tô fora. Fui expulso pra sempre do dicionário. Seus ingratos!
Isso é uma delinqüência de lingüistas grandiloqüentes!
O resto dos pontos e o alfabeto não me deram o menor apoio... A letra U se disse aliviada porque vou finalmente sair de cima dela. O dois-pontos disse que eu sou um preguiçoso que trabalha deitado enquanto ele fica em pé. Até o Cedilha foi a favor da minha expulsão, aquele C cagão que fica se passando por S e nunca tem coragem de iniciar uma palavra. E também aquele obeso do O e o anoréxico do I. Desesperado, tentei chamar o ponto final pra trabalharmos juntos, fazendo um bico de reticências, mas ele negou, sempre encerrando logo todas as discussões. Será que se deixar um topete moicano posso me passar por aspas?
A verdade é que estou fora de moda. Quem está na moda são os estrangeiros, é o K, o W. "Kkk" pra cá, "www" pra lá. Até o jogo da velha, que ninguém nunca ligou, virou celebridade nesse tal de Twitter, que, aliás, deveria se chamar TÜITER.
Chega de argüição, mas estejam certos, seus moderninhos: haverá conseqüências! Chega de piadinhas dizendo que estou "tremendo" de medo.
Tudo bem, vou-me embora da língua portuguesa. Foi bom enquanto durou. Vou para o alemão, lá eles adoram os tremas.
E um dia vocês sentirão saudades. E não vão agüentar.
Nos vemos nos livros antigos. Saio da língua para entrar na história.
Adeus,
Trema.
Fonte: http://observoeescrevo.blogspot.com/2010/05/despedida-do-trema-texto-de-lucasns.html